24 de abril de 2024
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'AFOGAMENTO'

Anticabo eleitoral, Bolsonaro usa estratégia Trump com medo de fracassar em 2022

O povo brasileiro tardou a entender que Jair Bolsonaro, na verdade, não passa de outro 'falso' herói, desmascarado pela história

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O presidente Jair Bolsonaro (sem-partido) já dá braçadas na direção de colocar em xeque as apurações feitas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Bolsonaro disse ontem, 3ª-feira (17.nov) à apoiadores na entrada do Palácio da Alvorada, assim como o presidente derrotado Donald Trump, que é duvidosa a apuração das eleições no Brasil, visto o pequeno atraso que teve nas parciais desse ano. “Temos que ter um sistema de apuração que não deixe dúvidas”, afirmou. 

A onda Bolsonaro ficou no último temporal no qual não revelou ainda o porquê de sua esposa, Michele Bolsonaro ter recebido enormes valores depositados pelo ex-assessor Fabrício Queiroz, que está em prisão domiciliar, investigado no inquérito das ‘rachadinhas’, no qual o filho de Bolsonaro, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), é principal investigado.

Apesar de Flávio ser apontado pelo Ministério Público Federal como principal beneficiado com o esquema no qual assessores do gabinete do parlamentar na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) devolviam parte ou a quase totalidade dos salários ao ex-assessor Fabrício Queiroz, que então usava o dinheiro para quitar despesas do senador, como o pagamento da escola das filhas e o financiamento de imóveis no Rio. O senador, denunciado pela Promotoria do Rio pelos crimes de peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa no esquema das 'rachadinhas, não se defende, apenas, com sua ‘tropa de advogados’ tenta na justiça fazer parar as investigações. 

Ontem, (17.nov) o ministro João Otávio de Noronha, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), pediu vista e adiou o julgamento de três recursos do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) para suspender o inquérito que apura peculato e lavagem de dinheiro em seu antigo gabinete na Alerj, no caso das 'rachadinhas'.

O ato suspende a análise dos pedidos do filho do presidente, que não tem data para serem retomados. Durante a sessão, o ministro Felix Fischer, relator dos habeas corpus, questionou Noronha sobre o pedido de vista, alegando que ele sequer havia lido seu voto antes do ministro pedir para suspender o julgamento. Noronha respondeu que havia recebido um memorial da defesa de Flávio na segunda, 16, e queria ter tempo de analisá-lo por se tratar de um 'caso complexo, de alta repercussão'. Noronha, que presidiu o STJ até agosto deste ano, atendeu o governo Bolsonaro em 87,5% das decisões individuais que tomou na Corte, segundo levantamento feito pelo Estadão em junho. Foi o ministro quem livrou da prisão o ex-assessor parlamentar Fabrício Queiroz durante o recesso do Judiciário. A medida foi revista por Felix Fischer.

AFOGAMENTO 

O resultado ruim (para os Bolsonaros) em 2020 pegou de surpresa mesmo a família do presidente. Eles esperavam que Carlos, o Zero Dois, tivesse entre 150 e 200 mil votos.  Porém, os mesmo teve 71 mil. E a mãe dos três mais velhos, Rogéria, terminou como a 229ª vereadora em número de votos no Rio. 

Não foram só Carlos e Rogéria. Além deles, no Brasil todo, 76 candidatos se lançaram com o sobrenome Bolsonaro. Zero Dois foi o único eleito. 

A candidata Wal Bolsonaro (Republicanos), mais conhecida como Wal do Açaí, não foi eleita vereadora em Angra dos Reis (RJ). Ela que é apontada como 'funcionária' fantasma de Jair Bolsonaro à época que ele era deputado, apoiada pelo presidente, não chegou a ter nem 300 votos, na verdade recebeu 248 votos (0,30%).

Wal é alvo de uma investigação do Ministério Público depois que o jornal Folha de S. Paulo revelou que a funcionária continuava vendendo açaí numa praia de Angra dos Reis, no Rio de Janeiro, no horário do expediente que teria que cumprir como funcionária de Bolsonaro, à época em que era deputado federal. Ela estava na condição de secretária parlamentar do gabinete do parlamentar. 

