05 de maio de 2024
Campo Grande 33ºC

VARIANTE E RESTRIÇÕES

"Delta" já é mais de 90% dos casos nos EUA e pode atrasar "afrouxamento" no Brasil

País de Biden chegou em 70% da população imunizada e hoje sofre com aumento de casos. Tire dúvidas sobre a variante e imunização

A- A+

Com pouco mais de um ano e meio de pandemia, os olhos do mundo agora estão voltados para um fator que pode tornar a Sars-Cov-2 ainda mais perigosa, as variantes. Atualmente, a "delta", já representa quase 90% das amostras do vírus sequenciadas ao redor do globo, conforme relatório da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), divulgado ontem (08.ago.2021). 

De acordo com a Agência Folhapress, diante do significativo avanço, as recomendações são para que  os países revisem seus planos e "se preparem para um eventual aumento de casos e de internações por Covid-19, incluindo necessidade de terapia intensiva com suporte, como hemodiálise".

Quatro variantes, até o momento, do Sars-CoV-2 (alfa, beta, gama e delta) foram identificadas no mundo e classificadas pela OMS (Organização Mundial da Saúde) como cepas de preocupação.

Enquanto nos Estados Unidos, segundo informações do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) norte americano - publicadas pelo portal Brasil de Fato -, a variante já é responsável por mais de 93% dos casos de Covid-19, no Brasil a "delta" já está no nível de transmissão comunitária, apesar de não ser a versão predominante do vírus, de acordo com material publicado no portal Istoé Dinheiro. 

Através de sua Secretaria Estadual de Saúde, o Rio de Janeiro já apontava na última 4ª feira (04.ago.2021), que a delta já correspondia à quase metade das amostradas realizadas na capital carioca (45%). 

Nesse momento, a chamada "vigilância genômica", para rastreio dos casos mais recentes, é indicada como  saída pela Opas, que pede que os países garantam a publicação do sequenciamento genético na plataforma Gisaid, uma plataforma internacional de dados genômicos.

"Nem todos os países compartilham seus dados por meio da plataforma Gisaid, e a capacidade de sequenciamento genético pode ser diferente de um país a outro", comenta a Organização. A Opas ressalta que a falta de sequenciamento é o que passa a falsa sensação de que novas variantes não estão circulando em determinados territórios.

Diferente de outros momentos da história, a evolução da ciência e da comunicação tem sido primordiais para as respostas de saúde pública frente à pandemia de Covid-19.  Monitorar a evolução viral, quase em tempo real,permite identificar mudanças nos padrões epidemiológicos, alteração da virulência ou, ainda, a diminuição da eficácia preventiva das vacinas, pontua a Organização Pan-Americana. 

Ainda na 6ª feira (06.ago.2021), o vice-presidente da Opas alertou, em entrevista à CNN Brasil, que o aumento no número de casos confirmados de delta tendem à crescer. 

"É provável que o número vá crescer, importante dizer que a grande maioria dos casos da variante é de assintomáticos ou leves, que não percebem e não são testados”, explicou Jarbas Barbosa. 

Ainda no sábado (07.ago), a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) disse que foi encerrada a atual tendência de queda nos casos de covid-19 no país, após pouco mais de um mês de recuos, sendo que o responsável pelo boletim Infogripe, Marcelo Gomes, disse que “o país baixou a guarda sem chegar a um patamar seguro”. Até mesmo a Organização Mundial de Saúde (OMS), alertou que a delta será a variante com maior prevalência no Brasil nas próximas semanas. 

A DELTA

Classificada como mais transmissível e contagiosa, apesar de não ser apontada ainda como a mais letal, a Delta é ainda mais resistente às primeiras doses de vacinas. Com ritmo lento em sua vacinação, o Brasil chegou no sábado (07.ago.2021) à marca de 150 milhões de vacinas aplicadas,  mesmo dia que passou os 562 mil mortos pela Covid-19. 

Ter 70% da população imunizada era tida como a meta, prometida por Biden ao assumir o cargo, alcançada em agosto de 2021, o que fez com que o governo puxasse o freio do afrouxamento das restrições, segundo o portal Brasil de Fato. 

