08 de dezembro de 2025
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FOGO DE PALHA

Tarifaço dos EUA atinge ações de empresas brasileiras na Bolsa, mas impacto no PIB é mínimo

Analistas avaliam que setores voltados ao mercado interno, como varejo, saúde e construção civil, podem se tornar oportunidades

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A sobretaxa de 50% anunciada pelo governo dos Estados Unidos sobre produtos brasileiros começa a pesar sobre companhias listadas na B3. Gigantes como a Marfrig conseguem contornar os efeitos, mas empresas menores — as chamadas small caps — sentem o impacto direto.

Levantamento da Elos Ayta Consultoria mostra que, das 20 maiores quedas de ações desde o anúncio, em 9 de julho, 17 pertencem ao índice Small Cap. Essas empresas têm menor valor de mercado e menor estrutura para buscar alternativas.

A Marfrig, com capitalização de R$ 18,6 bilhões, dribla a medida por operar também no Uruguai, na Argentina e nos EUA. Apenas 0,18% de suas vendas vêm do Brasil para o mercado norte-americano. Por isso, suas ações caíram apenas 1,4% no período.

A fusão com a BRF também sustenta a empresa, segundo analistas. Já a Minerva tem 16% da receita exposta aos EUA, mas também usa filiais em outros países para reduzir a cobrança. Suas ações caíram 8% após o anúncio.

Essa estratégia, chamada triangulação, evita o imposto ao exportar de outra nação. Porém, companhias sem presença internacional sofrem mais, como a Jalles Machado, produtora de açúcar e etanol em Goiás e Minas, que recuou 15,5% na Bolsa.

O setor sucroenergético é pressionado também pelos menores preços internacionais do açúcar, no menor nível dos últimos quatro anos. Raízen e Cosan, ambas blue chips, caíram 23% e 13,6%, respectivamente, em meio a alto endividamento.

Fabricantes de veículos pesados também foram atingidas. Recrusul, Randon, Frasle, Tupy e JSL registraram quedas, mas a Tupy tem chance de amenizar o efeito ao transferir produção para o México e repassar custos aos clientes.

A Taurus, fabricante de armas e munições, perdeu 31,75% de valor de mercado. Para reduzir o impacto, a empresa pretende ampliar a produção em sua unidade nos EUA, que já responde por mais de 80% do faturamento.

Especialistas apontam que não há grandes vencedores com o tarifaço. Algumas altas, como a de 11,7% da Fleury, estão ligadas a outros fatores, como interesse de aquisição pela Rede D’Or.

O impacto estimado no PIB brasileiro é de apenas 0,02%, segundo a XP, que não recomenda mudanças drásticas nas carteiras de investimento. A orientação é evitar decisões precipitadas e considerar objetivos de longo prazo.

Há, porém, riscos indiretos. Um deles é a alta do dólar, pressionando a inflação. Em julho, investidores estrangeiros retiraram R$ 6,27 bilhões da Bolsa brasileira, no pior saldo desde abril de 2024.

A expectativa é que a Selic permaneça em 15% até o fim de 2025, caindo para 12,50% em 2026. Juros elevados tendem a afastar investidores do mercado acionário e favorecer a renda fixa.

Analistas avaliam que setores voltados ao mercado interno, como varejo, saúde e construção civil, podem se tornar oportunidades, já que não sofrem impacto direto das tarifas norte-americanas.