A situação de Wal ainda está parada, sem resolução e sem explicação dos envolvidos, que apenas atacam em revés os denunciantes, sem mesmo terem apresentado defesa. No cargo de presidente Bolsonaro tem proteção, mas caso não reeleito em 2022, sabe bem que terá que explicar essa situação.  

Para analistas políticos no domingo passado (15.nov), Bolsonaro se afogou, mesmo não estando no interior da embarcação (extrema-direita radical) que naufragou.  

RESSACA MARÍTIMA

O temporal sem ondas trouxe ressacas, nas quais aliados por conveniência começam a se afastar da imagem de Jair Bolsonaro. Com as denúncias aumentando, todas sem respostas. Bolsonaro já tenta criar o sentimento de dúvida sobre o processo eleitoral brasileiro, pois como político de carreira, já enxerga o que lhe espera em 2022. Bolsonaro perdeu espaço para o Centrão (os mais vitoriosos nas eleições municipais), e não sabe ainda como explicar isso à seus apoiadores da extrema direita. 

Notório o enfraquecimento do seu nome, os que foram para o 2º turno, que acontecerá em 29 de novembro, decidiram não citar dessa vez que estão com Bolsonaro. 

Em Fortaleza, o Capitão Wagner (PROS), que Bolsonaro citou numa live, afirma que não deseja ‘nacionalizar’ a campanha. Ele disputa com um aliado do pedetista Ciro Gomes. O mesmo se dá em Porto Alegre, onde Sebastião Melo (MDB) terá uma disputa dura com Manuela D’Ávila. A avaliação é de que Bolsonaro atrapalha mais que ajuda. O padrão se repete por todo o país com raras exceções. É o caso de Marcello Crivella (Republicanos), que coincidentemente não tem um adversário de esquerda e sim Eduardo Paes, do DEM. Isolado e com alta rejeição, Crivella quer um engajamento maior do presidente. O PT já acenou com apoio a Paes, o deputado federal Marcelo Freixo, do PSOL, idem. 

O presidente já havia feito uma afirmação irresponsável em março, denunciando que houvera fraude na eleição de 2018, que ele venceu, e prometeu apresentar as provas (essas não vieram) e até seus apoiadores radicais já começam a questionar o presidente.

Apesar de Bolsonaro tentar conferir a dúvida ao processo eleitoral. O ataque cibernético tentado contra o sistema de segurança das eleições, segundo o ministro Luis Roberto Barrosos (STF), foi praticado pelos mesmos grupos que estão sendo investigados em inquéritos no Supremo sobre distribuição de fake news e manifestações antidemocráticas ao Congresso e ao próprio Supremo (esses, apoiam Bolsonaro). A retórica não para por aí.

Notando a brecha, e possibilidade de radicalizar a situação, Bolsonaro se abraça à um ‘pedaço de madeira’ após sua embarcação fracassar em alto mar.  Tenta dar credibilidade aos boatos que foram espalhados pelas redes de seus apoiadores, com o intuito de desacreditar o sistema de apuração digital. Tal qual um Trump dos trópicos, Bolsonaro lança dúvidas e dá margem a que políticos como a deputada Bia Kicis possa dizer que a explicação para a derrota da extrema direita bolsonarista seria uma grande fraude eleitoral.

A Polícia Federal vai investigar os ataques sofridos pelos computadores do TSE, vindos de servidores da Nova Zelândia, que parecem estar orquestrados com grupos que atuaram também a partir de servidores nacionais. As duas investigações do Supremo estão interligadas e têm o mesmo relator, o ministro Alexandre de Moraes.

O mesmo que, ontem, mandou prender o blogueiro bolsonarista Oswaldo Eustáquio, que saiu do Rio sem autorização para fazer agitação em São Paulo e terá agora de cumprir a prisão domiciliar com uma tornozeleira.

Embora não fosse possível interferir nas urnas eletrônicas, pois elas não estão em rede, o ataque ao TSE poderia provocar uma demora maior do que foi o que ocorreu, aí sim, e essa parece ter sido a intenção dos ataques, levaria a uma onda de boatos e fake news que poderia afetar a credibilidade da apuração, visto que não só Bolsonaro, mas radicais assustaram-se com a decisão do povo de não jogar ‘botes’ da extrema direita radical.