14 de dezembro de 2025
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Narcotráfico

Ex-PM do MS deve assumir lugar de Raffat e vingar morte do patrão

"Belo já trabalhou para outros traficantes e por último chefia os remanescentes de Raffat"

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O ex-policial militar de Mato Grosso do Sul, Adair José Belo (46), atirou na nuca do próprio tio, no último dia 23 de dezembro, anti-véspera de Natal, em uma fazenda na região de Cerejeiras, em Rondônia. Durante a tentativa de homicídio, o ex-PM foi apontado pelos próprios familiares como o sucessor de Jorge Rafaat Toumani, executado em junho de 2016 com tiros de metralhadora antiaérea, quando tentava expulsar o PCC (Primeiro Comando da Capital) na Fronteira do Brasil com o Paraguai, para voltar a controlar o tráfico de armas e drogas.

Segundo reportagem do Extra de Rondônia, a tentativa de homicídio ocorreu durante uma confraternização em uma fazenda na região de Cerejeiras. Diversas pessoas estavam presentes e faziam uso de bebidas alcoólicas. Porém, durante um desentendimento entre Adair e seu tio, que teve o nome preservado, o ex-PM se apossou de uma arma e disparou contra a nuca do parente. Logo após o tiro, o filho da vítima entrou em luta corporal com o suspeito.

Testemunhas do ocorrido socorreram a vítima até ao Hospital São Lucas na cidade de Cerejeiras. Após receber atendimento médico, a vítima em estado grave foi encaminhada para o Hospital Regional de Cacoal (HRC).

A Polícia Militar (PM) foi chamada para registrar a ocorrência e no local informada pelo filho da vítima que Adair estaria o usando o nome de Jorge. Além disso, o sobrinho relatou que Adair teria comprado à fazenda próxima da cidade de Pimenteiras, ponto estratégico para comandar o tráfico internacional de drogas.

O filho da vítima ainda teria reforçado que seu tio Adair era o braço direito de um traficante que foi morto no Paraguai por membros da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), em emboscada com disparo de uma metralhadora .50 – arma que derruba helicópteros e aviões.

Buscas foram realizadas na fazenda e um revólver 357, uma pistola 9mm adaptada para disparar sem interrupção e diversas munições calibres 22 e 12, foram encontradas. Adair não foi preso, está sendo procurado pela polícia.

Remanescentes do grupo Rafaat

A guerra do narcotráfico na fronteira entre Brasil e Paraguai ganha novos contornos com remanescentes do grupo de Jorge Rafaat Toumani, executado em junho de 2016 com tiros de metralhadora antiaérea. Ele tentava expulsar o PCC (Primeiro Comando da Capital) da região e voltar a controlar o tráfico de armas e drogas.

O ex-policial militar estaria tramando para vingar a morte de seu ex-patrão. Belo, que já foi segurança de outro megatraficante, Irineu Domingos Soligo, o “Pingo”, trabalhava com Rafaat nos últimos anos.

Após a execução violenta de Jorge Rafaat, a tiros de metralhadora .50 no dia 15 de junho de 2016 quando transitava a bordo de um veículo Hummer blindado em Pedro Juan Caballero, por supostos pistoleiros do Primeiro Comando da Capital, a fronteira se tornou um campo de batalha, onde vários grupos tentam se instalar e dominar o submundo do crime organizado.

As ruas de Pedro Juan Caballero, que faz fronteira com a cidade de Ponta Porã, a 346 quilômetros de Campo Grande, se tornaram palco de batalhas onde os adversários se enfrentam com armas de grosso calibre e aumentam a conta de velórios.

Saída da PM e Carreira no crime

O brasileiro Adair Jose Belo é natural do Paraná e foi soldado da Polícia Militar do Mato Grosso do Sul. Em 1994, ele desertou do cargo, após executar, a mando de traficantes, um sargento da PMMS. Preso um ano depois, se tornou testemunha da Justiça para mapear o tráfico de drogas na região do Conesul. Anos depois, foi solto e voltou a trabalhar no narcotráfico.

Belo é foragido da justiça brasileira e para transitar pelos países estaria usando o nome do irmão Altair Jorge Belo, cuja mulher, a brasileira Josiane Vanessa Zilio, 32 anos, foi executada a tiros de fuzil no dia 31 de agosto de 2016. A mulher estava grávida e teria morrido por se envolver com traficantes rivais.

De acordo com autoridades no combate ao crime, “Belo” foi pistoleiro de Rafaat e coordenador do envio de cocaína vinda da Bolívia para o interior de São Paulo. Preso em 2012, em um sítio em Batayporã, fugiu do Centro de Triagem, em Campo Grande, pela porta da frente. Sua fuga gerou investigação e demissão de servidores da Agepen.

Ele tenta reunir outras quadrilhas da região na guerra contra o PCC, principalmente após o início das rebeliões de presos em vários locais do País, que tornou a quadrilha paulista o “inimigo a ser batido” pelas organizações criminosas locais.

Além de traficantes paraguaios, Belo recrutou apoio de quadrilhas de Santa Catarina, Mato Grosso e Bolívia. O paranaense é tido como um homem de extrema periculosidade e frieza, que após a execução de Rafaat, desapareceu do mapa sem deixar rastro, mas que contaria com o apoio de algumas autoridades para transitar sem problemas pela região.

“O único jeito de expulsar o PCC é contar com apoio de outros megatraficantes do Paraguai. O PCC é aliado de Jarvis Chimenes Pavão, que também é figura controversa no mundo do crime”, avalia uma autoridade que atua na fronteira.