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NACIONAL | SÃO FÉLIX DO XINGU (PA)

Vídeo: ambientalista ''Zé do Lago'', a esposa e a enteada são chacinados; imagens fortes

Família há 20 anos preservava espécie de tartaruga quase em extinção no Rio Xingu; em vídeo filho chora ao encontrar o corpo do pai sob a chuva em meio ao barro

O ambientalista José Gomes, conhecido como 'Zé do Lago', a sua esposa, Márcia Nunes Lisboa, e a filha dela, Joane Nunes Lisboa, de 19 anos, enteada de Zé, foram chacinados por pistoleiros e o filho de José, ao chegar de barco na zona rural do município de São Félix do Xingu (PA) em (9.jan.22), encontrou a família "inchada", a uma certa distância um do outro. (Veja o vídeo acima - as imagens são fortes!). 

De acordo com apurado, os cadáveres foram encontrados no domingo, mas somente nesta terça-feira (11.jan.22) a Polícia Civil esteve no local na zona rural, considerada de difícil acesso. 

Conforme as imagens, os cadáveres de Zé e da enteada estavam próximo a casa onde a família morava, já em estágio de decomposição, apresentando inchaço avançado. O corpo de Márcia Nunes foi encontrado também em decomposição, boiando no Rio Xingu. Todos eles tinham marcas de tiros.

A família realizava há 20 anos a soltura de quelônios (tartarugas e tracajás) no rio, animais que, segundo Zé diz em vídeo (abaixo), estão em extinção no município. Veja o vídeo:

Segundo a polícia, o assassinato pode ter ocorrido há cerca de três dias, devido ao estágio de decomposição dos corpos.

INVESTIGAÇÕES

O delegado superintendente regional do Alto Xingu, José Carlos Rodrigues, da Polícia Civil, disse estar enfrentando obstáculos para obter informações que possam ajudar no esclarecimento do crime. "A Polícia Civil está fazendo todos os esforços para elucidar esse crime que chocou a população de São Felix do Xingu, umas das dificuldades é a de que não há vizinhos próximos que possam ter visto alguma coisa, a região não é uma área de conflito agrário e nem havia motivos para que a família fosse morta, pois o cidadão  Zé do Lago  era uma pessoa do bem", disse o delegado.

"Os corpos estavam distantes uns dos outros, não estavam juntos, provavelmente correram, alguma coisa do tipo, estavam separados. Muitas cápsulas né de pistola 380, ficou constatado que eram realmente disparos de pistola, inclusive alguns de perto, sugerindo execução", comentou o delegado.

MANIFESTAÇÕES

O governador do Estado do Pará, Helder Barbalho (MDB), não se manifestou sobre o assassinato.  

A ex-candidata a presidente e ambientalista Marina Silva orientou que a polícia do Pará deve pedir ajuda a Polícia Federal para que a chacina seja esclarecida e os responsáveis presos.

“Uma família exterminada com violência, Zé do Lago, Marcia e sua jovem filha Joene. Eles repovoavam as águas do rio Xingu com filhotes de tracajá e tartarugas. Trabalhavam pela vida no rio, pela vida em terra e pela vida em geral. E foram mortos, tiveram suas vidas tiradas com tiros”, disse e seguiu: “Ainda não se sabe por qual razão, mas uso esse espaço para dizer que é fundamental que as autoridades policiais do Estado do Pará peçam às de São Félix do Xingu que não meçam esforços para elucidar esse crime e punir os assassinos, inclusive pedindo ajuda da polícia federal”, orientou.

Marina completou dizendo que na verdade os assassinos devem ser punidos pelos assassinatos e pela morte dos autores de um projeto ambiental. “Tanto pelo bárbaro crime contra as três pessoas que perderam suas vidas, quanto porque tentaram matar o lindo, consistente e amoroso trabalho ambiental que faziam de forma dedicada e generosa em benefício de todos nós que habitamos este planeta e necessitamos de sua biodiversidade protegida e saudável”, finalizou. 

A Anistia Internacional Brasil também se manifestou. O órgão disse estar indignado com o assassinato de uma família de ambientalistas no município de São Félix do Xingu, na região sudeste do estado do Pará.  Explicou que a família era conhecida na região pela realização de atividades de proteção ambiental relacionadas à criação e à soltura de filhotes de tartaruga nas margens do Rio Xingu. “O direito ao meio ambiente limpo, saudável e sustentável é um direito humano recentemente reconhecido pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU. As ameaças, agressões e assassinatos de defensores e defensoras deste direito, intimamente relacionado às lutas por justiça ambiental e climática e às resistências dos povos do campo, das florestas e das águas, não constituem casos isolados”, apontou.

A entidade apontou em nota que de acordo com a organização Global Witness, o Brasil é o quarto país que mais mata pessoas engajadas em causas ambientais, a maior parte delas vitimada na Amazônia.

Destacou que a Comissão Pastoral da Terra (CPT) registrou que, em 2021, 26 pessoas foram mortas em contexto de conflitos no campo no país.  

“É importante ressaltar que os discursos e as práticas das autoridades públicas, quando culpabilizam, criminalizam e perseguem defensores de direitos humanos, ambientalistas, lideranças indígenas e comunidades que se organizam em defesa do meio ambiente e de seus territórios, fomentam ataques como os assassinatos ocorridos em São Félix do Xingu”, comentou.

E a nota segue: “O ambiente hostil para a defesa dos direitos humanos é estimulado por uma política anti-ambiental e anti-direitos humanos.  A Anistia Internacional cobrará e estará atenta às investigações que têm o dever de elucidar as circunstâncias dos assassinatos de Zé do Lago, Márcia e Joene. Os responsáveis pelos crimes devem ser identificados e responsabilizados de maneira célere e efetiva. O Estado brasileiro possui a obrigação de agir para conter a onda de violência e o ciclo de impunidade que se perpetuam na região amazônica e em todo o território nacional, finalizou.   

 

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