messias/">Jorge Messias, advogado-geral da União e indicado do presidente Lula ao Supremo Tribunal Federal (STF), tornou-se o novo alvo preferencial da ala bolsonarista — justamente o grupo que transforma qualquer nome indicado por Lula em inimigo público. A crise entre governo e Senado não surgiu por acaso: Messias trombou com interesses de caciques que queriam emplacar seus próprios escolhidos.
A escolha de Messias desagradou especialmente o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, que pressionava pela indicação de Rodrigo Pacheco. Sem segurança de votos, o governo adiou o envio do nome e a sabatina acabou cancelada.
TRAJETÓRIA NO SERVIÇO PÚBLICO E EXPERIÊNCIA
Nascido no Recife e doutor pela UnB, Messias percorreu cargos estratégicos durante gestões petistas: passou por ministérios, atuou no Banco Central e no BNDES, e trabalhou como assessor parlamentar. Ganhou notoriedade nacional em 2016, quando foi citado em telefonema entre Dilma e Lula durante a Lava Jato — episódio explorado pela direita como se fosse prova de conspiração, mas que nunca resultou em qualquer responsabilização.
ABORTO E A GUERRA CULTURAL ARMADA PELO BOLSONARISMO
Evangélico, Messias declarou ser contra o aborto, alinhando-se a setores conservadores. Ao mesmo tempo, respeitou a legislação vigente e assinou parecer da Advocacia Geral da União (AGU) contra a tentativa do Conselho Federal de Medicina de restringir procedimentos já previstos em lei.
Parlamentares bolsonaristas exploraram o tema ao máximo, tentando colá-lo à imagem de “abortista” — estratégia padrão do grupo: usar moralismo teatral para desgastar adversários enquanto ignora a própria contradição interna.
REGULAÇÃO DAS BIG TECHS E O PAVOR DO EXTREMISMO ONLINE
Messias defendeu mais transparência algorítmica e responsabilização das plataformas. Não surpreende que isso tenha irritado a extrema direita, cuja militância digital depende de desinformação industrializada. Quando o STF ampliou a responsabilidade das big techs, Messias comemorou o avanço — e o bolsonarismo, previsivelmente, reagiu como se fosse censura.
SEGURANÇA PÚBLICA E O CHOQUE COM GOVERNADORES DE DIREITA
Em maio, Messias apoiou a PEC da Segurança Pública e defendeu mais inteligência e menos populismo penal. Em 2024, criticou governadores de direita que tentavam promover endurecimento indiscriminado da legislação sobre saidinhas e liberdade provisória.
Nas redes, citou o mandamento “Não matarás” — o que bastou para inflamar influencers bolsonaristas, que tratam qualquer contrariedade como afronta à sua cruzada punitivista.
EMENDAS E A DISPUTA POR PODER NO CONGRESSO
Messias contrariou interesses de parlamentares ao manter pareceres que bloqueavam bilhões em emendas. Em ano eleitoral, essa atitude não passa incólume — e parte da resistência no Senado ao seu nome tem menos a ver com ideologia e mais com orçamento liberado (ou não).
Com a indicação ao STF, Messias buscou reduzir a narrativa de que se tornaria um “novo Dino”, outra caricatura construída pelo bolsonarismo e amplificada por setores irritados com o fim do orçamento secreto.
ECONOMIA, MARX E O CHOQUE COM A DIREITA QUE TEME LIVROS
A tese de doutorado de Messias defende maior atuação estatal para enfrentar riscos globais. O trabalho cita Marx e Engels — o suficiente para que a extrema direita, que costuma se orgulhar de não ler, classificasse o jurista como “comunista”.
Messias discute políticas públicas, riscos globais e a necessidade de respostas estatais — temas que, para setores radicais, são tratados como insulto pessoal.