A Agência de Notícias Folhapress, compilou uma série de perguntas pertinentes, com resposta de especialistas, sobre a nova variante e a eficácia da vacinação, confira:

  • A delta interfere nos planos de voltar a frequentar espaços fechados, como bares, restaurantes, academia e salas de aula?

Espaços fechados ampliam o risco de contágio porque uma pessoa infectada que esteja no ambiente pode liberar o coronavírus em partículas menores que ficam suspensas o ar.

"Em ambientes fechados e sem ventilação, é possível ter essas partículas como nuvens no ar, o que favorece a transmissão, principalmente quando se tem máscaras de baixo poder de filtração", afirma Raquel Stucchi, infectologista e professora da Unicamp.

Recentemente, o CDC reorientou a população a utilizar máscaras de proteção em locais públicos e fechados devido ao aumento no número de infecções pela delta.

A recomendação é preferir espaços abertos, bem ventilados, com distanciamento social e uso de máscaras de qualidade, coo as do tipo PFF2.

Em locais em que é preciso tirar a máscara para se alimentar, como restaurantes e bares, é recomendado ficar em local aberto. Também é importante manter distanciamento social de outras pessoas e pôr de volta a máscara sempre que possível para evitar exposição desnecessária.

As vacinas não garantem 100% de eficácia contra o coronavírus Sars-CoV-2 –nenhum imunizante ou medicamento tem esse poder. Assim, a alta circulação do vírus no Brasil e as novas variantes fazem o risco de infecção crescer.

Em países com mais de 60% da população imunizada, como é o caso da Inglaterra, de Israel e dos EUA, os casos voltaram a subir em julho após meses de queda. Essa alta é atribuída à variante delta.

A maioria dos novos casos foi registrada em indivíduos não vacinados. Nos EUA, por exemplo, os estados que tiveram maior alta são também os que apresentam a menor taxa de indivíduos completamente imunizados, e mais de 97% dos novos casos surgiram em pessoas não vacinadas.

Infecção em indivíduos totalmente imunizados, apesar de rara, ainda pode ocorrer. Isso porque a maioria das vacinas desenvolvidas até agora protege contra os sintomas, o agravamento do quadro ou o óbito pela doença, mas não tem o poder de conter totalmente o contágio em si.

  • Qual o risco real de contrair Covid mesmo após a imunização completa? Esse risco aumenta com a variante delta?

Segundo Esper Kallás, infectologista e professor da Faculdade de Medicina da USP, as vacinas contra a Covid-19 oferecem alto grau de proteção, que é mantida para quadros graves da doença e mortes, mas há um leve escape na proteção oferecida contra contágio pela variante delta.

Um estudo recente publicado na revista científica Nature mostrou que a efetividade das vacinas para bloquear a entrada do vírus nas células é reduzida, mas ainda fica acima de 60% após duas doses da Pfizer/BioNTech e da Oxford/AstraZeneca.

Já um artigo recente publicado no periódico The New England Journal of Medicine indica que, após apenas uma dose da vacina dessas fabricantes, a proteção por resposta humoral (de anticorpos) cai de 49% para 30,7% e, com as duas doses, de 93,7% para 88%, no caso da Pfizer, e de 74,5% para 67% com a Oxford/AstraZeneca.

Esses dados mostram que, apesar de ser menos frequente, a infecção após imunização completa, conhecida como escape vacinal, ainda pode ocorrer. Em geral, contudo, os sintomas tendem a ser mais brandos.

"A pessoa pode ter uma infecção por Covid com nariz escorrendo, um pouquinho de febre que vai embora. O fundamental é pensar que a vacinação é uma estratégia coletiva, não individual, e quanto mais pessoas tivermos vacinadas na comunidade, maior será o grau de proteção geral", diz Kallás.

Especialistas afirmam que, independentemente do tipo de variante em circulação, as medidas de proteção devem permanecer as mesmas, isto é, distanciamento social, uso correto de máscaras, higiene das mãos e vacinação.

