Cleyton Matos Campos, servidor da prefeitura de Coxim (MS), motorista do ônibus escolar que atropelou e matou, na manhã desta 4ª feira (12.nov.25), a acadêmica de enfermagem Letícia Camargo, de 25 anos, estava 'sonolento' ao volante.
A informação foi repassada ao MS Notícias por uma testemunha que estava no ônibus e terá seu nome preservado.
DINÂMICA RELATADA POR UMA TESTEMUNHA

Conforme a testemunha, o ônibus tinha acabado de fazer a curva e passou na frente dos carros: "Aí ele falou bem assim: Esse carro... essas porra desses carros ficam aqui na frente. Depois que ele falou isso, eu só escutei — quer dizer, só senti o vidro vindo nas minhas costas e ele passando por cima de, entre aspas, um buraco", lembrou a testemunha.
"Depois que ele passou pelo "buraco", ele olhou pro retrovisor e falou: Meu Deus. Ele falou 'Meu Deus' muito rápido, e depois: “Sai, sai, sai, sai! Deixa eu sair, deixa eu sair! A gente saiu — eu, as *** [minhas amigas]. A gente estava as três sentadas ali conversando com ele, porque ele estava quase dormindo no volante", revelou.
Em seguida, a testemunha lembrou que o motorista pediu à ela para ir comprar bala. "Porque ele estava com muito sono. Ele tava com muito sono mesmo, quase dormindo no volante, literalmente. Aí ele reclamou do carro e, depois disso, aconteceu isso", lamentou.
Ainda segundo a testemunha, quando passou sobre o suposto 'buraco', o motorista desceu e falou à testemunha em pânico: “Eu matei ela".
"Na hora que eu saí do ônibus para olhar, eu vi a mulher... eu caí. Eu literalmente caí para trás. Minhas pernas fraquejaram. Fui tentar subir no ônibus de novo, não consegui. Eu fiquei quase desmaiada ali na escada. Minhas pernas bambearam e eu ajoelhei na escada mesmo. Ajoelhei mesmo. Fiquei lá na escada e os meninos me levantaram, me sentaram no banco e eu comecei a chorar. Comecei a chorar muito", relatou ainda em choque com o ocorrido.
Na sequência, o motorista pediu à testemunha para pegar o celular dele. "Peguei o celular, desci, entreguei pra ele e ele falava pra mim: eu matei ela, eu matei ela. Meu Deus, eu matei ela".
Em seguida, Cleyton se escorou na parede de uma casa próxima e sentou no chão. "Ele começou a chorar, falando: meu Deus, eu matei ela", contou.
IMAGENS DO CIRCUITO DE MONITORAMENTO
Dois vídeos obtidos pelo MS Notícias mostram que Letícia foi atingida pelo ônibus que seguia na contramão. A dinâmica inicial dizia que o motorista havia atingido ela na calçada, mas as imagens de segurança e os relatos das testemunhas desmentem essa versão. "Ele não subiu na calçada. Sabe quando você vai fazer a curva? Então, ele não viu. Ele falou que não viu. Falou: Eu não vi ela", comentou a testemunha.
Veja as imagens de câmeras obtidas pela reportagem. Os vídeos são violentos e não contêm censuras:
SERVIDOR TEM PASSADO VIOLENTO
Na época, junto com Cleyton foram presos por tráfico de drogas em Sonora: Edicarlos Pereira da Silva, mais conhecido como PH ou Neguinho, Maria Ana da Silva Mota, mais conhecida como Michele, Edicleiton Pereira da Silva, mais conhecido como Nene, Wanderleia de Oliveira Sousa, mais conhecida como Vizinha, Vanda Vieira Bezerra, Fernando dos Santos Felix, mais conhecido como Fernando Bombado, Pamela Regina da Silva, mais conhecida como Paam, Gelson da Silva, mais conhecido como Boladão ou Graveto, Matheus dos Nascimento Silva, mais conhecido como Cuiabano, José Amaro Lemos, mais conhecido como Pernambuco ou Coroa e Renan Calos Dias, mais conhecido como Risadinha ou Renanzinho. Foto: Arquivo PC MS Cleyton é motorista da prefeitura de Coxim desde 26 de abril de 2022. Por 40h de trabalho ele recebe pouco mais de R$ 1,1 mil por mês.
O passado de Cleyton, entretanto, é violento. Em 2019, por exemplo, ele foi preso junto com uma quadrilha de traficantes em Sonora (MS), a pouco mais de 100 km de Coxim. Naquela ocasião, ele foi preso em flagrante por posse irregular de arma de fogo, além de responder pelo crime de tráfico de drogas. Esse é o único processo ativo em desfavor de Cleyton junto a justiça sul-mato-grossense.
O QUE DIZEM AS AUTORIDADES
Como mostramos mais cedo aqui no MS Notícias, a prefeitura emitiu uma nota de pesar. Numa rede social, a
Secretária Municipal de Educação, Marly Nogueira de Lima, publicou um stories que chamou de nota oficial, afirmando "mandou abrir procedimento administrativo para apurar o ocorrido no acidente que ceifou a vida da universitária".

A reportagem procurou a secretária para saber se era de conhecimento da chefe da pasta que o motorista respondia a processo por tráfico de drogas. Ela explicou que entrou na pasta em janeiro de 2025. "Ele é concursado. Eu tenho que contatar o jurídico, porque eu não estava nessa época como secretária. Quando eu entrei agora, ele [Cleyton] já estava há bastante tempo, inclusive já terminou o estágio probatório", afirmou.
Em seguida a secretária enviou uma resposta formal ao jornal: "A nomeação do motorista ocorreu em 2022, portanto, anteriormente à sua gestão à frente da Secretaria de Educação. De toda forma, foi aberta sindicância para aplicação das penalidades cabíveis, o que será feito no momento oportuno, após o trâmite do regular processo administrativo, com garantia da ampla defesa", disse a chefe da Educação de Coxim.
Conforme apurado pela reportagem, Cleyton estava com a habilitação vencida há mais de 1 ano, o que foi confirmado por Marly. "Sim, ele [Cleyton] estava com habilitação vencida, por isso abrimos procedimento interno para saber quem deixou o motorista em atividade, sendo concursado ou não, ficar dirigindo ônibus sem habilitação regular", completou a Secretária.
O repórter do MS Notícias também pediu um posicionamento do prefeito do município, Edilson Magro, do PP, acerca do ocorrido. Até a publicação desta reportagem, porém, o chefe do Executivo municipal não havia enviado o posicionamento pessoal acerca da morte da acadêmica.











