15 de dezembro de 2025
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ECONOMIA

O Touro de Ouro de São Paulo não resistiu ao escândalo

Ilegal na calçada

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No dia 16 de novembro deste ano, a Bolsa de Valores brasileira (B3) se inspirou na mundialmente conhecida Bolsa de Valores de Nova Iorque: apresentou um Touro de Ouro, inspirado no de Wall Street. De acordo com o CEO da Bolsa de Valores oficial do país, Gilson Finkelsztain, a escultura dourada posta diante do edifício da B3 representava “a força dos investidores” e a “resiliência” dos cidadãos brasileiros.

Entretanto, a chegada do Touro de Ouro à Rua XV de Novembro, onde está situada a B3, não teve bom acolhimento popular. A escultura, segundo os manifestantes que protestaram contra a presença do Touro de Ouro, representava “a fome, a forte exploração contra os trabalhadores e a profunda desigualdade social”.

O “otimismo” dos responsáveis pela inauguração da escultura de ouro diante da B3 foi derrubado apenas uma semana depois. O motivo não foi a opulência representada pelo touro em meio a um cenário de notável desigualdade social, mas sim a infração de uma lei local e a falta de autorização oficial para a presença da escultura na calçada. Diferentemente do que ocorre, por exemplo, com a Ação do Preço em negociações de Forex, uma estratégia utilizada com base na “previsibilidade” da movimentação dos preços no mercado financeiro, a retirada do Touro de Ouro foi um movimento inesperado.

EXISTEM RAZÕES QUE JUSTIFIQUEM O “OTIMISMO” NO MERCADO?

Apesar da “força” e “resiliência” que “caracterizam os investidores e o povo brasileiro”, a verdade é que, em 2021, a Bolsa de Valores brasileira não apresentou o vigor necessário que justificasse o “otimismo”. No início do mês de novembro, a B3 tinha o segundo pior desempenho no ano em relação às demais Bolsas do mundo: apenas a Bolsa de Valores da Venezuela tinha um desempenho pior. No dia 24 do mesmo mês, a B3 estava na primeira posição das Bolsas mundiais com pior desempenho. Os dados, apresentados pela agência Austin Rating, avaliou o desempenho dos mercados financeiros de 78 países.

A pouco menos de 1 ano para as eleições presidenciais no país, que deverão ter como principais candidatos o atual presidente, Jair Bolsonaro, e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o crescimento do PIB - Produto Interno Bruto - brasileiro em 2022, de acordo com o Ministério da Economia, deverá ser de 2,1% no ano que vem. Por enquanto, porém, o PIB brasileiro terminou o terceiro trimestre com recuo de 0,1%, que deixa o país em recessão técnica, caracterizado pelo encolhimento do PIB durante dois trimestres consecutivos.

ÉPOCA DE “TOUROS DOURADOS” OU “VACAS MAGRAS”?

Apesar do avanço da vacinação no país, a verdade é que o Brasil está longe de mostrar um estado de saúde econômica condizente com o vigor ostentado pelo Touro de Ouro. No início de dezembro, diversos economistas alertaram sobre a continuidade desse mau momento em 2022. De acordo com suas análises, o fraco desempenho do PIB brasileiro será um “grande obstáculo” para a criação de vagas de emprego, e “condicionará fortemente” o aumento da renda da classe trabalhadora.

Assim, com a alta inflação, o progressivo aumento da taxa SELIC para combater a inflação, e o dólar em altos patamares, espera-se que o cenário econômico no Brasil, em 2022, seja mais propício para as “vacas magras”. Os “touros dourados”, aparentemente, ficarão de fora.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os protestos contra a presença do Touro de Ouro diante da sede da Bolsa de Valores de São Paulo não foram decisivos para a retirada da escultura, mas sim a falta de uma autorização da Prefeitura e o desrespeito à Lei Cidade Limpa. Em outras palavras, os responsáveis pela breve presença da escultura inspirada na que existe em Nova Iorque não foram os argumentos, corretos, dos manifestantes.

Em um país com sérias dificuldades para se recompor dos estragos causados pela pandemia, expor um Touro de Ouro a fim de “presentear a cidade de São Paulo com uma representação da força dos investidores e da resiliência do povo brasileiro” é, no mínimo, uma falta de responsabilidade social. Por enquanto, infelizmente, o Brasil está a milhares de quilômetros de distância de, finalmente, poder se equiparar às grandes potências globais.