26 de julho de 2024
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ELEIÇÕES 2022

Empresários deliram sobre golpe e falam em 'comprar votos' de seus funcionários

Série de reportagens do Metrópoles que começou hoje revela as conversas

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Um grupo de empresários apaixonados pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) delirou endossando um golpe de Estado e a implantação de uma ditadura militar no Brasil, caso Lula (PT) — o franco favorito pelos brasileiros — derrote o mandatário nas urnas em 2 de outubro. A reportagem é do Guilherme Amado, autor de uma coluna com seu nome no site Metrópoles.  

O nome do grupo: "Empresários e Política" — reúne algumas figuras radicais do alto escalão na extrema direita que se acham donos do país e, que até endossaram pagar um bônus para seus funcionários votar em Bolsonaro (veja abaixo)

A conversa ocorreu em 31 de julho e foi testemunhada pelo jornalista Guilherme Amado. “Prefiro golpe do que a volta do PT”, escreveu José Koury, dono do Barra World Shopping, no Rio de Janeiro, sendo apoiado por outros participantes. “Ninguém vai deixar de fazer negócios com o Brasil”, continuou.  “Fazem com várias ditaduras pelo mundo", completou.  

"O 7 de setembro está sendo programado para unir o povo e o Exército e ao mesmo tempo deixar claro de que lado o Exército está”, seguiu Marco Aurélio Raymundo, conhecido como Morongo e dono da rede de surfwear Mormaii.

Participaram das conversas desejando golpe, ainda, Luciano Hang, dono da Havan; Afrânio Barreira, do Grupo Coco Bambu; e José Isaac Peres, dono da gigante de shoppings Multiplan.

Mais à noite, no mesmo dia da mensagem pró-golpe de Koury, o empresário André Tissot, do Grupo Sierra, empresa gaúcha especializada na venda de móveis de luxo, defendeu que uma intervenção deveria ter ocorrido há mais tempo.

“O golpe teria que ter acontecido nos primeiros dias de governo. [Em] 2019 teríamos ganhado outros 10 anos a mais”, publicou.

Que bolsonaristas são amantes de ditaduras é novidade para "0" pessoas. O que o conteúdo de amado traz que vale destacar é que essas figuras querem usar de seu poder financeiro e até mesmo do Ato Cívico de 7 de Setembro para interceptar a provável derrota que terão nas urnas.

Entre os delírios, Hang diz que pretende ser presidente do Brasil em 12 anos, para substituir um governo anterior de "Tarcísio Freitas", o mesmo que não está reunindo votos nem para se tornar governador, até o momento — tem, os votos dos fanáticos de extrema-direita, que representa uma parcela mínima da sociedade.  

É tanta a loucura nas mensagens do grupo de velhos ricos que até mesmo entre si eles avaliam que estão cometendo crimes. Após um dos bolsonaristas sugerir que poderiam comprar os votos dos seus funcionários, houve defesa de 'cuidado' com a medida: “Alguém aqui no grupo deu uma ótima ideia, mas temos que ver se não é proibido. Dar um bônus em dinheiro ou um prêmio legal para todos os funcionários das nossas empresas”, disse Koury. “Acho que seria compra de votos… complicado”, completou Morongo. 

Esses velhos ricos agem de maneira sorrateira, obviamente, quando procurados para comentar as barbaridades ditas no grupo, todos eles se esquivaram:  

José Koury afirmou que não defende um golpe, mas em seguida confirmou que “talvez preferiria” a ruptura a uma volta do PT. “Vivemos numa democracia e posso manifestar minha opinião com toda liberdade. Não disse que defendo um golpe de Estado, e sim que talvez preferiria isso a uma volta do PT. Para mim, a volta do PT será um retrocesso enorme para a economia do país”, completou Koury que se beneficia do governo elitista de Jair Bolsonaro. 

Morongo, da Mormaii, que defendeu o uso político do desfile de 7 de Setembro para mostrar de que lado as Forças Armadas estão, afirmou que não apoiará qualquer “ato ilegítimo, ilegal ou violento”. “Sem acesso ao conteúdo ou à matéria que referes, informo que não apoiei, não apoio e não apoiarei qualquer ato ilegítimo, ilegal ou violento, e destaco que uso de figuras de linguagem que não representam a conotação sugerida”, respondeu.

Meyer Nigri, da Tecnisa, disse que pode “ter repassado algum WhatsApp” que recebeu. “Isso não significa que eu falei ou concorde”, afirmou. “Já estou deixando claro que não afirmei nada disso. Só repassei um WhatsApp que recebi”.

Afrânio Barreira, do Coco Bambu, afirmou desconhecer qual seria o teor do apoio ao golpe de Estado, expressa por ele com o envio de um gif com aplausos à ideia de ruptura apresentada por Koury. “Nunca me manifestei a favor de qualquer conduta que não seja institucional e democrática. Fico surpreso com a alegação de que eu seria um apoiador de qualquer tipo de rompimento com o processo democrático, pois isso não corresponde com o meu pensamento e posicionamento”, afirmou.

A assessoria de imprensa do grupo Multiplan enviou nota em que afirma que o empresário José Isaac Péres está viajando e, por essa razão, não responderia diretamente. “Ele (Peres) esclarece que sempre teve compromisso com a democracia, com a liberdade e com o desenvolvimento do país. Neste momento, ele está tratando de projeto empresarial no Rio Grande do Sul, onde a estimativa é de gerar investimentos de bilhões de reais e milhares de empregos”, afirmou o texto.

A assessoria de imprensa do Grupo Sierra informou que o empresário André Tissot também está viajando e, por essa razão, não responderia imediatamente.

Os empresários Carlos Molina, Ivan Wroble, Luciano Hang e Vitor Odisio não retornaram o contato da coluna.

Informado dos diálogos, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) que avalie a prisão dos empresários citados.