Divulgada às vésperas de definições que vão impactar o processo sucessório, como a confirmação de André Puccinelli (PMDB) que anunciou não será candidato ao Senado, a pesquisa do Instituto Ipems (Instituto de Pesquisa de Mato Grosso do Sul) sobre as intenções de voto para governador em Campo Grande não teve o impacto à altura da expectativa que havia sido criada. Para utilizar mais um recurso do modismo vernacular de plantão, a tal pesquisa não causou.
Os espaços das mídias sociais no Estado foram tomadas por diferentes manifestações de ceticismo e descrédito com os números da pesquisa. Até quem deveria comemorar esses resultados não deixou de cercar-se de reservas e mesmo de evidenciar suas suspeitas sobre o quadro traçado e o critério de restringir a sondagem a um único município, exatamente onde, em princípio, um dos pré-candidatos ao governo seria beneficiado por vantagens exclusivas. Menos pela credibilidade do jornal que a publicou – o “Correio do Estado” é, de longe, o mais lido e tradicional de Mato Grosso do Sul – e mais pelo histórico da empresa que a realizou, a pesquisa veio contaminada e não escapou ao olhar crítico num cenário de observadores cada dia mais atentos, capazes de estabelecer parâmetros de sua própria confiança para tecer as avaliações. E o Ipems, como sinalizadora em sondagens de opinião pública, provou estar longe de ser a referência.
É evidente, pública, notória e assumida a tendência política do jornal comandado por um dirigente partidário (do PSD), o ex-suplente de senador e empresário Antonio João Hugo Rodrigues. Verdadeiro em seus gostos e desgostos, ele não esconde de ninguém o fato de estar totalmente fora do projeto de poder do senador Delcídio Amaral, do PT. Caminha em direção totalmente oposta. E nessa condição usa suas armas para a guerra em curso, inclusive procurando otimizar ao máximo recursos como o de lançar para impacto de âmbito estadual um resultado local de intenções de votos, limitado ao espaço do Município que é o maior colégio eleitoral do Estado.
Que seja um resultado apenas de Campo Grande um aferidor da temperatura e da provável flutuação da vontade do eleitorado. O problema não é a cor partidária do jornal ou seu humor político, e sim a qualidade, a veracidade e a consistência da amostragem do Instituto.
O Ipems, queiram ou não, já está carimbado pela incômoda fama de brigar com os prognósticos. Basta conferir sua mais recente e desastrada performance, na sucessão campo-grandense de 2012. Por suas amostragens, o candidato Alcides Bernal (PP) teria sio derrotado pelo então peemedebista Edson Giroto. A teimosia em desenhar um quadro irreal e surrealista de intenções de votos não se limitou ao primeiro turno e avançou até o segundo. Com direito a ilações definitivas, como a de que o concorrente do PP estava em queda acentuada, conforme diagnosticavam as manchetes.
Em 14 de agosto de 2012, quando faltavam 53 dias para o primeiro turno, o Ipems sapecava 37,33% de intenções de voto para Giroto. No dia oito de outubro, 24 horas após a votação, Giroto só havia recebido 27,99% dos votos, e acuado pelo tucano Reinaldo Azambuja, o terceiro colocado. Mas o Ipems sustentou sua ciranda. Em 25 de outubro, três dias antes do segundo turno, o instituto forneceu números vendidos nas manchetes como “queda acentuada” de Bernal, que tque teria “só” 53,33% das intenções de voto. Essa “queda acentuada” de “só 53,33%” de intenções levantada pelo Ipems revelou-se, na contagem final do TRE, em 62,55% dos sufrágios. Erros sucessivos e repetidos, com diferenças muito acima das margens convencionais de erro adotadas pelos melhores institutos do gênero no Brasil e no planeta.
Mais: no dia 24 de setembro, um mês antes do segundo e último turno, um dos sites de Campo Grande publicava a seguinte manchetona: “Giroto tem 35,88% e Bernal 32,25%, aponta pesquisa do Ipems”.
Se os números do Ipems serviram para preocupar alguém, este certamente não terá sido Delcídio do Amaral.
Edson Moraes, especial para MS Notícias