28 de março de 2024
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Quadrilha de policiais

Contrabando de cigarro se fortaleceu no PR após quadrilha de policiais de MS ser presa

Prejuízo dado pelos cigarreiros chega a R$ 7 bilhões anuais

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Denúncias feitas em 2017 resultaram na megaoperação que desmantelou organização criminosa formada por policiais militares de Mato Grosso do Sul, responsáveis por esquema de facilitação do contrabando de cigarros na fronteira. Hoje, o estado vizinho, Paraná, é onde ocorre o maior número de apreensões feitos pela Polícia Rodoviária Federal de cigarros contrabandeados.

No ranking da PRF, em 2019 o Paraná foi o Estado onde ocorreram o maior número de apreensões dos cigarros contrabandeados do Paraguai, deixando Mato Grosso do Sul em segundo lugar. Ainda são muitos caminhões e carros lotados de cigarros apreendidos, mas na tríplice fronteira entre Paraná, Paraguai e Mato Grosso do Sul, é pelo Rio Paraná que grande parte da carga de contrabando chega ao território nacional.

O cigarro da marca Eight lidera as apreensões e ainda é o mais vendido no Brasil, sendo na grande maioria produto de contrabando. A marca é produzida legalmente no Paraguai e pertence ao ex-presidente Horacio Cartes. Horacio é réu na Lava Jato e foi denunciado em janeiro deste ano, junto com Dario Messer, o ‘doleiro dos doleiros’.

 

Não é mera coincidência, investigações apontam que há ligação direta entre o contrabando dos cigarros e lavagem de dinheiro ilícito dos investigados na Lava Jato. As investigações do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) em MS apontaram que só em 2017, o contrabando de cigarros gerou um prejuízo na arrecadação de tributos de R$ 7 bilhões.

Operação Oiketicus e a Máfia dos Cigarreiros

A Operação Oiketikus foi desencadeada pelo Gaeco e pela Corregedoria Geral da Polícia Militar. Ao todo, 29 policiais foram denunciados por corrupção passiva e organização criminosa, por integrarem a chamada “Máfia dos Cigarreiros”.

Contrabando de cigarro se fortaleceu no PR após quadrilha de policiais de MS ser presa

São eles Admilson Cristaldo Barbosa, Alisson José Carvalho de Almeida, Anderson Gonçalves de Souza, Angelúcio Recalde Paniagua, Aparecido Cristiano Fialho, Claudomiro de Goez Souza, Claiton de Azevedo, Clodoaldo Casanova Ajala, Elvio Barbosa Romeiro, Erick dos Santos Ossuna, Francisco Novaes, Ivan Edemilson Cabanhe, Jhondnei Aguilera, Kelson Augusto Brito Ujakov, Kleber da Costa Ferreira, Lindomar Espindola da Silva, Lisberto Sebastião de Lima, Luciano Espindola da Silva, Maira Aparecida Torres Martins, Marcelo de Souza Lopes, Nazário da Silva, Nestor Bogado Filho, Nilson Procedônio Espíndola, Oscar Leite Ribeiro, Ricardo Campos Figueiredo, Roni Lima Rios, Salvador Soares Borges, Valdson Gomes de Pinho e Wagner Nunes Pereira.

Aparecem na lista dos inocentados Anderson, Claudomiro, Claiton, Clodoaldo, Kleber, Nazário, Nestor, Nilson, Roni, Salvador e Wagner. Os outros foram condenados, mas nem todos respondem pelos mesmos crimes. Dentre eles, Angelucio, Elvio, Erick, Francisco, Ivan, Jhondnei, Lisberto e Valdson tiveram pedidos acatados pelo STF (Supremo Tribunal Federal) e cumprem as condenações em liberdade, com medidas restritivas.

Contrabando de cigarro se fortaleceu no PR após quadrilha de policiais de MS ser presa Admilson Cristaldo (Arquivo, Midiamax)

Midiamax apurou que Oscar Leite foi absolvido no julgamento do recurso de prevaricação, pelo qual havia sido condenado em 2018. Ele foi absolvido em 19 de novembro de 2019, mas ainda responde a processo pela busca e apreensão da Oiketicus. Luciano recebeu alvará de soltura em abril de 2019 e Ricardo Campos também chegou a ser solto, mas teve a liminar revogada em dezembro de 2019.

A organização criminosa atuava de forma que os contrabandistas sabiam as datas e horários em que poderiam passar pelas estradas livremente, entrando no território brasileiro com o cigarro contrabandeado. O pagamento de propina chegava aos R$ 100 mil mensais, distribuídos entre membros da organização criminosa.

“Como baratas tontas”, aponta o inquérito sobre equipes policiais que, diante de denúncia de contrabando nas estradas, seguiam em direções opostas aos veículos lotados de cigarros paraguaios e deixavam as cargas passarem. Com vista grossa, caminhões e carros lotados de cigarros entraram no Brasil no período em que os militares atuavam nas barreiras estaduais.

De acordo com a denúncia do Gaeco, os cigarreiros agiam associados desde o início de 2015, estruturalmente ordenados e com divisão de tarefas. As atividades eram desenvolvidas em dois grandes núcleos. O primeiro compreendia a região de Bela Vista, Jardim, Guia Lopes da Laguna, e Bonito; ao passo que o segundo Maracaju, Dourados, Naviraí, Mundo Novo, Iguatemi, Japorã e Eldorado.