A Polícia Federal (PF) deflagrou na 4ª feira (28.mai.25) a 8ª fase da Operação Sisamnes (a nota), com o objetivo de investigar possíveis mandantes e coautores do homicídio do advogado Roberto Zampieri, ocorrido em dezembro de 2023 em Cuiabá (MT).
A ação revelou a existência de uma organização criminosa composta por militares (ativos e da reserva) e civis, especializada em crimes como espionagem e homicídios sob encomenda.
Com estrutura empresarial, o grupo assassino se denominava "Comando C4", sigla para "comando de caça a comunistas corruptos e criminosos".
COMO O C4 AGIA
Documentos apreendidos indicam que a organização mantinha uma tabela de valores para execução de homicídios, com preços variando conforme a função da vítima. Por exemplo, o assassinato de um deputado custaria R$ 100 mil, um senador R$ 150 mil e um ministro do STF R$ 250 mil.
Grupo criminoso tinha 'tabela de preços' para agir contra membros do Judiciário.(Imagem: Reprodução) Para os 'clientes', o grupo prometia usar disfarces, drones, acompanhantes como iscas e um arsenal com fuzis, pistolas com silenciador, explosivos e veículos clonados (a lista completa está no documento acima).
Parte do material foi apreendido pela PF em Minas Gerais. Veja abaixo:
Parte do arsenal do C4 apreendido em MG pela PF. JUIZ É AFASTADO
Juiz de Vila Rica (MT), Ivan Lúcio Amarante é alvo da PF no âmbito da Operação Sisamnes. Foto: ReproduçãoPoliciais federais cumpriram, nesta 5ª feira (29.mai.25), três mandados de busca e apreensão e outras ordens judiciais em Mato Grosso, durante a 8ª fase da Operação Sisamnes.
Um dos alvos foi o juiz Ivan Lúcio Amarante, da 2ª Vara da Comarca de Vila Rica (MT), afastado do cargo por suspeita de receber propinas milionárias em troca de decisões judiciais favoráveis. Ele também teve seus bens bloqueados — estimados em R$ 30 milhões — e o passaporte recolhido.
As medidas foram autorizadas pelo ministro Cristiano Zanin, do Supremo Tribunal Federal (STF). Ivan já estava afastado das funções por decisão do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), onde responde a um processo disciplinar.
De acordo com a PF, há indícios de que familiares do magistrado receberam valores por meio de uma empresa ligada ao lobista Andreson de Oliveira Gonçalves, preso desde novembro por comandar um esquema de corrupção que envolvia assessores do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e outros tribunais.
Da esquerda à direita: os desembargadores Sebastião de Moraes Filho e João Ferreira Filho, e o empresário Andreson Gonçalves — que seria responsável por aproximar os desembargadores do advogado.Na defesa apresentada ao CNJ, Ivan negou qualquer irregularidade e alegou que foi citado indevidamente em diálogos do lobista. Até o momento, sua defesa ainda não se manifestou sobre as ações da PF.
Além de Ivan, outros dois desembargadores do Tribunal de Justiça de Mato Grosso — Sebastião de Moraes e João Ferreira — também são investigados e seguem afastados por decisão do CNJ.
A 7ª FASE
O fazendeiro Aníbal Manoel Laurindo foi preso em 11 de março de 2024 apontado como mandante da morte do advogado Roberto Zampieri, ocorrida em dezembro de 2023 no bairro Bosque da Saúde, em Cuiabá (MT). Aníbal é eleitor de Jair Bolsonaro (PL), assim como os outros suspeitos da execução de Zampieri. Fotos: RedesA 7ª fase da Operação Sisamnes ocorreu na 4ª feira (28.mai.25), resultando na prisão de 5 pessoas integrantes do 'C4', supostamente ligadas ao assassinato de Zampieri. São elas:
- Aníbal Manoel Laurindo (produtor rural, suposto mandante);
- Coronel Luiz Caçadini (suposto financiador);
- Antônio Gomes da Silva (suposto atirador);
- Hedilerson Barbosa (suposto intermediador, auxiliar do atirador e dono da pistola 9mm usada no assassinato);
- Gilberto Louzada da Silva (ex-sargento do Exército Brasileiro).

DHPP DE MATO GROSSO
À esquerda, o coronel do Exército Etevaldo; à direita, Aníbal Manoel. Fotos: ReproduçãoA Polícia Civil de Mato Grosso considera foragida Elenice Ballarotti Laurindo, esposa de Aníbal.
De acordo com o delegado Nilson Farias, da Delegacia Especializada de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), Elenice teria feito transferências financeiras que beneficiaram o coronel do Exército Etevaldo Luiz Caçadini de Vargas.
As movimentações ocorreram em datas compatíveis com o período em que os executores do advogado Roberto Zampieri chegaram a Cuiabá. Caçadini de Vargas também foi preso, acusado de financiar o crime. Os valores transferidos não foram divulgados.
Antônio Gomes, pedreiro e atirador amador, é acusado de matar o advogado Roberto Zampieri. Foto: Gabriella ArantesEm fevereiro deste ano, a Polícia Civil já havia prendido três suspeitos ligados ao caso: o coronel Caçadini de Vargas (apontado como financiador), Antônio Gomes da Silva (possível executor) e Hedilerson Fialho Martins Barbosa (suspeito de intermediar o crime).
O pedreiro Antônio Gomes da Silva, de 55 anos, era ex-aluno do instrutor de tiro Hedilerson Fialho Martins Barbosa, de 53 anos, preso pela acusação de ter intermediado o crime. Em outubro de 2022, Hedilerson publicou uma foto em seu Instagram ao lado de Antônio, que segura uma espingarda. Na legenda, Hedilerson, que é veterano das Forças Armadas, escreveu. 'Mais um aluno aprovado. Parabéns'.NOME DA OPERAÇÃO DA PF
Hedilerson Fialho Martins Barbosa entregou a arma que a Polícia suspeita ser a utilizada na execução do advogado Zampieri. O nome da Operação Sisamnes faz referência a um episódio histórico ocorrido na antiga Pérsia, durante o reinado de Cambises II. O caso envolveu o juiz Sisamnes, que foi punido de forma exemplar após ser acusado de corrupção e de proferir uma decisão judicial injusta em troca de suborno.
Ex-sargento do Exército Brasileiro, Gilberto Lousada foi preso na 4ª feira (28.mai.25), acusada de integrar grupo assassino de MT. Ele é natural de Minas Gerais e extremista de direita como os demais integrantes. Foto: ReproduçãoSegundo registros históricos, Sisamnes foi julgado e condenado pelo próprio rei. Como punição, teve sua pele retirada ainda em vida, que depois foi usada para revestir a cadeira onde seu filho — nomeado sucessor — deveria julgar os próximos casos, como forma de lembrar constantemente o dever de agir com integridade. A história passou a ser usada, ao longo dos séculos, como símbolo extremo de combate à corrupção no Judiciário.











