15 de dezembro de 2025
Campo Grande 25ºC

NOVO CICLO

Lula, Lira, Haddad, Tarcísio e Simone ficam mais fortes

Para Vander Loubet, coordenador da bancada federal, o grande vencedor nas votações foi o Brasil

A- A+

Inelegibilidade, divisão da base e revezes no plenário da Câmara dos Deputados danificaram seriamente os projetos de Jair Bolsonaro (PL) e comprometem seu futuro político. Em contrapartida, seus adversários diretos e até aliados que não o seguem cegamente ficaram vitaminados e de energia renovada para enfrentar os desafios independentes de sua tutela.
 
Para o deputado federal Vander Loubet (PT/MS), coordenador da bancada federal de Mato Grosso do Sul, não é bom olhar os projetos em votação no Congresso Nacional com entendimento simplista e polarizado entre situação e oposição. "É óbvio que existe esse confronto. Porém, eu prefiro avaliar as propostas pelo que representam para o Brasil, quais os impactos que causarão na vida dos brasileiros", analisa.
 
Loubet, entretanto, reconhece: os resultados trazem números que indicam fragorosos prejuízos para as expectativas do ex-presidente Jair Bolsonaro e alimentam a saúde política do presidente Lula e de algumas lideranças que não querem fazer parte da insensatez e dos equívocos do bolsonarismo e da direita mais atrasada. "Faço esta avaliação sem tirar os méritos a quem de direito, não só de Lula, que é do meu partido, mas de forças opostas, como o governador Tarcísio Freitas e o deputado Arthur Lira, de partidos que caminharam com Bolsonaro", acentua Loubet.

O deputado federal Vander Loubet (PT). Foto: Redes O deputado federal Vander Loubet (PT). Foto: Redes 

Os recentes acontecimentos institucionais e políticos produziram, ao menos até aqui, formidáveis estragos nas ambições de uns e grandes ganhos pessoais na rotina de outros personagens centrais da vida pública nacional. A decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) tornando Bolsonaro inelegível por oito anos e ainda a aprovação da reforma tributária e do projeto de mudanças no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf) causaram efeitos impactantes.
 
Se de um lado resultaram em fortes danos ao prestígio do ex-mandatário, de outro, fortaleceram a liderança e o peso político do presidente Lula (PT), do governador paulista Tarcísio  Freitas (Republicanos), do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP/AL) e do ministro da Economia, Fernando Haddad (PT).

MÃO FORTE

Presidente Lula e Arthur Lira. Foto: Agência Câmara Presidente Lula e Arthur Lira. Foto: Agência Câmara 

A derrota imposta aos bolsonaristas na votação da reforma foi um demonstrativo claro do poder congressual de Lira. Ele liderou e montou a arrumação para o avanço de uma proposta que era considerada natimorta, em virtude da maioria numérica de bolsonaristas de extrema direita e de uma parte do Centrão, que enxergavam na reforma um "cavalo de Tróia" a serviço de Lula.
 
Lira aliado e eleitor de Bolsonaro na eleição presidencial — fez o desarme a construção oposicionista e preparou o ambiente para que a aprovação da matéria se transformasse num desfecho inglório para os bolsonaristas: 382 votos a 118 no primeiro turno da votação e 375 a 113 no segundo. E com detalhes sintomáticos, como o voto de 20 deputados do partido bolsonarista favoráveis à reforma e o isolamento do bloco partidário fiel ao ex-presidente, reduzido neste processo ao PL e ao Novo.

Lira saiu cacifado para entrar na fila de opções de pré-candidaturas presidenciais em 2026. Outro agente determinante nos bastidores para o avanço da reforma foi Haddad. Chamou para si uma responsabilidade incomum, a de articulador, embora vestindo um fardamento de técnico governamental para demonstrar os ganhos que o País e o federativismo terão com um novo e atualizado sistema tributário. Quem faz a leitura correta deste capítulo, pode notar facilmente que Haddad cumpriu uma missão estratégica do governo de Lula.

DOSE DUPLA

Fernando Haddad e o governador paulista Tarcísio Freitas. Foto: Divulgação Fernando Haddad e o governador paulista Tarcísio Freitas. Foto: Divulgação 

Em seguida à aprovação da reforma tributária, o território parlamentar de Brasília foi palco de outro teste para interesses do Planalto e da oposição. A proposta que altera dispositivos do Carf e acentua nele o poder governamental era um dos alvos na mira do fogo oposicionista, principalmente dos fiéis de Jair Bolsonaro. Isto porque o texto traz o voto de qualidade, favorecendo o governo nos julgamentos do Conselho que terminarem empatados.  

O resultado, uma vitória do ministro Fernando Haddad, estava entre as prioridades palacianas para o primeiro semestre. O ministro já disse que trabalha com a expectativa de arrecadar até R$ 50 bilhões em 2023. O relator do projeto foi o deputado sul mato-grossense Beto Pereira (PSDB). No dia seguinte às vitoriosas votações, Lula recebeu no Palácio do Planalto 17 deputados de diferentes partidos que contribuíram com o placar favorável ao governo, entre os quais o presidente da Câmara, Arthur Lira.

ONDA FAVORÁVEL

A ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet. Foto: Reprodução A ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet. Foto: Reprodução 

Por sua vez, a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, chega em julho com perspectivas das mais positivas e ainda ganha de brinde uma amostragem de opinião pública que confirma seu prestígio. No vácuo criado a partir da inelegibilidade de Bolsonaro, a Atlas/Intel divulgou uma pesquisa sobre a preferência de eleitores identificados com lideranças políticas que representam campos ideológicos diferentes (centro, direita e esquerda).  

Sem o ex-presidente na disputa presidencial de 2026, Simone é a líder absoluta das intenções de voto do eleitorado de centro. Ela aparece com 32,3% e só perde para as escolhas atribuídas a outros nomes. Em segundo, e bem distante, vem o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), com 8,4%.
 
Entre os eleitores de direita, o líder nas preferências é Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo, o ideal para 60,1%. A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro é a segunda, com 17,9%, e Romeu Zema, governador mineiro, na terceira posição, com 8,6%. A senadora Tereza Cristina está em oitavo, com 0,8%.

Já na esquerda, o melhor nome para seus eleitores é o presidente Lula (PT), citado por 63% dos entrevistados. Fernando Haddad vem em segundo — ele tem 14,4%. A pesquisa ouviu 3.222 pessoas entre os dias 2 e 4 de julho. A margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.