04 de maio de 2024
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'FOGO NO PARQUINHO'

Bolsonaristas de MS se confundem com desorientação do seu líder

Sob derretimento político e grande chance de ser preso, ex-presidente põe PL e aliados na corda bamba

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O bolsonarismo continua eleitoralmente forte no Brasil. Contudo, o derretimento moral e político de seu líder começa a agigantar-se, diante das sucessivas revelações sobre atitudes deploráveis que cometeu no exercício da presidência da República. E o peso dos desgastes que já se acumulam pode impactar negativamente na balança eleitoral neste ano de disputas para as prefeituras e câmaras municipais.

Os bolsonaristas de Mato Grosso do Sul andam preocupados com as incertezas sobre seu futuro político e eleitoral. Tudo por causa do que já acontece e do que ainda está por vir na conta de Jair Bolsonaro. Inelegível até 2031— e com outros processos que podem multiplicar a sua pena — desmascarado pela delação de um de seus homens de confiança, no alvo de demolidoras investigações da Polícia Federal (PF) e do Supremo Tribunal Federal (STF), Jair Bolsonaro joga suas últimas fichas.

INCENDIÁRIO

Ontem dia 16  sexta-feira, em entrevista ao programa "Boca do Povo", da Rádio Difusora de Campo Grande, o ex-mandatário jogou mais querosene na fogueira em que anda se queimando. Mesmo ciente que expressivos nomes da política local aguardavam ansiosamente sua posição sobre quem desejaria apoiar ou lançar na disputa pela prefeitura da Capital, Bolsonaro surpreendeu e salientou que o deputado estadual João Henrique Catan (PL) já estaria praticamente com a pré-candidatura decidida, sendo ele seu garantidor.

A declaração foi uma carga de água congelada sobre lideranças que aguardavam pelo menos o compromisso de buscar o entendimento para lançar uma chapa bolsonarista, com candidatura do PL ou de partidos do bloco de direita. Apesar de ainda acreditarem na sua força para chegar às urnas, os bolsonaristas de Campo Grande estão divididos por partidos, grupos e projetos que se chocam. Não demonstram intenção de construir uma chapa única, com a presença de todos os partidos de direita, e sem esta engenharia, com Bolsonaro cada vez mais desgastado, correm o risco de sofrer um duro revés na eleição.

Jair Bolsonaro e João Catan: pré-candidatura já desenhada no mosaico  Foto: DivulgaçãoJair Bolsonaro e João Catan: pré-candidatura já desenhada no mosaico  Foto: Divulgação

Bolsonaro simplesmente descartou gente até com melhor condição eleitoral, dentro e fora de seu partido, como o deputado federal Marcos Pollon (o mais votado dos oito eleitos) e o estadual Coronel David, no PL; a prefeita Adriane Lopes (PP); e o ex-deputado e ex-candidato a governador Capitão Contar (PRTB). Os quatro contavam com um mínimo aceno do ex-presidente para lutar por suas candidaturas. Deu chabu.

Capitão Contar e Marcos Pollon: pré-candidaturas escanteadas em entrevista Foto: Correio do EstadoCapitão Contar e Marcos Pollon: pré-candidaturas escanteadas em entrevista Foto: Correio do Estado

 Catan  o mesmo que usou a Internet para participar de uma votação na Assembleia Legislativa enquanto se divertia com sua arma num estande de tiro  já está em pré-campanha. Pollon, David, Contar e Adriane, embora escanteados, ainda torcem por uma intervenção da Executiva Nacional do PL, cujo presidente, Valdemar da Costa Neto, é quem detém as rédeas do jogo político interno.

O deputado estadual Coronel David: pré-candidatura na linha do descarte   Foto: Juliana NassarO deputado estadual Coronel David: pré-candidatura na linha do descarte   Foto Juliana Nassar

ACIMA DO PARTIDO

Bolsonaro não tem qualquer compromisso ou espírito partidário. Despreza esta condição. Acredita que pode controlar a legenda da forma que entender. Minimiza a habilidade e os segredos de Costa Neto para manter firmes em suas mãos as rédeas do partido. E não se dá conta que Costa Neto também vive uma situação semelhante à sua, desde a Operação Tempus Veritatis.

Deflagrada dia 8 deste mês, a operação da PF segue o curso das investigações sobre a tentativa de golpe de Estado que eclodiu em 08 de janeiro.

A mira da PF está apontada para Jair Bolsonaro e alguns de seus ex-assessores civis e militares, além de parceiros políticos, entre os quais Costa Neto, que acaba de deixar a prisão sob habeas corpus. Nos últimos dias a desastrosa conjuntura do ex-presidente piorou. Antigos aliados já criaram distâncias seguras, outros se recusaram a engrossar a manifestação que ele convocou para o dia 25 na Avenida Paulista.

A cada momento entram em cena novos ex-bolsonaristas. Um deles, o apresentador Danilo Gentili, que era seu apoiador, agora atira contra. Sobre a convocação para o dia 25, Gentili sugere, ironicamente, que os seguidores de Bolsonaro apareçam "pra defender" um "velho mentiroso" e o chama de "um embuste". A avalanche de denúncias, acusações, fatos e indícios não para de cair sobre Bolsonaro, que insiste na estratégia de se vitimizar.

Hoje, a possibilidade de prisão do ex-presidente é muito maior e já não se escora somente na delação premiada do seu ex-ajudante de ordens, tenente-coronel Mauro Cid, e no impactante vídeo da reunião que discutiu as maneiras de impedir a derrota de Bolsonaro nas urnas e conservá-lo no poder. Surgem novas descobertas, como o depósito suspeito de R$ 800 mil feito por Bolsonaro no exterior após a derrota para Lula.

Assim, haverá uma espécie de queda-de-braço entre Bolsonaro e Costa Neto para decidir com quem o bolsonarismo vai caminhar na sucessão campo-grandense. Se o nome de Catan vingar, será por imposição, mas o PL poderá perder a companhia eleitoral do PRTB de Contar, ao passo que o PP caminhará na própria faixa, dividindo os votos da direita. Os adversários vão agradecer.