07 de maio de 2024
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OPERAÇÃO LAST CHAT

Advogados, servidor e ex-PM integram equipe do 'Patrão', diz Gaeco

Gaeco apontou que a equipe do 'Patrão' tem aproximadamente 40 funcionários identificados

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A advogada Paula Tatiane Monezzi, de 38 anos, foi um dos alvos presos na Operação Last Chat, deflagrada na 4ª.feira (24.abr.24), em Campo Grande (MS).

De acordo com o Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MPMS), a advogada trabalhava para Rafael da Silva Lemos, o “Gazela” ou “Patrão”, chefe de uma quadrilha de tráfico de armas e drogas que age em Mato Grosso do Sul.

Paula é uma das advogadas presas pelo Gaeco em MS. Foto: ReproduçãoPaula é uma das advogadas presas pelo Gaeco em MS. Foto: Reprodução

O ‘Patrão’ fugiu do Estabelecimento Penal Masculino de Regime Semiaberto e Aberto de Dourados em 27 de dezembro de 2023. A polícia disse que ele aproveitou o deslocamento para consulta médica para conseguir dar fuga.

Conforme os investigadores, no mundo do crime, Paula é conhecida pelas alcunhas  “Tata [irmã na gíria paulista]” ou “gravata do PCC”. 

A advogada recebeu mais de R$ 100 mil do grupo.

Além dela, mais dois advogados, Cybelle Bezerra da Silva e Lucas Eric Ramires dos Santos, policiais militares e servidores públicos, são acusados de integrar o esquema de tráfico e lavagem de dinheiro.

Cybelle Bezerra da Silva, de 34 anos, advogada, foi capturada por ser suspeita de diversos crimes, e era investigada pelo Ministério Público do Estado de Mato Grosso do Sul.Cybelle Bezerra da Silva, de 34 anos, foi presa na 5ª.feira (25.abr.24), por agentes da Polícia Civil em Itanhaém (SP).

Assim como Paula, Lucas Eric Ramires dos Santos já foi alvo da Operação Currier (correspondência, em francês), também conhecida como Sintonia dos Gravatas deflagrada em 2022. 

Diante das denúncias da Currier que resultou na prisão de Paula, ela teve o seu registro suspenso pela Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional de Mato Grosso do Sul (OAB/MS). 

As investigações apontaram que apesar disso, ela seguiu trabalhando para o ‘Patrão’ utilizando a própria conta bancária e a do namorado, Luis Paulo Valter, que recebiam o dinheiro oriundo do tráfico – na Last Cat ele foi alvo de mandado de busca e apreensão. Paula também levantava informações sigilosas para o ‘Patrão’.

Um exemplo citado no processo foi a prisão de um dos integrantes, Jaderson Max Teixeira Brandão, flagrado com 1,5 tonelada de maconha pertencente ao ‘Patrão’. Ao tomar conhecimento da prisão de Jaderson, o ‘Patrão’ entrou em contato com Paula para que ela tomasse providências. O objetivo era verificar se havia risco de os endereços onde a droga estava armazenada serem descobertos pela polícia.

Para isso, Paula precisava descobrir o que Jaderson havia dito para a polícia. Então, a advogada pagou ao policial militar Thiago Souza Martins para que obtivesse informações privilegiadas. Depois, repassou as informações o ‘Patrão’.

Em outro caso, quem desempenhou o mesmo papel foi a advogada Cybelle Bezerra, de acordo com a investigação. Após a prisão de outro integrante e "gerente" da quadrilha, Ítalo Eufrásio Lemos, ou "Itim", Cybelle o visitou com objetivo de orientá-lo sobre o que dizer para a polícia e não comprometer a quadrilha. Lucas Eric foi contratado e exerceu a mesma função, repassar recados do ‘Patrão’.

O Gaeco apontou que a equipe do 'Patrão' tem aproximadamente 40 funcionários identificados, entre os quais um ex-policial militar, um servidor público municipal e o trio de advogados. 

