08 de maio de 2024
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Conselho de Ética

É pra Temer: Cunha e a Republica nas mãos da Tia Eron do PRB

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Tia Eron, 44, é uma deputada federal do PRB da Bahia que hoje continuaria solenemente ignorada pela opinião publica nacional, não fosse o cruzamento de circunstâncias que a lançou no meio do furacão instalado pela Operação Lava Jato. Seu voto no Conselho de Ética é decisivo no processo que julga o futuro político de Eduardo Cunha, que teve o mandato suspenso e foi afastado da presidência da Câmara por decisão do Supremo Tribunal Federal. Se no Conselho for aprovado o voto do relator, deputado Marcos Rogério (DEM), que pede a cassação de Cunha, o processo segue para ser votado no plenário da Câmara.

A pressão das ruas, que motivou a admissibilidade do pedido de impeachment da presidenta Dilma Roussef, está acuando o Congresso para que Cunha seja punido, embora ele disponha de trunfos e influência junto a um considerável número de parlamentares. Tia Eron – que votou pelo afastamento de Dilma – é evangélica e fiel ao seu líder religioso e padrinho político, o pastor da Igreja Universal do Reino de Deus, Marcos Pereira, presidente nacional do PRB e ministro da Indústria, Comércio e Serviços do governo de Michel Temer, Quem conhece a política baiana e de Brasília afirma: Tia Eron faz aquilo que Marcos Pereira determinar. Não por acaso, na véspera da sessão Pereira esteve com o ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, de quem recebeu a missão de convencer a deputada a salvar o mandato de Cunha.

Dito e feito. No dia da reunião do Conselho para votar o relatório ela se escondeu. Refugiou-se por cerca de quatro horas no gabinete da liderança do PRB para não comparecer à sessão do Conselho de Ética e, assim, evitar que fosse obrigada a dar o seu voto. Duas manobras para beneficiar Cunha foram fundamentais para que a votação do Conselho fechasse naquele dia. A primeira, foi a ausência de Tia Eron, cujo voto, uma incógnita, não dava conforto aos defensores de Cunha e nem aos que querem sua cassação. A oura manobra foi o pedido de vistas do voto em separado do deputado José Bacelar, também baiano e do PRB, que propôs pena mais branda para Cunha em lugar do afastamento definitivo. Quase todo mundo aposta que Tia Eron esteja propensa a livrar Cunha, de quem já se confessou simpatizante. Mas há quem afirme que ela ainda receie a reação popular.

OS 150 - Nesta terça-feira o Conselho de Ética da Câmara vai votar o relatório que pede a cassação do mandato de Cunha, baseado em documentos irrefutáveis na tipificação da quebra do decoro parlamentar por ter mentido ao colegiado sobre a movimentação de contas na Suíça abastecidas por dinheiro sujo de propina. Na capital federal, no entanto, até o mais desinformado dos mortais sabe que Cunha continua reinando, mesmo sem trono, e não medirá esforço e nem meios para se manter vivo politicamente. E essa expectativa é nutrida pelas contrapartidas, nem todas reveladas, entre ele e Temer, para que ambos tenham a sustentação e o fôlego necessário para continuar dando as cartas com a saída de Dilma.

A semana começa com os ecos assustadores da ameaça de Eduardo Cunha a Michel Temer, de que se for cassado levará ao túmulo político 150 deputados federais, alguns senadores e ministros. Isso pode significar para as instituições brasileiras um golpe tão ou mais profundo que o afastamento da presidenta Dilma Roussef (PT). Cunha, apeado da presidência da Câmara e o mandato suspenso, está prestes a ser cassado. Se esse fato acontecer e ele cumprir a ameaça, a Republica, a democracia e as instituições que as sustentam cairão num dos buracos mais fundos de sua história, um tombo com imprevisíveis consequências.

 Não é segredo para ninguém que Cunha tornou-se o mais poderoso dos parlamentares do Congresso Nacional. Mesmo afastado, controla uma legião de deputados a quem alimentou – segundo as denúncias - com variadas benesses, desde a ajuda financeira em campanhas eleitorais a favores mediados por sua influência, como a nomeação em cargos públicos ou o favorecimento em emendas parlamentares e transações milionárias. É um dos mais recheados arquivos vivos de fatos subterrâneos na vida publica brasileira, boa parte deles com seu protagonismo. Temer é hoje o presidente interino e pode ganhar em definitivo esse mandato, ascensão que, sem dúvida alguma, deve a Eduardo Cunha, o operador central do afastamento de Dilma.

IGNORADA – À exceção dos correligionários, militantes da causa antirracial e fiéis evangélicos que a acompanham, poucos souberam que a deputada Tia Eron esteve em Campo Grande recentemente. Foi na última semana de março passado, quando a parlamentar, na condição de coordenadora nacional do PRB Igualdade Racial, deu posse aos coordenadores locais do movimento: Lucilene Oliveira (Campo Grande), Edson Ferreira da Cruz (Ivinhema) e Marinete Pereira (Ribas do Rio Pardo).