19 de dezembro de 2025
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OEPRAÇÃO OMERTÀ

Jamilzinho, policial e guarda são condenados a 66 anos de prisão

'Julgamento da década' encerrou após 3 dias em Campo Grande

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Como era esperado, o Júri Popular do Tribunal campo-grandense condenou na noite da 4ª feira (19.jul.23), Jamil Name Filho, o Jamilzinho, de 46 anos, o ex-guarda municipal Marcelo Rios, de 46 anos, e o policial aposentado Vladenilson Daniel Olmedo, de 64 anos. Ao todo, o trio cumprirá 66 anos de prisão.

Eles estavam presos desde 27 de setembro de 2019, após serem alvos da Operação Omertà em Campo Grande (MS), que desmantelou uma organização criminosa ligada ao 'jogo do bicho'. 

Apesar disso, a decisão judicial de ontem refere-se a um homicídio qualificado. 

Jamilzinho, foi condenado por ser o mandante da emboscada para executar o Capitão da Polícia Militar aposentado, Paulo Roberto Teixeira Xavier, o PX, de 52 anos, ex-integrante da suposta ‘escolta armada’ dos ‘Name'. PX teria sido setenciado a morte pelo Names após ser considerado traidor numa operação financeira de compra de terras. 

Segundo a denúncia do Ministério Público Estadual (MPE), Rios e Vlad teriam planejado a emboscada, contratado e enviado os matadores de aluguel: Juanil Miranda de Lima e José Moreira Freixes, o “Zezinho”, à casa de PX, no Jardim Bela Vista, em 9 de abril de 2019. No ataque, porém, os atiradores acabaram matando por engano, Matheus Coutinho Xavier, de 20 anos, filho de PX, alvejado diversas vezes por tiros de AK-47, quando manobrava a caminhonete do pai, retirando-a da garagem.

AS SENTENÇAS 

Jamilzinho pegou 23 anos e 6 meses de cadeia em regime fechado, sendo 20 anos de prisão para homicídio qualificado e de 3 anos e 6 meses para o de porte ilegal de arma.

Apontados como organizadores da execução, Rios e Vlad pegaram penas com diferenças de dois anos de reclusão:

Rios, pegou 23 anos e 6 meses de cadeia em regime fechado, sendo 18 anos de prisão por homicídio qualificado, 3 anos e 6 meses pelo porte ilegal de arma e 1 ano e 6 meses pelo crime de receptação.

Vlad, pegou pegou 21 anos de cadeia em regime fechado, sendo 18 anos por homicídio qualificado e 3 anos e 6 meses por porte ilegal de arma.

O JULGAMENTO 

O julgamento começou na 2ª (17.jul.23), na 1ª Vara do Tribunal do Júri de Campo Grande (MS). 

No 1º dia, foram ouvidos os delegados Daniella Kades, Tiago Macedo, Carlos Delano, o investigador da Polícia Civil, Giancarlos de Araújo e Silva e PX.

Na 3ª feira (18.jul), foi ouvido o delegado João Paulo Sartori, testemunha de acusação que não deu tempo de ser ouvida no 1º dia. Também depuseram, na 3ª, as testemunhas de defesa, entre elas a esposa de Rios, Eliane Benitez Batalha dos Santos.

A defesa, em seguida, solicitou a oportunidade de depoimento aos acusados. (Veja o que os 3 disseram aqui).

Na 4ª feira (19.jul), a defesa e acusação do processo fizeram o duelo final.

Por volta das 22h da 4ª feira o juiz da 2ª Vara do Tribunal do Júri, Aluízio Pereira dos Santos leu a sentença condenatória. 

1ª VEZ NO JÚRI POPULAR

Embora já tenha sido sentenciado por extorsão armada, organização criminosa e porte ilegal de armas – condenações que já somam 23 anos e 2 meses de prisão – Jamilzinho nunca tinha ido à júri popular.

Jamilzinho também responde a outras duas ações de ser mandante do assassinato de desafetos da família. Ele foi absolvido por uma acusação de obstrução da Justiça.

Das 3 sentenças acima, Jamilzinho pode recorrer das penas fixadas em 12 anos por extorsão, 6 anos por organização criminosa, e 4 anos e 6 meses pela acusação de porte ilegal de armas.

FAMÍLIA 'DONA DO JOGO DO BICHO'

É inédito esse julgamento, no sentido de que a 1ª vez que a justiça sul-mato-grossense penaliza uma organização criminosa ligada ao jogo do bicho.

Jamilzinho e o Velho [Jamil Name], seu pai, supostamente formaram uma milícia (guarda pessoal de ex-policiais), criada para eliminar desafetos, segundo força-tarefa do Ministério Público Estadual (MPMS) e Polícia Civil.

A suspeita é de que a milícia tenha executado pelo menos essas três pessoas na capital sul-mato-grossense:

  1. Ilson de Figueiredo, de 62 anos, então chefe de segurança da Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul, assassinado no dia 11 de junho de 2018, na avenida Guaicurus, no Jardim Itamaracá. O homem foi perseguido e foi morto a tiros por suspeitos que estavam em outro veículo.
  2. Orlando da Silva Fernandes, em 26 de outubro de 2018. Ex-segurança do narcotraficante Jorge Rafaat, executado em junho de 2016, em Pedro Juan Caballero, na fronteira com o Brasil.

  3. Matheus Xavier, de 20 anos.

Outras mortes ainda são investigadas. 

Anos a fio, Jamilzinho e o 'Velho' montaram um império com compra de imóveis, gado, título de capitalização e até o Joquéi Club de Campo Grande, que foi criado e comandado pelo o Velho.

O MPMS detalhou em uma das acusações o “conhecimento geral do envolvimento da família Name com o jogo do bicho e que embora se trate de contravenção penal, tal conduta fomenta outros crimes como corrupção, extorsão, lavagem de dinheiro e até mesmo homicídios”.