26 de julho de 2024
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FEMINICÍDIO | CAMPO GRANDE (MS)

'Homem de igreja', Jair deu 5 facadas em Albynna por não aceitar o fim (vídeo)

Feminicida alegou que sua ex-esposa estava o traindo

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A professora Albynna Freitas Ribas Luiz Gonçalves, que faria 50 anos nesta 4ª.feira (1.mar.23), foi morta a facadas pelo ex-marido, o mecânico Jair Paulino da Silva, 52 anos, na tarde da 3ª.feira (28.fev.23), no estacionamento de uma galeria comercial no Bairro Nova Lima, em Campo Grande (MS).

Homem frequentador de igreja, Jair era apoiador do ex-presidente da república Jair Bolsonaro e que, apesar disso, se comportava de maneira econômica em suas redes sociais, onde muito se viam de publicações religiosas, vídeos de louvores e compartilhamentos de influencers religiosos bolsonaristas.

Jair durante 'célula' evangélica. Foto: Redes Jair durante 'célula' evangélica. Foto: Redes 

Ontem à tarde, a professora seguia para a escola Municipal Nazira Anache, no Jardim Anache, para mais um turno de trabalho. Ela era monitora escolar no local. No trajeto, porém, Albynna foi interceptada pelo ex-marido e se iniciou uma discussão no meio da rua.

Intimidada com as ameaças do ex, Albynna buscou ajuda numa galeria comercial, mas as pessoas não puderam evitar a ânsia assassina de Jair, que posteriormente voltou a interceptar a ex, dessa vez, desferiu 5 facadas contra o corpo dela. 

Câmeras de segurança do estacionamento mostram o mecânico matando a Albynna à luz do dia. Ele atingiu a faca nas regiões do pescoço, costas e peito de sua vítima. Eis o vídeo: 

Jair tentou fugir após o crime, mas foi contido por um adolescente de 17 anos, testemunha ocular. O adolescente disse que só conseguiu chegar ao casal, após Jair dar as facadas.  

Albynna chegou a ser levada ao hospital, mas não resistiu. 

HISTÓRICO DE AGRESSÃO

Jair mecânico, também conhecido pelo apelido 'Jajá' matou a esposa a facadas em Campo Grande. Foto: Redes Jair mecânico, também conhecido pelo apelido 'Jajá' matou a ex-esposa a facadas em Campo Grande. Foto: Redes 

Albynna terminou o relacionamento com Jair em 7 de fevereiro de 2023, após ser agredida a socos e ameaçada de morte pelo autor. As agressões correram, após Albynna sair para caminhar e ao voltar foi acusada pelo autor de ‘querer se mostrar para homens na rua’. Naquele dia, iniciou-se uma discussão que evoluiu para agressões físicas por parte do homem. Após ser avisado de que seria denunciado pelas agressões, Jair avisou: “Se você me denunciar, a polícia vai encontrar corpos na casa”, relatou Albynna numa solicitação de medida protetiva contra Jair, em Boletim registrado na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) da Capital. 

No registro, Albynna também revelou à polícia que o relacionamento com Jair estava desgastado e que pedia para ele ir embora, mas ele se negava. 

INVESTIGAÇÃO

Em coletiva à imprensa na 3ª.feira (28.fev), a delegada da Deam Karen Viana de Queiroz, disse que o feminicídio foi claramente premeditado, embora o autor negue que tenha planejado.

“Ele já estava com a faca, foi procurá-la portando a arma branca". O homem confessou que estava monitorando a vítima há vários dias, porém sustentou que agiu tomado pela 'emoção'. 

A Polícia Civil ouviu testemunhas que relataram que Jair Paulino queria reatar o relacionamento e que estava infeliz com as negativas de Albynna Freitas. 

"Nos disseram que ele andava alterado e falava até em tirar a vida dele. Porém, antes ia impedir que ela não fizesse isso (suposta traição) com mais ninguém. Então, claramente premeditado!", avaliou a delegada.

À polícia, o criminoso disse que matou a ex-esposa depois de descobrir que foi traído, isso é, por não aceitar o fim do relacionamento. 

HOMENAGENS

Dezenas de internautas usaram a rede social para se despedir de Albynna. 

Aparecida Alves, colega de trabalho de Albynna se classificou o ato de Jair como 'bárbaro', questinando até quando pessoas do sexo feminino serão mortas por ex-maridos: "Na vida, podemos nos deparar com diversas situações que exigem muita força para superá-las. Todavia, nem sempre é fácil ser forte o tempo todo. Hoje foi um dia assim, dia de tristeza a ponto de me fazer chorar, chorar muito! Chorei sim! chorei pela perda de uma amiga de trabalho que diariamente me cumprimentava e não mais o fará. Ela foi vítima de feminicidio quando estava a caminho do seu trabalho. Morreu pela condição de ser mulher . Um homem covarde, bárbaro , movido pelo ódio e sentimento de posse tirou _lhe a vida ! Ele Tirou_lhe a vida pois não aceitou o NÃO. Até quando meu Deus vamos ver estampadas nas páginas dos jornais reportagens sobre vidas perdidas por feminicidio ? Até quando vamos chorar por outras mulheres que não aceitarem ser propriedades de homens desprovidos de caráter? Até quando ???? Hoje chorei sim pela ausencia da amiga de trabalho Albynna Freitas Hoje estou enlutada por todas as mulheres vítimas de feminicidio ! Quanta dor e tristeza sinto neste momento ! — sentindo-se de coração partido". 

Joyce Garcia postou uma foto de Albynna segurando um cachorrinho, lamentando não poder celebrar o aniversário da amiga, ceifada antes disso: "Não tenho palavras para descrever o que estou sentindo, queria muito estar nesse momento te desejando toda felicidade do mundo, marcando uma festa de aniversário para comemorar seu ‘niver’, mas infelizmente não será possível. Semana passada inteira perdemos um cachorro, porque fugiu e isso nos deixou muito chateada, até encontrarmos ele. E agora! Um nojento, inútil, canalha e por aí vai, tirou você da sua rotina, família, amigos e serviço. Descanse em paz amiga Albynna Freitas". 

Albynna se livrou do relacionamento violento há 21 dias, quando foi morta na véspera de seu aniversário de 50 anos. Foto: RedesAlbynna se livrou do relacionamento violento há 21 dias, quando foi morta na véspera de seu aniversário de 50 anos. Foto: Redes

Também profissional da educação, Lilian Pires disse: "Hoje foi um dia que jamais vou esquecer. Perdi uma amiga brutalmente. Mulheres, vamos nos unir! Chega de feminicidio! Deus te receba em seus braços Albynna Freitas".  

A Secretaria Municipal de Educação de Campo Grande (Semed-CG) postou uma arte com um texto (abaixo) em lamento a morte de Albynna:  

DADOS 

Dados da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) mostram que, nos últimos 3 anos, 79 mulheres tiveram a vida ceifada por homens com quem se relacionavam em Mato Grosso do Sul. Na maioria dos casos, os indivíduos eram ex-maridos que não aceitavam o fim do relacionamento.

De acordo com o gráfico da Sejusp, em 2021, 31 mulheres foram mortas; em 2022, 43 mulheres foram mortas, já nesses primeiros dois meses de 2023, 5 mulheres foram mortas. Eis o gráfico: 

No ano passado, apenas na Capital, 12 mulheres foram mortas por ex-companheiros.