Para Vitor Mori, físico e pós-doutorando da Universidade de Vermont e membro do Observatório Covid-19 BR, o foco não deveria ser a variante em si, mas o possível aumento no número de novos casos e hospitalizações.

"Com relação à delta, é fundamental entender que as medidas de prevenção não mudam e que tudo o que fazíamos antes continua funcionando. Temos que redobrar o cuidado de prevenção dentro do que é factível", diz.

Mesmo pessoas vacinadas com as duas doses devem continuar usando as máscaras até que toda a população esteja vacinada, afirma a imunologista Cristina Bonorino. Além disso, ela lembra que já há um consenso na comunidade científica que as máscaras do tipo PFF2 são as que oferecem a melhor proteção e devem ser priorizadas, sobretudo em espaços fechados.

  • Se a delta é tão contagiosa, faz diferença eu me vacinar?

A variante delta continua sendo o mesmo vírus que causou a pandemia, com a mesma capacidade de infectar e invadir as células do hospedeiro, diz a imunologista Cristina Bonorino. A diferença é que a delta consegue driblar a proteção conferida pelos anticorpos, seja por infecção natural, seja por vacinação.

"Em uma pessoa que se infecta com a variante delta, ela consegue burlar a resposta imune muito mais rapidamente, o que faz com que mais cópias do vírus sejam produzidas no organismo, aumentando a chance de aquele indivíduo transmitir o vírus", diz.

No entanto, apesar de haver maior probabilidade de pessoas vacinadas transmitirem o vírus, Bonorino reforça que as vacinas protegem contra quadros graves da Covid. Dados recentes divulgados pelo CDC mostram que a incidência de mortes em vacinados nos Estados Unidos é de 0,04 a cada 100 mil indivíduos, enquanto a mesma taxa é de 0,96 para cada 100 mil nas pessoas não vacinadas (ou 25 vezes maior).

  • E se eu perder o prazo para tomar a segunda dose, perco o efeito da vacina?

A maioria das vacinas contra Covid-19 disponíveis foram desenvolvidas para garantir proteção total com duas doses e apresentam intervalos diferentes para aplicação entre elas. Porém, devido à escassez de doses em algumas cidades, algumas pessoas podem tomar a segunda dose fora do prazo.

Segundo Kallás, a perda do prazo da segunda dose não elimina o efeito da vacina, pois sempre haverá algum grau de proteção. Ele ressalva, porém, que o grau de proteção com apenas uma dose é menor contra a variante delta.

"Quão menor vai ser essa proteção ou qual o risco inerente não temos como calcular, porque não é um fator único, depende de quanto risco aquele indivíduo tem. É claro que uma pessoa mais idosa, com maior predisposição a desenvolver doença grave, com algum tipo de imunodeficiência, vai ter um maior risco. Isso vai depender também [do nível da] taxa de transmissão naquela comunidade", diz.

Kallás defende que haja uma avaliação por parte dos gestores sobre evetual antecipação do calendário das pessoas que receberam apenas uma dose, permitindo que sejam imunizadas totalmente.

  • Após ter tomado as duas doses, posso encontrar pessoas não vacinadas ou não totalmente imunizadas?

As recomendações de proteção são as mesmas: preferir espaços abertos e ventilados, usar máscaras de boa qualidade, manter distanciamento e sempre higienizar as mãos.

Pessoas vacinadas podem se infectar novamente por qualquer variante e transmitir o vírus para quem não se vacinou. Como a delta tem uma taxa de transmissão mais alta, a chance de uma pessoa vacinada se infectar e contaminar alguém ainda não imunizado existe e preocupa.

Estudos preliminares em alguns países, como Canadá e Escócia, indicam que a delta pode ser responsável por quadros mais graves da Covid-19 em pessoas ainda não vacinadas.

Mas, segundo o infectologista Esper Kallás, é difícil avaliar esses dados considerando populações como um todo. "O que sabemos é que há uma aceleração na cadeia de transmissão das pessoas infectadas com delta em relação às outras variantes", diz.

** (Com informações CNN Brasil; Brasil de Fato; Istoé Dinheiro e Folhapress)