08 de maio de 2024
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Choveu, alaga. Essa é a realidade das famílias da favela Cidade de Deus

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Além da falta de energia após a retirada dos geradores que estavam Cidade de Deus, os moradores do local sofrem também com as fortes chuvas que caem em Campo Grande. A reportagem do MS Notícias compareceu, na tarde da última terça-feira, na favela e presenciou de perto o que as pessoas da região enfrentam com dias chuvosos e como estão sobrevivendo sem energia durante todo o dia.

Chegando ao local, a Reportagem encontrou com a catadora Sheila Gonçalves limpando seu barraco que foi todo inundado com barro durante a chuva. De acordo com ela, toda vez que chove é esse sofrimento. Sheila aproveitou a oportunidade para contar que já perdeu muitas coisas de sua casa após as chuvas.

“Já perdi colchão, roupas, pois tudo molha não temos onde secar aí acaba mofando tudo e temos que jogar fora. Já não temos condições de ficar perdendo as coisas né. Mas, todas as vezes que chove aqui na favela é isso que acontece. Casa toda molhada”, desabafa a moradora.

Sheila levou a reportagem até a casa de sua vizinha Letícia De Paula. O barraco estava todo molhado por dentro e com poças de água por todo canto do terreno. A mulher que tem dois filhos, sendo uma recém-nascida, desabafa com a reportagem dizendo que sofre por duas.

“Minha filha é recém-nascida. Ela precisa de roupas secas e quentes. Com essa chuva o carrinho que ela dorme já molhou e algumas das roupas delas também. E se ela ficar doente? Quem cuida? Sou eu né. Porque as autoridades só vêm até a gente quando precisam. Eu sofro pela minha filha”, desabafa chorando.

Santina Vilme encontrou com a reportagem do MS Notícias e disse que com a chuva que caiu na última terça-feira, em Campo Grande perdeu sua cama, pois molhou e encheu de barro o que segundo ela, não teria mais condições de usar.

“Alagou minha casa e com isso molhou toda minha cama. Tinha barro para tudo quanto é lado do meu barraco. É difícil demais essa situação. Agora indo para o Noroeste só ajudará na energia, mas no resto fica do mesmo jeito. Vamos continuar sofrendo com chuva e agora com serviço, pois não teremos condições de sair de lá para vim trabalhar no lixão”, fala Santina.

A vendedora Edna Marcelino da Silva que não é casada e está com o filho internado no Centro de Reabilitação pediu ajuda do MS Notícias. Edna explica para a reportagem que teria que sair da Cidade de Deus para uma casa e não para o Noroeste continuar vivendo em barraco.

“Se for isso eu tinha que continuar aqui. Não tenho mais força para montar um barraco sozinha. O que eu vou fazer lá? Nós somos pobres e com isso somos descriminados por muitos. A gente confia nesses políticos, pois nós temos que confiar em alguém e depois que passa tudo eles nos viram as costas. O prefeito deveria nos dar uma moradia digna, pois nós já estamos escravizados suficiente. Nossa vida aqui se resume só em sofrimento”, desabafa a moradora.

Remoção

Outra reclamação dos moradores da favela Cidade de Deus é sobre a remoção das famílias para o Noroeste até a próxima quarta-feira. De acordo com Letícia, o comunicado que chegou da prefeitura de Campo Grande é que toda a favela deverá estar desocupada até dia 3 de novembro.

“Quem for para lá e quem não for tem que desocupar a favela até quarta. Quem vai irá fazer um cadastro e quem não for tem que desocupar a área de qualquer maneira. Segundo a prefeitura, eles vão armar uma tenda no começo da favela para fazer os cadastros e vão dar um caminhão para levar nossa mudança”, explica Letícia.

Questionado pela reportagem se as moradoras estão gostando da mudança que irá acontecer para o Noroeste, as catadoras afirma que essa foi a pior solução que o prefeito poderia pensar para resolver o problema da favela.

“Lá quando chove alaga mais que aqui. Nossos barracos vão flutuar lá. Fora que a maioria das pessoas que moram aqui na favela trabalham no lixão. Como vamos sair de lá para vim trabalhar aqui no lixão. É muito longe. Vamos viver como lá? Vamos passar fome?”, questiona Sheila e Letícia.

Sobre a indiferença do prefeito Gilmar Olarte (PP) com as pessoas que moram na favela Cidade de Deus, Sheila desabafa e fala que está cansada de ser procurada pelas autoridades só quando precisam de votos para se eleger.

“Quando precisava ele passou aqui. Fez uma reunião, subiu no palco e prometeu que ia melhorar nossa situação. Que não ia abandonar a Cidade de Deus e nós estamos abandonados. Em uma reunião que o Olarte fez na prefeitura comigo e meu marido o prefeito bateu na mesa e disse em alto e bom som que nem Deus vai tirar ele da prefeitura. Isso é um absurdo um prefeito falar isso. em vez dele falar isso ele tem que trabalhar para nos ajudar”, desabafa Letícia.

Sheila fez questão de dizer que os políticos de hoje em dia só aproveitam das pessoas mais pobres para conquistar a confiança e se eleger. “A vida é injusta e cruel. Eles aproveitam os pobres para conquistar nossa confiança, pois nós acabamos acreditando por querer realmente que alguém olhe para nós. Mas isso só acontece em época de eleição”.

O uso de lamparina pelos moradores da Cidade de Deus nesses dias em que estão sem energia ficou comum. Os moradores não conseguem entender o motivo para que o prefeito deixe a favela até o dia da mudança sem nenhuma energia.

“Se ele deixasse a energia como estava antes só a noite para a gente seria ótimo. Já ajudava. Agora totalmente sem energia é muito complicado. A saída para ficar aqui de noite é acender a lamparina o que é perigoso, pois é com óleo diesel. A gente acorda com o nariz todo preto”, reclama as moradoras.

Karla Machado