Uma das candidatas mais festejadas depois das eleições do ano passado em Mato Grosso do Sul, a jovem Camila Jara (PT) tem sido incensada por seu protagonismo como estreante na política. Vereadora eleita em 2020 e agora deputada federal já diplomada, a duas semanas da posse ela ainda não tinha encontrado qualquer incômodo capaz de lançar nuvens cinzentas na rota de desafios que se abre com o novo mandato.
O desconforto que pode constrangê-la ao desembarcar na Câmara dos Deputados é uma espécie de incoerência política na atitude que tomou, recusando-se a participar dos entendimentos de seu partido para garantir espaços na gestão do governador Eduardo Riedel (PSDB). Além de passar ao largo das negociações, Camila ainda deu forte e ampla divulgação ao seu gesto, alegando incompatibilidade ideológica com o governante tucano.
A deputada eleita estaria coberta de rezão e autoridade ideológica para fazer o que fez, se for considerado apenas os fatos que identificam ideologicamente a candidatura de Riedel: é do PSDB, sigla arquirrival do PT, tem ligações fortes com o agronegócio e fez campanha pela reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL). Entretanto, um outro fator não foi levado em conta por ela, que foi o desenho de apoios no segundo turno da sucessão estadual.
O governo foi disputado por dois bolsonaristas, situação que levou o PT a adotar uma posição surpreendente. Ficou com Riedel, que só se engajou na campanha de Bolsonaro no período eleitoral e não reverbera ops pensamentos mais tresloucados do ex-presidente, como fazer a apologia de medidas antidemocráticas e defender as teses mais reacionárias na pauta de costumes. Um perfil bem distinto e oposto ao do seu adversário, Capitão Contar (PRTB), que chegou a prometer, em tom de ameaça, o expurgo do petismo em Mato Grosso do Sul.
Mesmo arriscando-se a entrar em choque com correntes do partido mais à esquerda, as lideranças petistas fecharam o acordo eleitoral para apoiar Riedel no segundo turno e a partir daí passaram a construir um acordo político e administrativo, que inclui a participação na equipe de governo. Camila e seu pai e grande incentivador Gerson Jara, jornalista dos mais antigos e respeitados do Estado, não entenderam assim e se colocaram contra a aliança. Para ambos, não se justificava apoiar um governo de direita, bolsonarista e com histórico antipetista. Nem mesmo o conflito partidário entre ficar neutro diante da ameaça antidemocrática de Contar ou optar por uma saída alternativa com Riedel, de melhor perfil democrática, os convenceram.
Enquanto Camila Jara intensificava sua repulsa à indicação de nomes petistas para o governo Riedel, seu pai erguia semelhante bandeira disparando pewsado ataque contra os correligionários aliancistas. Classificou-os de lambe-botas do governador em troca de cargos. Não se importou nesm mesmo com a empolgação da filha em momentos de explícita felicidade, ao lado do deputado Arthur Lira (PP-AL) em imagens de sua campanha para seguir presidindo a Câmara.
E neste cenário mais uma diferença expressiva se agiganta: até às eleições passadas, o PP de Lira agia unido, em bloco, para respaldar as ações de Bolsonaro e de seu governo, ao passo que o PSDB, em parcelas consideráveis de seus quadros, tornou-se um dos primeiros partidos de centro a abrir alternativas antibolsonaristas e de apoio à candidatura do petista Luiz Inácio Lula da Silva.