GERENTES

A quadrilha tinha uma divisão de "gerentes" composta por Ricardo Rodrigues Silva, Ítalo Eufrásio Lemos, ou "Itim", Kelli Letícia de Campos, e Klemerson Oliveira Dienstman. Eles exerciam espécie de liderança em relação aos demais integrantes.

Para ajudar na lavagem de dinheiro, uma das principais empresas de fachada foi aberta no nome de Kelli, a KLC Construções e Transportes em Logística Eireli, com endereço no Bairro Parati, em Campo Grande. Com ajuda das empresas de fachada, a investigação aponta que Kelli Letícia também guardava os veículos do ‘Patrão’. Kelli também contava com ajuda de um contador, para dar legitimidade à contabilidade da empresa.

Outro gerente da quadrilha, Klemerson, movimentou, entre 14 de dezembro de 2021 e 23 de março de 2023, R$ 59,9 mil. Com a quebra de sigilo bancário, a investigação também descobriu que a quadrilha movimentou R$ 1,5 milhão entre 26 de maio de 2020 e 17 de março de 2023.

QUEM SÃO OS ALVOS

Vamos dividir os alvos assim:

  • Líder: Rafael da Silva Lemos.

Os gerentes: 

  • Ítalo Eufrásio Lemos - já custodiado no sistema prisional;
  • Kelli Letícia de Campos - dona da empresa de fachada;
  • Klemerson Oliveira Dienstmann - já custodiado no sistema prisional;
  • Ricardo Rodrigues da Silva. 

Os funcionários que já estavam presos e agiam de dentro da cadeia: 

  • Anderson da Silva Ferreira;
  • Cleber Ferreira Alves;
  • Fabiano Augusto Cavalheiro Parraga;
  • Glenio César da Costa Muller;
  • Jaderson Max Teixeira Brandão;

Os presos pela operação, que agiam na organização criminosa de fora da cadeia: 

  • Aldair Antônio Garcia;
  • Alex Benitez Gamarra;
  • Débora Cristina dos Santos;
  • Edson Ribeiro de Souza;
  • Lindisleir Aguilera do Nascimento;
  • Francisco Jackson Sales;
  • Francisco Weverton Moura Amorim;
  • Mayron Mendes da Silva;
  • Sérgio Vinícios Cândia;
  • Suellen Pereira de Souza;
  • Valdinei Freitas Lopes;
  • Viviane Fontoura Holsback;
  • Renan Santana de Souza.

A equipe de gravatas e econômica: 

  • Cybelle Bezerra da Silva - advogada;
  • Lucas Eric Ramires dos Santos - advogado;
  • Paula Tatiane Monezzi - advogada;
  • Sérgio Simão da Silva - contador da empresa de fachada. 

Informações sobre o paradeiro do 'Patrão' poderão ser comunicadas à Ouvidoria do Ministério Público de Mato Grosso do Sul (telefones: “127” e “0800-999-2030” – internet: mpms.mp.br/ouvidoria).

OPERAÇÃO

O Ministério Público de Mato Grosso do Sul, por meio do GAECO, iniciou a Operação Last Chat, desmembramento da Operação Courrier, para cumprimento de 55 mandados judiciais em Campo Grande/MS, Ponta Porã/MS, São Paulo/SP e Fortaleza/CE.

Em nota (eis a íntegra), o MPMS disse que o objetivo é desmantelar uma organização criminosa que atua no tráfico de drogas e armas em cinco estados.

As investigações revelaram toneladas de drogas apreendidas e um prejuízo ao crime organizado superior a R$ 9 milhões.

A operação contou com o apoio de diversas instituições. 

Last Chat (tradução livre: último bate-papo) alude ao esperado encerramento do contato até então mantido entre os integrantes presos e o mundo externo, por efeito da Operação.