02 de maio de 2024
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ELEIÇÕES 2024

Com apelo bairrista e limitado voo político, Delcídio tenta voltar

Ex-senador se lança candidato em Corumbá para demonstrar que não está em fim de carreira

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"Corumbá precisa de gestor".

Esta é uma das frases de efeito cuidadosamente escolhidas pelo ex-senador Delcídio Amaral para um vídeo que vem disseminando nas redes sociais, gravado para anunciar sua pré-candidatura a prefeito de Corumbá. Depois de passar pelo PSDB, PT e PTB, entre outras agremiações, agora está no PDR (Partido Democrático Renovador), de direita, que é seu berço ideológico.

Para disputar a prefeitura de sua cidade natal, Delcídio ressurge em cena querendo demonstrar que não está em fim de carreira, após ter sofrido a cassação de seu mandato, em 2016, por quebra de decoro parlamentar no âmbito da Operação Lava Jato. Chegou a ser preso e tornou-se inelegível até 2027. Mas, em 2022, a Justiça Federal suspendeu a resolução do Senado que havia homologado a cassação. 

Delcídio retomou seus direitos políticos e candidatou-se naquele ano a deputado federal pelo PTB, sonhando com uma volta triunfal ao cenário dos mandatos. Iludiu-se. Teve apenas 18.862 votos e não chegou nem perto de uma das oito vagas. Era sua terceira derrota consecutiva. Não lhe restou outra saída, senão voltar ao lugar onde nasceu e tentar nova - ou derradeira - esperança, escorando-se nos laços afetivos.

Foto: ReproduçãoFoto: Reprodução

APELOS BAIRRISTAS

Para alimentar a sua expectativa, Delcídio agarra-se aos sentimentos mais acesos e identificadores dos corumbaenses. Por isto, faz um discurso impregnado de apelos bairristas. É asim, por exemplo, que encaixou o seguinte texto de sua mensagem pelo vídeo de pré-campanha:   

"Eu não tenho dúvida alguma. O futuro de Mato Grosso do Sul vai nascer aqui, na cidade mais emblemática, mais histórica, mais turística e com o maior potencial sob o ponto de vista da sustentabilidade, do meio ambiente e da história", enfatiza. "Eu vou colocar minha pré-candidatura no partido pra ser prefeito de Corumbá".

Entretanto ele já deve ter constatado que as coisas serão muito mais difíceis do que poderia supor. Durante o carnaval, desfilou pelas avenidas e ruas misturado aos foliões. Levou consigo o ex-deputado estadual Evander Vendramini, até agora seu aliado mais expressivo no município. 

Curtiu os abraços, saudações e pedidos de selfies. Todavia não passou disso. Deve ter sentido saudade dos tempos de PT, quando era ovacionado onde chegava, até receber o carimbo de "traidor", aplicado nacionalmente pela militância que condenou sua vergonhosa colaboração com o esquema que procurava incriminar Lula a qualquer custo. 

Além desta marca incômoda, que ficou colada em seu histórico, ele por enquanto trafega sem grandes apoios e seus apelos não sensibilizam os partidos e forças políticas locais. Se estiver querendo correr em voo-solo, sua pré-candidatura estará fadada ao fracasso. 

Queira ou não, ainda que reverbere de maneira midiática paternidade de obras e emendas que afirma ter viabilizado para Corumbá, falta a ele um atrativo poderoso para ganhar adesões efetivas, de peso político e eleitoral, para tirar de si e de seu entorno a imagem do isolamento. Candidato de si próprio, não irá além do que já foi nas três frustradas tentativas anteriores de pendurar o diploma de um mandato na parede da sala.