07 de maio de 2024
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'CRIANÇA BIRRENTA'

Bolsonaro diz que pagou R$5.522,10 de auxílio a cada brasileiro. Quem recebeu?

Presidente brasileiro mentiu muito em seu discurso à Organização das Nações Unidas

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EDITORIAL  — Em discurso gravado para a abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas, o presidente Jair Bolsonaro afirmou ontem 3ª-feira (22.set.2020) que seu governo pagou mil dólares à cada uma das 65 milhões de pessoas que receberam o auxílio emergencial. Ele classificou como o maior programa de assistência aos mais pobres da história do Brasil. Como uma criança birrenta, o presidente divagou em seu discursos deslocando entre temas sem muito objetivo e mentiu, várias vezes apresentando dados falsos e teorias de conspiração.   

O valor pago pelo governo Bolsonaro tem como referência os R$ 600. Dividido em 5 pareclas. O que em primeiro momento equivale ao total de R$3.000. Mas, o benefício foi estendido mais 4 meses (até dezembro), com parcelas de R$ 300, o que somado com o benefíco anterior dá R$ 4.200. Cada dólar equivale na cotação atual a 5 reais e 53 centavos brasileiros. 

Mil dólar equivale a 5.545,50 em reais brasileiro.

Se Bolsonaro pagou 4.200 em reais o valor real pago pelo governo aos brasileiros em dólar, na verdade é de $ 756,05. Porém os valores dos 300 reais ainda não foram pagos, já que isso ocorrerá até dezembro. Então, o governo pagou 4200 para o brasileiro passar o ano todo, e Bolsonaro ainda classificou como grande benefício.  

Além da mentira anterior, o presidente brasileiro disse que a Amazônia e Pantanal, por serem biomas úmidos, não permitem que o fogo se propague. E disse que as queimadas que estão ocorrendo são provocadas por índios e caboclos, para fazer a roça em terras já desmatadas.  

Porém, investigação da Polícia Federal aponta que a grande parte das queimadas que ocorreram nos biomas pantaneiros e amazonenses em 2020, se iniciaram em propriedades particulares de grandes fazendeiros. E que na maioria das ocasiões as queimadas teriam sido provocadas para tornar local protegido, área de criação de gados. 

Outra inverdade apresentada no discurso do presidente, é o fato de ele alegar que não possui responsabilidade sobre as mortes provocadas pela Covid-19. — Hora, ele foi um dos primeiros a incitar o desrespeito as medidas de isolamento, a incitar o não uso da máscara, a incitar que o povo continuasse com aglomerações. Fez propaganda direta e garantiu eficácia no tratamento com hidroxicloroquina, quando na verdade, não há resultado científico que ateste isso. Os gestos do chefe da nação levaram seu eleitorado e grande parte da população a seguir seus passos. Ao contrário do presidente, que pode ter acesso a bons médicos, a maioria dos que se expuseram pagaram com a vida.  

Ele mentiu também, já que o Supremo Tribunal Federal não determinou que os governadores decidissem sobre isolamento. A decisão foi de que a responsabilidade era compartilhada por estados e união.

Mentiu ao dizer o seguinte trecho:  “Somos líderes em conservação de florestas tropicais”.

Na verdade, um terço da perda de florestas tropicais primárias do mundo foi registrado no Brasil, segundo dados de junho de 2020 da Global Forest Watch, organização não-governamental que faz o monitoramento de florestas em todo o mundo. O Barsil está em primeiro lugar na lista dos 10 principais países tropicais que perderam mais floresta primária em 2019.

Bolsonaro falou a verdade poucas vezes. No seguinte trecho uma delas: “Nunca exportamos tanto [alimento]”.

A exportação de produtos alimentícios pelo Brasil foi recorde entre janeiro e agosto deste ano, de acordo com a série histórica do Ministério da Economia, iniciada em 1997. Os embarques somaram 130,2 milhões de toneladas, contra 111,2 milhões de toneladas no mesmo período em 2019 e 108,9 milhões de toneladas em 2018.

O valor obtido com essas vendas também foi o maior da série histórica. As exportações de alimentos alcançaram US$ 56,7 bilhões de janeiro a agosto deste ano. A quantia representa uma alta em valores nominais em relação ao mesmo período de 2019 (US$ 49,9 bilhões) e 2018 (US$ 54 bilhões), que teve a segunda maior quantia registrada.

Quem ganhou com isso foram os gigantes do agro, já que a menor quantidade de alimentos em solo brasileiros impactou diretamente no valor do produto nas prateleiras. Isso é, quanto menos alimentos, mais caro ficam. A lógica do mercado refletiu o preço do arroz, da carne e outros alimentos básicos com preços elevados no Brasil, mas que estão sendo vendidos a preço pequenos para o exterior, já que a moeda brasileira está desvalorizada.  

Além disso, Bolsonaro voltou a atacar a imprensa, como se a informação fosse responsável pela fracassada gestão que se instala. Em nota, a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) rebateu as falas do chefe do executivo federal.  

No seu discurso na manhã desta terça-feira, 22, na Assembleia Geral das Nações Unidas, o presidente Jair Bolsonaro contribuiu para que o Brasil caminhe para se tornar um pária internacional.

Sem qualquer compromisso com a verdade, o presidente afirmou que seu governo pagou um auxílio emergencial no valor de mil dólares para 65 milhões de brasileiros carentes, durante a pandemia. O auxílio foi de 600 reais.

Bolsonaro mentiu.

O presidente responsabilizou, ainda, índios e caboclos pelos incêndios na Amazônia e no Pantanal, que alcançam níveis nunca antes vistos no País. Todas as investigações, inclusive de órgãos oficiais, indicam que fazendeiros estão na origem das queimadas.

Como se vê, de novo Bolsonaro mentiu.

O presidente transferiu a responsabilidade para governadores e prefeitos pelos quase 140 mil mortos vítimas do coronavírus. Todo o país é testemunha de sua leviandade, ao classificar a pandemia de "gripezinha" e ir na contramão dos procedimentos defendidos pelas autoridades de Saúde.

Assim, mais uma vez Bolsonaro mentiu.

A ABI, com a autoridade de seus 112 anos de existência em defesa da democracia, dos direitos humanos e da soberania nacional, repudia esse comportamento que vem se tornando recorrente e conclama o povo brasileiro a não aceitar o verdadeiro retrocesso civilizatório que o governo está impondo ao País.

Paulo Jeronimo - Presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI)