Em julho de 2016, Nelson Cintra, então presidente da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul (Fundtur), teve seu nome lançado nos registros policiais. E por uma razão das mais vergonhosas: foi denunciado por assédio sexual. A autora da denúncia, a jornalista Nilmara Caramalac, que era também do Governo (trabalhava na TV Educativa), prestou queixa na Polícia e comunicou o fato à casa da Mulher Brasileira.
Em 2020, sem condenação, Cintra concorreu à Prefeitura de Porto Murtinho pelo PSDB e conquistou seu terceiro mandato no município. E este ano, mesmo com uma trajetória manchada por episódios nebulosos envolvendo denúncias de mulheres por assédios e atitudes atribuídas pelas reclamantes à violência de gênero, pretende buscar a reeleição. O problema é que terá de enfrentar nova e bombástica polêmica política e policial.
ARTIGO 147
A raiz da recente estrepolia creditada na conta de Cintra foi o BO (Boletim de Ocorrência) 076, registrado pela Delegacia de Polícia Civil na noite de segunda-feira, 19, pela vereadora Vera Regina Gaúna de Matos Heyn (PSDB), 47. Ela acusa Cintra, 76, de ameaça de agressão e propõe seu enquadramento no Artigo 147, do Código Penal. Na Polícia, Regina Heyn foi atendida pelo delegado Eudenir Soares de Souza e o investigador de Polícia Judiciária Paulo Geovani Cristaldo.
Ela contou que após a sessão da Cãmara Municipal, quando havia discursado para cobrar providências da prefeitura em relação a serviços não prestados à comunidade, foi interpelada por Cintra, com estas palavras: "Regina, o que você mencionou não é verdade, você é mentirosa. Se é assim que você quer, se prepare que eu vou pra cima de você". Dias depois, um vídeo circulou pelas redes sociais - distribuído por Cintra, segundo Regina - contendo ameaças à vereadora. Uma delas repetia: "Cuidado Regina"!
Para se garantir, ela foi ao cartório de Protestos e lavrou uma Ata Notarial no livro 41 (páginas 282 a 284). Regina anexou um audio de 21 de março de 2023, indicando que Cintra já a havia ameaçado anteriormente, dizendo que "as coisas ficariam ruim" entre eles caso não parasse de fiscalizá-lo e "ele iria tomar providências". Regina diz ter percebido que o intuito de Cintra era tentar intimidá-la, para que ela deixasse de continuar exercendo suas prerrogativas parlamentares.
Tudo isso, segundo Regina, começou há três anos, quando começou a distanciar-se politicamente de Cintra, de quem é correligionária. Afirma que se afastou dele por sentir-se prejudicada pelo prefeito. Ela se comprometeu na Polícia a apresentar a Ata Notarial, o vídeo e o áudio com as ameaças. "Estou cumprindo meu mandato dentro dos limites da autoridade que a Constituição e as leis me conferem. Uma delas é fiscalizar o Executivo. E a população me cobra para fazer cobranças sobre as coisas erradas que estão acontecendo no município e a prefeitura não assume a responsabilidade", diz Regina. Entre as coisas erradas, ela cita o caos na saúde e casos nebulosos, como o processo da compra de merenda escolar.