24 de abril de 2024
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ARMAS E VIOLÊNCIA

Na Capital de estado 'bolsonarista', número de homicídios cresce 22,8% em 2022

Campo Grande caminha para virar 'terra sem lei'

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Mato Grosso do Sul é um dos estados “bolsonaristas” do Brasil e é onde residem personalidades que “brigam pela liberação do uso de armas”, inclusive parlamentares. A capital do estado registrou nesses primeiros 6 meses de 2022 o aumento em 22,8% do número de homicídios, em contraponto, ocorreu a flexibilização da compra de armas de fogo. Esses números vem crescendo desde 2019.  

Segundo dados da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), até esta quinta-feira, 28 de julho, ocorreram 70 homicídios em Campo Grande, sendo que no mesmo período do ano passado, foram 57 registros. Um aumento de 22,8%.

O último homicídio ocorreu na terça-feira (26.jul.22), quando Adriano Ferreira Ocampos, de 34 anos, foi morto a tiros no cruzamento das ruas Manoel Pereira de Souza com a João Fernandes Sardinha, Jardim Los Angeles, em Campo Grande. A vítima foi atingida por ao menos oito tiros, parte deles na região do peito.

Os dados mostram que somente no mês de janeiro, o número é quase o dobro se comparado ao mesmo período de 2021, quando foram 8 homicídios. Este ano o número chegou a 15. A estatística da Sejusp faz a comparação entre os meses e anos, sendo que apenas nos meses de março e abril do ano passado houve mais registros que em 2022: foram 12 mortes em março de 2021 e este ano 10. Já em abril do ano passado foram registrados 10 homicídios. Neste ano, são oito.

Em todo Mato Grosso do Sul também houve aumento nos casos, conforme os dados da Sejusp. A estatística mostra que foram registrados 233 crimes de janeiro a julho de 2021. Neste ano, de 1º de janeiro a 28 de julho, já são 252. Em Dourados foram 36 homicídios no ano passado e 19 neste ano. Em Coxim foi registrado apenas um homicídio em 2021, já este ano, são quatro mortes pelo crime.

ARMADOS “ATÉ OS DENTES”

Mato Grosso do Sul contabiliza uma arma de fogo registrada para cada 115 habitantes, de acordo com dados da Polícia Federal (PF). São 24,6 mil armas para aproximadamente 2,8 milhões de moradores.

Considerando o índice populacional do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Estado ocupa a 10ª posição entre unidades federativas com maior número de armas.

Encabeçam a lista o Distrito Federal, com uma arma a cada 12 pessoas, seguido pelos estados do Acre (uma arma a cada 57 pessoas), Rondônia (60), Mato Grosso (68) e Santa Catarina (77). Curiosamente, alguns dos estados brasileiros mais violentos. 

Em 2022 foram registradas cerca de 1,7 mil novas armas em Mato Grosso do Sul. Desde 2018, foram quase 10 mil novos equipamentos com registro em território estadual. Tais números foram divulgados pelo jornal Folha de S. Paulo, a partir de um pedido de Lei de Acesso à Informação (LAI).

Os registros são feitos no Sistema Nacional de Armas (Sinarm), que contempla armas da Polícia Civil, guardas municipais, caçadores de subsistência, servidores públicos e lojas de armas.

Desde a eleição de Jair Bolsonaro (PL), o governo federal já editou 19 decretos, 17 portarias, duas resoluções, três instruções normativas e dois projetos de lei que flexibilizam as regras para ter acesso a armas e munições.

No Brasil, as armas são liberadas pela PF e pelas Forças Armadas, que contemplam armamento particular de oficiais, incluindo policiais e bombeiros, além dos caçadores, atiradores e colecionadores (CACs).

O porte de arma é concedido pela Polícia Federal e restrito a determinados grupos, como profissionais de segurança pública, membros das Forças Armadas, policiais e agentes de segurança privada.

A nova legislação diz que os CACs podem carregar armas no trajeto entre sua casa e o local de prática, como clube de tiro ou local de caça. Desta forma, não há restrição de rota ou de horário, o que, segundo especialistas, significa autorização para o porte, dada a subjetividade da regra.

QUEDA DO NÚMERO DE HOMICÍDIOS

Jair Bolsonaro e seus filhos foram às redes sociais celebrar “a queda no número de homicídios no Brasil”, divulgado em maio de 2022 pelo índice nacional de homicídios criado pelo G1, com base nos dados oficiais dos 26 estados e do Distrito Federal.

Em conversa com apoiadores no cercadinho em frente ao Palácio do Alvorada, o chefe do Executivo relacionou a redução de assassinatos ao aumento do acesso a armas de fogo.

“Viram que o número de homicídios com arma de fogo caiu? O menor número histórico. A imprensa não fala que entre outras coisas [sobre] a liberação das armas para o pessoal de bem. O cara pensa duas vezes antes de fazer uma besteira. Agora, se tivesse aumentado quem era o culpado? Não precisa dizer” , declarou.

Apesar da afirmação de Bolsonaro, os dados indicam que nos estados onde ocorreu o libera geral a “armas de fogo”, o número de homicídios na verdade cresceu. Na contramão do país, cinco estados “armados até os dentes” registraram alta nas mortes: Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Pernambuco, Piauí e Rondônia.

A região não votante de Bolsonaro, que refuta suas ideias, Norte, teve o estado com maior queda do país, o Acre, que teve redução de 30% nas mortes violentas no trimestre. Apesar de a maior parte do país estar caminhando para a diminuição de mortes violentas, o Centro-Oeste segue o caminho oposto.

Isso porque dois estados da região tiveram altas consideráveis: Mato Grosso do Sul (17%) e Mato Grosso (15%).

*Com Campo Grande News.