24 de abril de 2024
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TIO TRUTIS

Deputado bolsonarista de MS virará réu por falso atentado

O placar final previsto é 9 a 2

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O deputado federal bolsonarista Loester Trutis, conhecido como Tio Trutis (PL-MS), virará réu, após os ministros Dias Toffoli e Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal, votarem a favor de acolher denúncia da Polícia Federal e da Procuradoria Geral da Repúlica.

Além de Trutis, seu assessor Ciro Nogueira Fidelis, são acusados de porte ilegal de arma de fogo, falsa comunicação de crime e disparo de arma de fogo por simular um suposto atentado a tiros, emulando uma emboscada em 16 de fevereiro de 2020. Mostramos a estranha emboscada aqui no MS Notícias.  


A denunciação de Trutis ocorreu em outubro do ano passado, após a longa investigação da PF, acompanhada pela Suprema Corte, já que Trutis tem e fez gozo do foro privilegiado, o qual, para eleger-se em 2018, criticava.

Em 5 de agosto a relatora do processo, ministra Rosa Weber, votou pelo recebimento da denúncia e já foi acompanhada pelos ministros Alexandre de Moraes, Edson Fachin e Ricardo Lewandowski. O placar está 6 a 0 para tornar o polêmico deputado réu na corte.

Para a magistrada, há indícios robustos de que o atentado foi simulado.

RELACIONADA PF prende deputado federal, em operação que investiga suposto atentado

No Supremo há 11 ministros, até esta segunda (15.agosto) 6 acompanharam o voto da relatora, o que significa que o parlamentar vai ter de responder às acusações na Justiça.

Já votaram a favor da continuidade do processo, os ministros Alexandre de Moraes, Edson Fachin, Ricardo Lewandowski, Dias Toffoli e Cármen Lúcia. Para a ministra e os cinco outros magistrados, as provas coletadas pela PF dão suporte à narrativa da denúncia.

Ainda faltam votar os ministros Luiz Fux, Gilmar Mendes, Luís Roberto Barroso, Nunes Marques e André Mendonça. A perspectiva é de que apenas os ministros indicados pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), aliado de Trutis, votem para livrar o parlamentar de responder pelos crimes. O placar final previsto é 9 a 2.

Trutis repete um personagem polêmico da política estadual, o ex-prefeito de Dourados, Ari Artuzi, que também simulou um ataque para se apresentar como vítima diante da sociedade. Na época, o caso foi desvendado pela Polícia Civil.

O julgamento no STF termina na segunda-feira (15.ago). 

REELEIÇÃO 

Trutis foi elevado ao cargo de deputado federal na onda bolosnarista de 2018. Em recente publicações no seu Facebook, o bolsonarista elencou uma sequência de ações que teria promovido nos seus 4 anos de mandato. Entre os feitos, citou que foi "eleito melhor Deputado do MS pelo Congresso em Foco" — a premiação é a mais importante da política brasileira que reconhece o trabalho dos políticos no Congresso Nacional. Eis a publicação da lista de supostas ações que teriam sido feitas por Trutis: 

A afirmação de que foi "eleito melhor deputado de MS" pelo Congresso em Foco é mentirosa. Na verdade, conforme apurou a reportagem do MS Notícias, Trutis foi indicado ao prêmio em 2019, mas não ganhou. Por MS, o vencedor naquele ano foi Fábio Trad (PSD). 

Outra importante observação é que dentre as 16 ações destacadas por Trutis, apenas 3 referem-se de fato ao exercício do seu cargo, as demais são demagogias politiqueiras.

Dados verdadeiros que Trutis omitiu de suas listas de ações à frente do cargo público: que ele torrou R$ 224 mil em "despesas extras" apenas em 2021. 

Apesar de listar que "não usa auxílio moradia", Trutis gastou R$ 38.825,30 da cota parlamentar com aluguel de uma casa onde morou a ex-mulher e os filhos, em Campo Grande. Ao utilizar verba pública em benefício próprio, para despesas particulares, o parlamentar comete crime de peculato, com pena de dois a 12 anos de prisão e multa. O caso é um dos mais ousados sobre uso irregular de dinheiro do contribuinte, segundo apurou o MS em Brasília. Conforme o Portal da Transparência da Câmara dos Deputados, o parlamentar usou o dinheiro para pagar oito meses de aluguel do imóvel, de alto padrão, entre fevereiro e setembro deste ano. O valor médio da locação é de R$ 4.900. 

Durante esse período, Loester Carlos também pagou, com dinheiro da Câmara, aluguel do escritório político em Campo Grande, de R$ 3.375, totalizando R$ 59 mil em oito meses com os dois imóveis. Na época Trutis negou o uso do local para aluguel particular e justificou que este era usado como escritório político. "É um absurdo, lá funcionava um escritório parlamentar, que foi desativado porque achei um imóvel maior e mais barato".

Criada pelo Ato da Mesa 43/2009, a Cota para o Exercício da Atividade Parlamentar destina-se a custear gastos exclusivamente vinculados ao exercício do mandato, como manutenção de escritório de apoio: locação de imóveis, pagamento de IPTU, condomínio, energia, água e telefone.

TRUTIS É ACOSTUMADO A MENTIR 

Para Loester Trutis é tão natural o ato de "mentir" que em junho desse ano ele chegou a ser desmentido até por aliados da direita em MS. Em 7 de junho ele disse que teve um encontro com o presidente Jair Bolsonaro (PL), de quem recebeu a informação de que ele viria à Mato Grosso do Sul no próximo em 20 de junho para formalizar apoio ao pré-candidato ao Governo, Eduardo Riedel (PSDB). Tal situação não ocorreu até este dia 15 de agosto. 

Trutis afirmou naquele mês, também, que o presidente iria anunciar apoio à pré-candidatura a deputada estadual e sua esposa, ex-assessora Raquelle Alves Lisboa, que morava em Brasília até 2020. Para destacar a suposta reunião no Palácio do Planalto, Trutis fez duas postagens: uma antes do suposto encontro e outra depois, em foto posada com o presidente.

Entretanto, na época, Danilo Azambuja, vice-presidente do Instituto Endireita MS, disse que a foto já tinha sido publicada há 11 semanas pelo deputado bolsonarista. Para disfarçar, Trutis, segundo Azambuja, coloriu a gravata do presidente de verde, inverteu a imagem e a publicou como se tivesse sido tirada no dia 7 de junho.  Veja uma postagem em que Danilo indica que Trutis estaria mentindo: 

Postagem de Danilo Azambuja

Desconsiderando a falsidade da imagem, considerando apenas o texto, nota-se que Trutis trata Bolsonaro como "chefe", como se ao invés de trabalhar em favor da população, o bolsonarista trabalha, na verdade, para Jair Bolsonaro.