Com o leilão do último dia 08 na Bolsa de Valores B3, em São Paulo, Mato Grosso do Sul adquiriu uma credencial de autoridade e excelência para perfilar ombro a ombro na galeria dos melhores e mais atraentes territórios da economia brasileira e internacional. Pelo nível dos grupos econômicos que disputaram a concessão de rodovias estaduais e federais, o valor das propostas apresentadas e a amplitude com que os resultados estão reverberando, o governador Eduardo Riedel (PSDB) e o ministro dos Transportes, Renan Filho, ganharam ingressos cativos para frequentar os principais círculos empreendedores.
No âmbito dos números, bastam alguns indicadores para exibir um pouco da dimensão representativa desta parceria público-privada. Os 870,3 km das rodovias federais BR-262 e 267 e das estaduais MS-040, 338 e 395, conhecidas como Rota da Celulose, receberão do Consórcio K&G Rota da Celulose, vencedor do leilão, mais de R$ 10,1 bilhões de investimentos em melhorias e modernização nos 30 anos de concessão. Com oferta de pedágio 9% menor, e formado pela K-Infra Concessões e Participações Ltda e corretora Galápagos, o K&G derrotou os poderosos grupos Consórcio Caminhos da Celulose, que ofertou desconto de 8% sobre a Tarifa Básica de Pedágio; Rotas do Brasil S.A., que ofereceu 5%; e o BTG Pactual, com oferta de 4%.
Os ministros Renan Filho e Simone Tebet (Planejamento) juntaram suas vozes às de outras autoridades que assistiram ao leilão, elogiando o governador sul-mato-grossense e realçando o projeto elaborado na parceria com o governo federal. "Este é o Brasil no rumo certo, vai desenvolver um fortíssimo ecossistema na área de tecnologia, na construção civil. Vai gerar emprego e impulsionar o desenvolvimento”, disse Renan. "É o 12° leilão com o ministério. Já garantimos R$ 140 bilhões em investimentos privados com a política de concessões do presidente Lula".
RECONFIGURAÇÃO

Ao unir rodovias estaduais e federais em um único lote, o modelo de concessão amplia a atratividade para investidores e incorpora medidas voltadas ao aumento da segurança e à melhoria da fluidez no tráfego. Com as obras, mais de 100 mil empregos serão gerados, turbinando ainda mais a economia do estado. “Mato Grosso do Sul caminha a passos largos para uma reconfiguração completa da sua infraestrutura. E não apenas de rodovias, mas também de ferrovias, hidrovias e aeroportos”, exultou Riedel.
No governo anterior, de Reinaldo Azambuja, foram investidos no Estado R$ 260 milhões. "Nós, no ano passado, passamos de R$ 800 milhões. Ou seja, multiplicamos por quatro o volume de recursos na infraestrutura do estado”, disse Renan Filho. Segundo a Federação das Indústrias (Fiems), o estado foi responsável por 28% do valor total exportado de celulose pelo Brasil em 2024. Em termos de volume, foram enviadas 4,64 milhões de toneladas para 34 países, gerando uma receita de US$ 2,65 bilhões.
INDÚSTRIAS
Estratégica para o escoamento da produção agroindustrial do Centro-Oeste, especialmente da cadeia da celulose, a Rota da Celulose corta os municípios de Água Clara, Bataguassu, Campo Grande, Nova Alvorada do Sul, Nova Andradina, Ribas do Rio Pardo, Santa Rita do Pardo e Três Lagoas. A Suzano, maior produtora mundial de celulose, com fábricas em Ribas do Rio Pardo e Três Lagoas, utiliza intensamente a BR-262, parte da Rota da Celulose, para o transporte de cargas até os portos de exportação.
A capacidade das fábricas da empresa instaladas no estado é de uma produção estimada em mais de 5,7 milhões de toneladas de celulose por ano. Além disso, a companhia vende para mais de cem países, com escritórios na Argentina, Inglaterra e China.
Outra empresa que vem investindo para expandir sua participação no setor da celulose por meio do estado de Mato Grosso do Sul é a Arauco. Em abril de 2025, foi dado início à construção oficial da primeira fábrica do grupo no Brasil. A nova unidade, com investimento de US$ 4,6 bilhões, será construída em etapa única e vai ter capacidade para produzir 3,5 milhões de toneladas de celulose por ano, com as operações iniciando até o final de 2027.
BIOCEÂNICA
A concessão do trecho integra a estrada federal BR-267, que é o elo nacional da Rota Bioceânica, o corredor rodoviário que vai ligar o Centro-Oeste do Brasil ao Oceano Pacífico, cruzando o Paraguai e o norte da Argentina até chegar aos portos do Chile. O início do percurso começa pela cidade de Porto Murtinho (MS) e se estende até a ponte internacional no Paraguai. O corredor vai encurtar em cerca de 8 mil km o caminho até a Ásia (via Pacífico), comparado ao trajeto que passa pelos portos do Atlântico.
Sérgio Longen, presidente da Fiems, tempera a expectativa de que, com melhores condições logísticas, a celulose e outros produtos que passam pela BR-267 se tornem mais atrativos e competitivos para novos mercados internacionais. “A rota bioceânica será um grande player na movimentação de cargas, desafogando e reduzindo custos também para quem importa, via Paranaguá (PR), Porto de Santos (SP), Itajaí (SC) ou mesmo no Espírito Santo", antevê Longen.