05 de maio de 2024
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GOVERNO FEDERAL

Bolsonaro inaugura obra inacabada e ação vira "reparação" à imagem de Pazuello

Viagem do presidente à Manaus para inauguração teve aglomeração de apoiadores e encontro religioso

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Nesta 6ª feira (23.abr.2021), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) viajou até a cidade de seu ex-ministro da saúde, Manaus. Logo, a visita se tornou um ato reparativo à imagem do general, com os apoiadores do presidente gritando "Pazuello governador", segundo informações da agência Folhapress. O chefe do executivo foi até o Amazonas para inaugurar um centro de convenções inacabado, que tem capacidade para 10 mil pessoas.

Essa viagem acontece um dia após Jair ter participado da Cúpula do Clima, que aconteceu de forma virtual, convocada por Joe Biden. No discurso, o presidente do Brasil disse que é preciso solucionar o "paradoxo amazônico" de melhorar o baixo índice de desenvolvimento humano na "região mais rica do país em recursos naturais".

Ainda hoje (23.abr.2021), Bolsonaro transferiu o general Eduardo Pazuello - alvo da CPI da Covid - para um cargo na Secretaria-Geral do Exército. Em um declaração coletiva à imprensa, o vice-presidente Hamilton Mourão comentou a movimentação. 

"O camarada, quando ele não tem função específica fica adido. A Secretaria-geral é um órgão do Exército, subordinado diretamente ao comandante, então ele fica adido à secretaria para receber missões eventuais dele. Acontece que, agora no mês de julho tem promoções no Exército e, aí, movimentação de general. Provavelmente o Pazuello será movimentado para algum lugar", explicou Mourão. 

A CPI da Covid será instalada no Senado na próxima terça-feira (27). Tem por objetivo apurar ações e omissões do governo federal na pandemia, além de repasses federais a estados e municípios.

Na manhã desta 6ª feira (23), em Manaus, Bolsonaro falou por cerca de cinco minutos, reservando espaço nesse tempo para repetir o discurso de que  o país "começou a sair das garras da nefasta esquerda brasileira". Jair ainda fez menção às eleições dizendo que, se Fernando Haddad (PT) fosse presidente, "estaríamos em um lockdown nacional. Graças a Deus, isso não aconteceu", argumentou o presidente no momento em que o Brasil se aproxima dos 400 mil mortos pela Covid.

Além dos gritos para Pazuello, o ministro do Turismo, Gilson Machado chegou a convidar o general para o centro do palco em meio a elogios, dizendo que foi  "testemunha da luta desse homem pela erradicação da doença no nosso país".

Após mencionar deus, o presidente seguiu a agenda, que incluía um encontro com líderes evangélicos e a distribuição simbólica de cestas básicas. Bolsonaro aparece pela primeira vez no estado do Amazonas desde o colapso do sistema de saúde local, em janeiro, causado pela segunda onda da pandemia. Em nenhum momento a morte de 6.600 pessoas no primeiro trimestre, nem um dos índices de óbito per capita mais elevados do mundo, foi citado. 

"ENTREGA" DE OBRA

Construído há pouco mais de cinco anos, em 2015, o Centro de Convenções do Amazonas Vasco Vasques custou R$ 40 milhões, vindos do Ministério do Turismo, e R$ 224 mil do governo estadual. Parte do complexo da Arena da Amazônia, ele foi erguido para a Copa do Mundo de 2014, ainda no governo Dilma Rousseff (PT) e tem sido subutilizado desde então. 

Entretanto, Bolsonaro inaugurou uma obra inacabada, já que - mesmo alegando que 99% das obras estão prontas - não havia acabamento na saguão da cerimônia; as paredes, de blocos de concreto, estavam sem reboco; e ainda cinco pilares e uma parede estavam com remendos de cimento.

Mesmo que o evento tenha sido planejado com distanciamento nas cadeiras, reservadas para jornalistas e convidados, dezenas de simpatizes de Bolsonaro se aglomeraram em um dos lados do salão com permissão da organização. Eles carregavam bandeiras do Brasil e de Israel. Segundo informações da folhapress, alguns ainda tiravam a máscara para gritar em coro "mito", "eu vim de graça" e "fora, Globo lixo", além do hino nacional.

Organização permitiu que apoiadores se aglomerassem com cartazes durante a inauguração

Filhos do presidente crescem os olhos para o turismo no Amazonas, que tem interessado o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos/RJ) e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL/SP). 

Ainda em setembro de 2020, ambos inspecionaram as obras na companhia do governador Wilson Lima (PSC), em uma agenda focada no turismo. À época, Flávio Bolsonaro defendeu a abertura de cassinos na Amazônia. 

"O que nós ouvimos em Las Vegas é que há um grande interesse que esses grandes players do turismo invistam pesado nessa área em estados como São Paulo, Rio de Janeiro e Amazonas", disse, em evento para a "retomada turística" no estado.

PAZUELLO NO ALVO

Hoje (23.abr) também foram divulgados no Palácio do Planalto os valores de gastos extraordinários contra os efeitos da pandemia, pelo secretário do Tesouro Nacional, Bruno Funchal, durante entrevista sobre o orçamento para esse ano. 

Esses números mostram que, mesmo sem frear a pandemia da Covid-19 no país, o governo federal reduziu de R$ 524 bilhões para R$ 103 bilhões a previsão de gastos extraordinários, cinco vezes menos

Bruno Funchal classificou ainda os gastos extraordinários com a pandemia previstos para 2021: 

  • Aquisição de vacinas: R$ 22,29 bilhões;
  • Nova rodada do auxílio emergencial: R$ 44,86 bilhões;
  • Benefício Emergencial de Manutenção do Emprego: R$ 4,45 bilhões;
  • Financiamento da Infraestrutura Turística: R$ 1,92 bilhão;
  • Despesas adicionais do Ministério da Saúde e demais ministérios: R$ 14,43 bilhões;
  • Nova rodada do programa de manutenção do emprego: R$ 10 bilhões;
  • Nova rodada do programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe): R$ 5 bilhões.

** (Com informações da Folhapress e Portal G1 Política)