O sistema de pagamentos instantâneos brasileiro, o PIX, criado pelo Banco Central do Brasil, entrou na mira do governo dos Estados Unidos.
A ofensiva, liderada pelo presidente Donald Trump após apoio da família do ex-presidente Jair Bolsonaro, se formalizou na última 3ª feira (15.jul.25), com a abertura de uma investigação comercial contra o Brasil.
O alvo dos EUA é claro: “serviços de pagamento eletrônico desenvolvidos pelo Estado brasileiro”. Na prática, trata-se de uma tentativa dos EUA de frear o avanço de uma tecnologia pública e gratuita que tem incomodado o setor financeiro norte-americano.
Em linguagem diplomática, o Escritório do Representante de Comércio dos EUA (USTR) acusa o Brasil de “práticas desleais” por fomentar uma infraestrutura de pagamentos estatal. A alegação, no entanto, soa como pretexto. O sucesso do PIX incomoda — e muito — as gigantes americanas.
PIX: INOVAÇÃO PÚBLICA QUE ASSUSTA WASHINGTON
Gratuito para pessoas físicas e com custos irrisórios para empresas, o PIX representa um desafio direto ao modelo de negócios de bandeiras de cartão de crédito como Visa e Mastercard, símbolos do sistema financeiro norte-americano. Também pressiona fintechs e big techs dos EUA, que lucram justamente com taxas sobre transações.
Ao contrário do que ocorre nos EUA, onde o envio de dinheiro instantâneo ainda é frequentemente cobrado, o Brasil adotou um modelo público, eficiente e universal. Essa quebra de paradigma é o que parece estar por trás da reação de Trump.
DÓLAR NA BERLINDA
O desconforto vai além da economia. Especialistas apontam que o PIX Internacional, em desenvolvimento pelo Banco Central, e as discussões no âmbito do Brics, capitaneado pelo líder mundial Luiz Inácio Lula da Silva, atual presidente do Brasil, sobre alternativas ao dólar estão acendendo alertas em Washington.
A possibilidade de que países como China, Índia, Rússia e Brasil utilizem o PIX como modelo de integração financeira — fora da órbita do sistema SWIFT e da moeda americana — representa uma ameaça real à hegemonia do dólar no comércio internacional.
Trump, que já ameaçou aplicar tarifas contra países do Brics, tem repetido publicamente sua oposição a qualquer iniciativa que reduza a influência americana no sistema financeiro global. A cruzada contra o PIX, portanto, ganha contornos geoestratégicos.
MODELO BRASILEIRO VIRA VITRINE
Na prática, o PIX colocou o Brasil no mapa da inovação pública global. Já foram movimentados mais de R$ 26 trilhões apenas em 2024. O sistema virou referência para outros países — inclusive desenvolvidos — e mostra que é possível garantir inclusão financeira com custo quase zero.
É justamente isso que desestabiliza os interesses comerciais dos EUA. Enquanto a adesão ao FedNow (versão americana de pagamentos instantâneos) é baixa e limitada, o PIX se popularizou rapidamente em todo o território nacional e já começa a se expandir internacionalmente.
INTERFERÊNCIA VELADA
A tentativa de Trump de rotular o PIX como “prática desleal” contradiz o discurso clássico norte-americano de apoio à livre concorrência. Ao que parece, a liberdade de mercado vale, desde que o jogo não ameace os grandes players dos EUA.
Casos semelhantes ocorreram na Indonésia, China e Índia, onde iniciativas locais de pagamento também foram questionadas pelos EUA. Mas o que está em jogo, no fundo, é o domínio de mercado. Quando a concorrência vem de um país emergente, e ainda por cima via setor público, a reação é imediata.
BIG TECHS VEEM O PIX COMO OBSTÁCULO
Além das empresas de cartão, gigantes como Google e Meta também sentem os impactos. O WhatsApp, por exemplo, chegou a ter seu sistema de pagamentos suspenso no Brasil antes do lançamento oficial do PIX. Com a consolidação do modelo brasileiro, essas plataformas enfrentam maiores barreiras regulatórias.
A tensão entre o STF e as big techs também adiciona combustível à insatisfação de Trump, que já manifestou apoio à desregulamentação das plataformas em diversas ocasiões.
TRUMP QUER FREAR O BRASIL
A ofensiva dos EUA contra o PIX é, na prática, uma reação ao sucesso de uma política pública que funcionou. Em vez de competir com inovação, opta-se por pressionar via mecanismos comerciais, na tentativa de desacreditar o sistema e travar sua expansão.
No pano de fundo, o incômodo é claro: um modelo estatal, criado por um país do Sul Global, vem conquistando prestígio, inclusão e eficiência — sem depender do capital privado internacional.











