19 de abril de 2024
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Multinacional negocia compra da Santa Olinda e gera expectativa em Quebra Coco

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Transcorridos seis meses do fechamento da indústria, quando foram demitidos 165 dos 200 trabalhadores na época ainda vinculados à empresa, estão em andamento negociações para a venda da Usina Santa Olinda, reacendo a esperança de centenas de ex-funcionários ansiosos que esperam pela reabertura da empresa para ter seus empregos de volta ou na pior das hipóteses, receber seus direitos.

Só a reabertura da usina devolverá ao distrito de Quebra Coco alguma perspectiva de retomada econômica já que a empresa é única fonte de emprego do lugarejo que chegou a ter quatro mil moradores e hoje não passam de mil.

Segundo a secretária de Produção, Teresa Cristina Correa da Costa, uma empresa multinacional (que ela prefere manter o nome em sigilo) tem interesse na compra da usina. Já houve aprovação da diretoria brasileira, mas o negócio ainda depende do aval da direção central sediada no exterior.

“Este grupo pretende se estabelecer em Mato Grosso do Sul. Um negócio desta proporção, na qual está se adquirindo uma empresa praticamente falida, com passivo trabalhista e tributário elevado, é natural que os interessados em comprar se cerquem de todos os cuidados, para não terem surpresas após assumir a empresa”, avalia a secretária. Há cálculos, não oficiais, de que o passivo supera R$ 1 bilhão. No caso de venda, quem receberá primeiro serão os trabalhadores.

Segundo a secretária, emissários do grupo interessado na compra da usina já estiveram vistoriando a indústria e desta vez ela confia num desfecho favorável. Além do aval da Justiça de São José do Rio Preto, por onde tramita o processo de falência da empresa, o dono da Santa Olinda, José Pessoa Bisneto, por meio de um dos diretores do grupo, Fernando Erick, mostrou interesse em se desfazer da unidade. Em várias ocasiões, nos quase seis anos que vem se arrastando esta crise da indústria, surgiram interessados na compra, mas o negócio sempre esbarrou na exigência de Pessoa de manter parte do controle acionário.

Na quarta-feira, quando foi realizada uma rodada de negociação em Campo Grande intermediada pelo Governo do Estado, o clima no Quebra Coco era de esperança, embora até agora nenhum dos trabalhadores da última remessa de demitidos tenha recebido um centavo sequer dos seus direitos.

Na usina ainda restam 27 trabalhadores que passam o dia conversando, tomando tereré e especulando sobre o futuro. A empresa não pagou o 13º, antecipou o salário de novembro, mas deixou para traz o de outubro. Só dois caminhões ainda funcionam, os demais estão parados por falta de combustível e de bateria.

Como a energia está cortada, por medida de economia, o gerador movido a diesel só funciona das 6 da tarde as 10 da noite, quando o porteiro encerra vai para casa. “Isto aqui está no fim de linha, mas o que posso fazer tenho 12 anos de casa. Não dá pra sair agora, de mãos abanando”, comenta José Rodrigues(a pedido do trabalhador usamos um nome fictício).

A disposição de José e de vários dos seus ex-colegas é tomar uma medida radical caso a situação não mude, seja com o pagamento das indenizações ou mesmo a reativação da usina no caso de sua venda. “O pessoal cansou de ter paciência. Vamos montar acampamento aqui e só sair quando houver uma solução”, anuncia.

Há dois meses um grupo ensaiou acampar nas vias de acessos, mas acabaram desistindo, porque precisavam ir em busca de trabalho para sobreviver. Do protesto, que chegou a ter adesão de 450 pessoas, os únicos sinais são os escombros dos barracos ainda em pé.

Venda da cana

Por enquanto, os ex-funcionários não receberam um centavo do dinheiro obtido com a venda da cana negociada com a ETH. Segundo a secretária Teresa Cristina só uma pequena parte das 80 mil toneladas vendidas foi de fato retirado. Teria havido falta de caminhões para levar a cana até Rio Brilhante porque as usinas do sul do Estado teriam intensificado a colheita para compensar o período de paralisado no meio do ano, quando as lavouras foram atingidas por geadas.

Entre os trabalhadores persiste a revolta dirigida não só contra o ex-patrão, o empresário José Pessoa Bisneto, mas que também é canalizada para a Justiça do Trabalho e o Ministério Público do Trabalho, que convenceu os trabalhadores a aceitar o acordo apresentado pela empresa e firmado em agosto.

A proposta basicamente previa que a cana disponível (na época calculada em 120 mil toneladas) seria vendida e a receita (descontadas as despesas do corte e transporte) dividida entre a Santa Olinda e os aproximadamente 800 ex-funcionários, alguns demitidos em janeiro, outros em junho, quando estavam com três a quatro meses de salário em atraso, sem contar parcelas do 13º e a indenização de férias e Fundo de Garantia sem depósito desde 2005.

“Este país não tem Justiça para o trabalhador. Se eu não pagar pensão alimentícia vou para cadeia. Com este José Pessoa ninguém faz nada, continua solto, andando de jatinho pra cima e pra baixo”, desabafa Délcio dos Reis, demitido em junho após 12 anos de serviço.

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