O assessor empresarial Davi Augusto de Souza, de 40 anos, foi baleado na perna dentro da Igreja Congregação Cristã no Brasil, em Goiânia, na quarta-feira (31.ago.22), ao contestar o uso do espaço para fazer politicagem. O pastor alinhado a extrema-direita dizia que os fiéis não poderiam "votar nos vermelhos". A prática do uso do nome de Deus para benefícios políticos foi normatizada pelo governo de Jair Bolsonaro (PL), que usa as igrejas como palanques para sua reeleição.
Segundo a família, o motivo seria uma discussão política depois que a igreja distribuiu uma circular sobre eleições, que pede aos fiéis para não votarem em candidatos que têm plano de governo a favor da desconstrução das famílias.
O cabo Vitor da Silva Lopes disse que foi atacado pela vítima e seus familiares. Assim, entrou em briga corporal com eles. Num dado momento, ele sentiu que queriam tomar sua arma e, por isso, a sacou e pediu para se afastarem, o que não foi obedecido. Para se defender, ele alega que fez um disparo na perna da vítima para cessar as agressões, sem intenção de matá-la.
O motorista de aplicativo Daniel Augusto de Souza, de 45 anos, irmão da vítima, contesta a versão do cabo da PM. Ele estava na igreja no momento da discussão.
"Meu irmão saiu para beber água e o policial também. Do lado de fora, meu irmão, o policial e outra pessoa começaram um debate sobre quem da igreja apoia ou não o governo, que os membros não deveriam votar na esquerda, como indicaram os líderes", comentou o irmão.
A Polícia Militar informou em nota, nesta sexta-feira, que o cabo da corporação estava de folga no dia da briga, que aconteceu, no Bairro Finsocial.
"Assim que a Polícia Militar tomou conhecimento do caso, determinou a instauração de procedimento administrativo disciplinar para apurar as circunstâncias do fato. Informamos ainda que o policial militar apresentou de forma espontânea na delegacia de Polícia Civil para os procedimentos cabíveis", diz a nota.
Davi Augusto de Souza está internado em Goiânia, passou por cirurgia na perna e segue estável, segundo o irmão dele. Ele relatou também que o culto seguia normalmente enquanto o irmão era atendido por bombeiros no corredor do templo.
O boletim de ocorrência foi registrado por lesão corporal culposa, quando não há intenção de machucar a pessoa agredida. No documento, estão apenas as versões dos policiais militares que atenderam a ocorrência.
"No local, segundo informações, houve uma discussão entre dois indivíduos e o cabo Vitor da Silva Lopes. Os indivíduos tentaram entrar em luta corporal com o policial, que para se desvencilhar de um deles efetuou um disparo que alvejou a perna do envolvido", relata o documento.
POLÍTICA NA IGREJA
Daniel Augusto contou que a briga e o tiro são, na verdade, resultado da entrada da política na igreja, que vem acontecendo há algumas semanas.
"O problema foi a entrada da política na igreja, que começou com essa guerra entre quem apoia ou não o governo. Um líder começou a fazer política durante um culto e dizer que os membros não deveriam votar em candidatos de esquerda, que chamou de 'vermelhos'", explicou Daniel.
No momento de indicação de votos, o motorista disse que levantou a mão e argumentou que a igreja não é lugar para fazer política. "Nenhum político doa dinheiro para igreja, para que falar de voto, então?", questionou.
"A partir daí, virou uma confusão séria. Os líderes se reuniram para avaliar o que ia ser feito com isso e no dia de uma reunião sobre o tema, aconteceu essa discussão e o tiro contra o meu irmão", lamentou Daniel.