A Polícia Federal (PF) descobriu que havia uma quadrilha especializada em falsificar e vender diplomas para médicos no Brasil. Aos menos 65 registros foram obtidos junto ao Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro (CREMERJ), com documentos falsos. O caso foi divulgado pelo programa Fantástico, da TV Globo, neste domingo (2.jul.23).
Os suspeitos foram alvos da Operação Catarse II, deflagrada em 20 de junho deste ano pela PF. Segundo a corparação disse em nota, o objetivo da operação foi prender o núcleo central de organização criminosa especializada na falsificação de diplomas para o curso de medicina e na inscrição de falsos médicos em Conselhos Regionais.
A investigação, conduzida pela Força-Tarefa da Delegacia de Repressão a Crimes Fazendários da PF no RJ, teve início em abril de 2022 com a prisão em flagrante de duas pessoas na sede do Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro, quando tentavam obter os registros profissionais de médicos instruídos com documentos falsificados de graduação em medicina, notadamente diplomas e históricos escolares.
O ESQUEMA CRIMINOSO

Os criminosos usavam papel de alta qualidade e reproduziam o logotipo de universidades. Na maioria das vezes, os dados eram da universidade do Estado da Bahia (UNEB).
Segundo o delegado da Polícia Federal, Francisco Guarani, a investigação conseguiu apontar que de fato existia uma estrutura empresarial nessa venda de diplomas falsos e históricos escolares falsos.
Com documentos falsos, qualquer um poderia se passar por estudante de medicina formado. Como são as universidades que enviam a primeira documentação dos alunos formados para os conselhos regionais de medicina, os criminosos também criaram e-mail falso em nome das instituições de ensino. No caso da UNEB, a quadrilha usava o e-mail: validacao@portaluneb.gov.br e conseguiu enganar o Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro.
Em junho, a PF cumpriu quatro mandados de prisão e três pessoas foram presas: Valdelírio Barroso Lima, Reinaldo Santos Ramos e Francisco Gomes Inocêncio Junior, que é médico. A quarta pessoa, Ana Maria Monteiro Neta, apontada como chefe da quadrilha, está foragida (imagem da capa).
"A operação logrou identificar que há uma fragilidade nesse sistema de conferência por parte dos Conselhos Regionais de Medicina", disse a delegada da PF, Xênia Ribeiro Soares.
DEPOIMENTOS DE SUPOSTOS MÉDICOS
Um dos investigados é Diego da Silva Jacome de Lima. Ele contou em depoimento à PF que é enfermeiro, que nunca foi ao campus da UNEB, que pagou R$ 45 mil e recebeu em casa toda a documentação falsa.
Outro suspeito é Marcelo Salgueiro Bruno, dono de uma empresa de ambulância e enfermeiro, também disse em depoimento que pagou R$ 45 mil por documentos. Ele recebeu uma pasta com selo e logotipo iguais aos da UNEB com histórico escolar, diploma e até monografia. Ele é acusado em um processo de Exercício Ilegal de Profissão ou Atividade.

Jonny Teixeira Carreiros contou à polícia que estudou medicina no Paraguai, mas não se formou. Segundo a PF, ele pagou R$ 80 mil pelo esquema. Ele foi preso em fevereiro deste ano quando trabalhava como médico e passou 9 dias na cadeia. Os advogados dele disseram que ele foi vítima de um golpe.

Cássia Santos de Lima Menezes admitiu em depoimento que chegou a dar plantões. Ela é enfermeira de formação e chegou a gastar R$ 400 mil com os documentos falsos. Em nota ao Fantástico, o advogado disse que ela é inocente e já prestou esclarecimentos às autoridades. O Fantástico não conseguiu contato com a defesa dos outros investigados citados.

UNEB E CREMERJ
A UNEB disse que todos os documentos recebidos pelo CREMERJ não foram emitidos ou assinados pela universidade e são ilegítimos.
O CREMERJ percebeu uma das fraudes quando uma funcionária desconfiou de documentos e avisou a Polícia Federal, que começou uma investigação. O órgão mudou o processo de checagem e anulou todos os sessenta e cinco registros obtidos com documentação falsa.
O Conselho Federal de Medicina quer criar protocolos de checagem em todo o país. De acordo com seu presidente, José Hiran Gallo, uma equipe vai aos conselhos regionais para levantar dados e entender a fragilidade do sistema para trabalhar numa correção.
*FONTE: FANTÁSTICO











