14 de dezembro de 2025
Campo Grande 28ºC

Eleições 2018

Páginas nas redes sociais e grupos organizados planejam eleição de Bolsonaro desde 2013

'Conheça um pouco do histórico e toda manobra montada para que Jair Bolsonaro concorra a presidência'

A- A+

Desiludido com a política tradicional, o Brasil e eleitores totalmente perdidos, de um lado aqueles que ainda creem na melhora da política, do outro lado, políticos que usam, desse brasileiro revoltado como sua massa de manobra para chegar ao presidência do país, entre eles está um candidato que desperta sentimentos contraditórios, mas é tratado como “mito” por seus admiradores. Mito, segundo os dicionários, é uma ficção, um ser sobrenatural, um herói, uma figura cuja existência não pode ser comprovada e domina o imaginário coletivo.

O “mito” Jair Messias Bolsonaro, 62 anos, tem como marcas as posições extremadas, a postura de enfrentamento constante e os discursos agressivos, em que reivindica ser o defensor e restaurador da ordem perdida, ainda que em tantos anos como representante do povo  aprovou apenas uma lei, nunca atuou pelas minorias; é acusado em processos por injúria e apologia ao estupro, ao ter ofendido uma colega dentro da casa de leis. Portanto, vemos um país que já não vê saída, acredita em "salvadores da pátria", que enriquece a si mesmo e seus familiares sem nunca ter contribuído absolutamente nada ao país. Jair vale-se apenas do trunfo de nunca ter se envolvido em casos de corrupção, já que nunca atuou verdadeiramente como representante do povo. Agora Jair, depois de enriquecer as custas do povo quer chegar a cadeira da presidência, dizendo que dessa vez, enfim dessa vez, como o próprio candidato diz, "Meus cumprimentos a bandeira americana", o que nada tem a ver com nosso país.  

Quem é Jair? 

Capitão reformado do Exército, vende-se como homem acima de qualquer suspeita. Em suas três décadas de trajetória política, já usou verba da Câmara para custear despesas durante viagens em que teve atividades de pré-candidato a presidente. Tornou-se objeto de atenção pública, pela primeira vez, acusado de planejar a explosão de bombas em instalações militares.

Sua produção legislativa é pífia [não tem importância para o Brasil]. Nunca ocupou cargo de destaque na Câmara. Sempre integrou o chamado baixo claro, grupo de congressistas com pouca projeção, e é mais conhecido pelas confusões em que se mete do que por sua atuação parlamentar. Um dos seus trunfos é que jamais foi envolvido em qualquer caso de corrupção.

Ainda que tenha sido alvo de várias acusações criminais. No portal do Supremo, aparece como réu em duas ações penais, nas quais é acusado de injúria e apologia do estupro por ter afirmado, na Câmara, que não estupraria a deputada Maria do Rosário (PT-RS) porque ela “não merece”. Em 2015, Jair Bolsonaro foi condenado pela Justiça a indenizar a parlamentar em R$ 10 mil pela mesma razão e também a indenizar em R$ 150 mil o Fundo de Defesa dos Direitos Difusos do Ministério da Justiça, por fazer declarações homofóbicas num programa de TV. A decisão foi confirmada este ano pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ).

É ainda investigado pelo Ministério Público por apologia da tortura, por ter homenageado o coronel Brilhante Ustra, primeiro torturador reconhecido como tal pelo Judiciário brasileiro, ao votar pelo impeachment da ex-presidente Dilma, em abril de 2016. Para entender Bolsonaro, a Revista Congresso em Foco ouviu, ao longo de cinco semanas, mais de duas dezenas de pessoas. Só não conseguiu entrevistar o próprio deputado, que marcou entrevista algumas vezes, mas terminou adiando de última hora.

Incógnita ambulante

Embora atue como parlamentar há quase 30 anos, Bolsonaro é um grande desconhecido para diversos setores da economia e da sociedade. O deputado – que chegou a declarar que, se fosse eleito presidente, entregaria metade do ministério aos militares – é uma incógnita ambulante. A habilidade dele para criar conflitos é tão grande quanto a desconfiança sobre sua capacidade de governar o país.

Sempre que é instigado a falar de assuntos mais complexos, como economia, esquiva-se e volta a sua artilharia verbal aos inimigos de sempre: negros, mulheres, gays, “bandidos”, adolescentes, sem-terra, índios, entre outros. A virulência das declarações do deputado é objeto de repulsa e, ao mesmo tempo, de admiração, conforme o público que as recebe. Cada vez mais popular, "usando seu jargão e manobrando seus admiradores na direção que deseja", