15 de dezembro de 2025
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CODICIA | GAECO

Delegado "foi envolto equivocadamente" como alvo de operação do Gaeco, diz defesa

Patrick Linares da Costa era delegado titular em Ponta Porã (MS) e assumiria cargo de juiz, mas foi impedido, devido a operação envolvendo seu nome

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O delegado Patrick Linares da Costa vem alegando inocência em investigação do Ministério Público em que ele é acusado de cobrança de propina para devolução de veículos em poder da Polícia Civil em Ponta Porã (MS). A defesa do delegado, feita pelo advogado Diego Marcos Gonçalves, disse que o servidor foi surpreendido, espantosamente nesta semana, com essas medidas investigativas envolvendo seu nome. Além disso, disse que os investigadores se equivocaram ao envolver o nome do seu cliente.  

"Já que sua única ligação com os demais investigados é o fato de ser o delegado titular do 2ª DP de Ponta Porã durante alguns dos períodos mencionados na investigação. O fato que desencadeou a investigação sobre um suposto recebimento de valores para liberação de um veículo não cita o Dr. Patrick já que ele, à época, era titular da delegacia de Antônio João", explicou a defesa. 

"Frise-se que Patrick saiu da segunda delegacia de Ponta Porã a pedido, tendo sido removido de volta pra lá no interesse da administração, ou seja, sem que tivesse qualquer manifestação de vontade sua nesse sentido. Após ter acesso a Parte das investigações, constatamos que o delegado não tem qualquer ligação com qualquer fato ilícito da delegacia relatados naquele procedimento", comentou.  

"As buscas e apreensões realizadas em seu apartamento não localizaram nada de irregular, pois não haveria tal possibilidade. Ainda advindo a quebra de sigilo telefônico não existe nenhuma relação dele com os demais investigados, assim como com a quebra de dados bancários não existe nenhuma troca de valores com os demais investigados ou qualquer recebimento ilícito. Fato é que o Dr Patrick foi envolto equivocadamente em uma investigação da qual não faz parte, pois não tem qualquer tipo de envolvimento ilícito com os fatos em apuração", destacou. 

Conforme a defesa, o delegado se apresentou espontaneamente junto à corregedoria para prestar esclarecimento, entregou seu celular desbloqueado como prova de não ter nada a esconder e segue a disposição da justiça, acreditando firmemente no esclarecimento da verdade dos fatos.

OPERAÇÃO CODICIA

O Gaeco diz que essas cédulas em real e dólares são  foram apreendidas durantes as buscas. Foto: GaecoO Gaeco diz que essas cédulas em real e dólares são  foram apreendidas durantes as buscas. Foto: Gaeco

A operação a qual se refere a defesa é a 'Codicia' deflagrada em 25 de abril pelo Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), que indicou o delegado afastado entre os policiais civis (da ativa e aposentados) que estão sendo investigados. 

De acordo com o Gaeco, as investigações se iniciaram em maio de 2021 com a notícia de concussão praticada por parte de alguns policiais civis da 2ª Delegacia de Polícia Civil de Ponta Porã na restituição de um caminhão/carreta para as respectivas vítimas, cujo pagamento se deu em parte por meio de um “pix”, crime que, ao final, restou provado.

"O trabalho investigativo, que durou cerca de 10 meses, ainda identificou uma associação criminosa formada por policiais civis (tanto aposentados, como da ativa) que se utilizava das Delegacias de Polícia Civil de Ponta Porã/MS para a obtenção de vantagens patrimoniais indevidas, especialmente relacionadas à gestão de veículos apreendidos e sob a responsabilidade daquelas unidades policiais", apontou o Gaeco.  

"Restou demonstrada também a existência de uma associação para o tráfico, cuja droga comercializada era, algumas vezes, retirada do depósito da Delegacia de Polícia por um escrivão de polícia e repassada aos seus comparsas para a revenda. Foram cumpridos oito mandados de prisão preventiva, um mandado de prisão temporária, um mandado de medidas cautelares alternativas à prisão e dezesseis mandados de busca e apreensão. A Corregedoria da Polícia Civil deu apoio ao cumprimento dos mandados de prisão e de busca e apreensão dos policiais civis. Também prestaram apoio operacional ao GAECO equipes do Batalhão de Choque da Polícia Militar", completou o Grupo do MPMS.  

A Associação dos Delegados de Polícia Civil (Adepol-MS) disse que está acompanhando o caso envolvendo o Delegado Patrick. "A Adepol se colocou à disposição do associado para toda a assistência necessária e acredita que as apurações esclarecerão a verdade dos fatos, não tendo elas o condão de afastar os primados da ampla defesa e do estado de inocência".

PREJUDICADO

Aprovado em concurso público para o cargo de juiz substituto, para o Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul (TJMS), Patrick seria empossado às 17h desta quarta-feira (27.abr.22). No entanto, diante da operção do Gaeco o indicar como alvo, ele foi excluído da posse.  

A portaria assinada pelo desembargador Carlos Eduardo Contar, presidente do TJMS, com os 13 nomeados foi divulgada no Diário da Justiça de hoje. A assessoria de imprensa do Tribunal de Justiça foi procurada ontem e ainda não se manifestou sobre o assunto.

Ontem (26.abr.22), a Secretaria Estadual de Justiça e Segurança Pública de Mato Grosso do Sul (Sejusp) oficializou o afastamento do delegado, que chefiava a 2ª DP de Ponta Porã, na fronteira com o Paraguai. O afastamento foi determinado no âmbito da Operação Codicia ("ganância" em espanhol) pelo juiz Olivar Augusto Roberti Coneglian, da 2ª Vara Criminal de Campo Grande, onde tramita a ação penal do caso.