20 de abril de 2024
Campo Grande 19ºC

Campo Grande chora perdas femininas em fevereiro

A- A+

Fevereiro, um mês tradicionalmente associado a folgas festivas na folhinha por causa do carnaval, vem a ser neste 2014 também um marco de tristeza para muitos corações. Não bastasse a onda revoltante de violência que sofreram na passagem de ano, vítimas da perversa ótica machista que conduziu dezenas de assassinatos, as mulheres de Mato Grosso do Sul deixam saudades por seus diferentes protagonismos sociais. Em apenas uma semana, Campo Grande e o Estado perderam vários exemplos de guerreiras que lutaram por paz, igualdade e direitos legítimos da pessoa. A líder comunitária Maria Bezerra, uma das precursoras dos movimentos sociais de bairros em Mato Groso do Sul; e a professora Mariluce Bittar enquadram-se neste grupo seleto e indispensável para a humanidade. Mariluce tinha 54 anos e foi vítima de um câncer no cérebro. Lecionava na Universidade Católica Dom Bosco (UCDB). Era formada em Serviço Social pela antiga Fucmt e doutora em Educação pela Universidade Federal de São Carlos. Paulista de Franca, era irmã do deputado federal Márcio Bittar (PSDB-AC) e da também professora Mariza Bittar. PARTIDÃO - Marluce, Márcio, Mariza e o esposo desta, o professor Amarílio Ferreira Jr, fizeram época como militantes do Partido Comunista Brasileiro (PCB) em Mato Grosso do Sul nos anos 1970-80, desde a clandestinidade até à legalização da legenda. Vários de seus contemporâneos continuam ativos na vida social e política, entre os quais o ex-vereador Fausto Matto Grosso, o consultor técnico do Governo do Estado, Carlos Roberto Neno de Marchi; o publicitário Paulo Ribeiro Jr; os jornalistas Nélio Brandão, Edson Moraes, Flávio Teixeira e Josemil Arruda; o advogado Celso Pereira; o professor Paulo imó; o arquiteto Luiz Carlos e o ex-vereador Walter Hora, de Dourados; e o ex-secretário estadual de Fazenda, Mário Sérgio Lorenzetto. O ex-deputado e atual conselheiro do Tribunal de Contas (TCE-MS) Waldir Neves atuou com Mariluce e os militantes do “partidão” em diversas mobilizações sociais e políticas de Campo Grande, como a retomada da União Campograndense de Estudantes (UCE) e a campanhas pelas Diretas-Já. Mariluce esteve em todas essas lutas e foi sempre uma voz lúcida e corajosa em efesa dos direitos humanos. Em julho do ano passado, Márcio Bittar festejou seus 50 anos com uma festa na capital sulmatogrosense, quando reuniu a família e dezenas de amigos e contemporâneos de lutas. Depois do PCB, ele ingressou no PPS e agora é pré-candidato do PSDB ao governo do Acre. Interrompeu sua pré-campanha para acompanhar sua irã nos últimos momentos de vida. QUALQUER HORA – Maria Bezerra de Lima Santos ou dona Maria Bezerra, como era carinhosamente tratada a maior líder comunitária da história do Aero-Rancho, foi uma das primeiras a, corajosamente, abrir as portas do ativismo social para o protagonismo feminino. Costumava convocar pessoalmente as vizinhas e amigas para as reuniões e quando ouvia uma desculpa sobre a inconveniência do momento ou do tempo, dizia que qualquer hora era hora de defender seus direitos. Depois de dona Maria Bezerra, a participação das mulheres no movimento comunitário cresceu consideravelmente. Ela tinha 69 anos e tombou por causa de complicações no sistema cardiovascular nesta quarta-feira. Era presidenta da Associação de Moradores do Jardim Aero Rancho. Foi candidata do PTB a vereadora em 2012 e teve 1.109 voos, alcançando uma das suplências. Edson Moraes, especial para MS Notícias