14 de dezembro de 2025
Campo Grande 23ºC
VANDER

Travessias Cotidianas

Angústia: riscos e fissuras

Angústia: riscos e fissuras

Às vezes a angústia é feito dor de crescimento. Aquela que dá no tempo da infância, quando a perna começa a doer, bem atrás do joelho. Aí algum adulto nos explica: é dor de crescimento, logo passa!

O corpo reclama da expansão de si.

Expandir dói, né?

Às vezes parece mais um rasgo, como quando se trata de uma perda.

Quando a angústia é de perda, parece rasgar a carne que somos, como se a falta e o vazio produzissem uma fissura no corpo. Talvez, por isso venha a sensação de que um pedaço foi arrancado ou de que existe uma ferida aberta-viva a se desenhar na pele.

Mas, de alguma forma, essa angústia é um motor que nos põe a trabalhar no mundo. 

Segundo Viviane Mosé “a angústia é um grito de sua alma presa em um modelo psíquico restrito. É um impulso ao rompimento de padrões.” A filósofa avança e nos pede para tirar os calçados apertados e escutar aquilo que pulsa no corpo.  

A angústia pede licença das formas mais diversas! Jacques Lacan a situa como afeto primordial no processo analítico. Enquanto uma espécie de perturbação, ela é afeto que não engana, estando amarrada à verdade do sujeito e seu desejo — ou causa de seu desejo, objeto a

Também já ouvi dizer que ela é o corpo desejando expansão e precisamos ouví-la, deixá-la nos movimentar. Nessa perspeciva espinozista, os afetos tem potencial de expandir ou diminuir a potência de ser, agir e pensar no mundo. Então, quando permitimos a este afeto fazer seu trabalho, a rasgadura é do tipo que amplia, feito a do crescimento. Expande para caber mais mundo, mais existência, mais vida.

Basta ter paciência para conduzir o alargamento das fronteiras de si.

É feito a barriga se alargando para gestar um bebê, sabe? Feito nossos ossos, músculos e pele se esticando conforme crescemos e desenhamos um novo corpo. Corpo-criança, corpo-adolescente, corpo-adulto.

O corpo se redesenha para sustentar mais histórias, potências, vida. Trata-se de uma mudança de forma.

Estamos sempre fazendo o luto das formas passadas... Cheios de riscos e fissuras, incorporamos outro corpo. De repente, aquilo que somos já não cabe na forma de outrora, por isso, algo (trans)borda, escapando às bordas.

Então, a angústia pode ser sintoma de um corpo desejante por expansão! Se a vida é um eterno rasgar-se e remendar-se como a literatura de Guimarães Rosa conta, a angústia vem avisar que é necessário encontrar outros canais de efetuação da vida, desfazer-se dos estratos, desterritorializar e criar outro território existencial possível... Ela interroga a vida que vivemos, desconforta, desconcerta, embaraça.

A angústia diz de um território do não-saber que talvez, queira ser sabido. Podemos fazer dela um enigma, então. Enquanto tentamos sufocar a sensação recalcitrante que invade o estômago, a garganta e o corpo mantemos o desejo aprisionado, silenciado. O corpo angustiado deseja expandir, mas não sabe como…

No presente, o discurso de felicidade permanente não nos ajuda a escutar a angústia. Afinal, na “sociedade da positividade” somos levados a rejeitar desconfortos e exterminar a iminência ao sofrimento a seu primeiro sinal. 

É curioso, mas ao passo em que o individualismo neoliberal se acentua, a desconexão de si consigo e da escuta de si se intensifica. Voltados para si, mas afastados do desejo singular que nos movimenta. 

Para o filósofo Byung-Chul Han, o Ocidente passou da sociedade da disciplina descrita por Michel Foucault para a sociedade do desempenho, organizada pela positividade, ou seja, pelo paradigma do “tudo podemos”. A fantasia de que podemos tudo associada à ideia de liberdade, coloca o sujeito enquanto responsável pelo seu desempenho, felicidade e sucesso. Para além de nos submetermos ao imperativo superegóico da disciplina, agora, projetamos um eu-ideal a ser alcançado. 

Trata-se de uma maquinaria de egotização, produzindo corpos fechados em si, em uma autoentropia onde todas as forças são vetorizadas para dentro da amônada “eu”, a partir de um ideal de eu. Nesse circuito desejante em torno do eu-fechado há um super investimento na individualização das relações, a partir de uma racionalidade neoliberal de “empreender” sobre si.

Para Hang, esse jogo produz um efeito violento sobre o sujeito. Às voltas com as demandas de polivalência, agilidade, produtividade e empreendedorismo, não há espaço para escutar aquilo que escapa ao ideal e nos angustia.

Empreender sobre si não é o mesmo que um trabalho de inflexão e cuidado consigo. Carecemos de nos escutar, ouvir o que se move em nós e embarcar na travessia a diante. Afinal, a angústia é uma convocação.

Júlia Palmiere
Psicóloga - CRP: 14/08263-6

Fotografia: Rebeca Moreira

VANDER
"Eles são ruins de voto", diz Biffi sobre adversários do PT em MS
ELEIÇÕES 2026
há 18 horas

"Eles são ruins de voto", diz Biffi sobre adversários do PT em MS

Edinho Silva confirma Fábio Trad candidato ao governo e Vander Loubet ao Senado
ELEIÇÕES 2026
há 20 horas

Edinho Silva confirma Fábio Trad candidato ao governo e Vander Loubet ao Senado

"Fábio será o próximo governador", diz Romênio Pereira
ELEIÇÕES 2026
há 21 horas

"Fábio será o próximo governador", diz Romênio Pereira

Fábio Trad assume a vanguarda anti-extrema-direita e convoca o povo
ELEIÇÕES 2026
há 21 horas

Fábio Trad assume a vanguarda anti-extrema-direita e convoca o povo

"Cheiro de 98": Vander define Fábio ao governo e traça rota para o Senado
ELEIÇÕES 2026
há 22 horas

"Cheiro de 98": Vander define Fábio ao governo e traça rota para o Senado

Direção Nacional do PT vem a MS para alinhas estratégias rumo a 2026
ELEIÇÕES 2026
há 1 dia

Direção Nacional do PT vem a MS para alinhas estratégias rumo a 2026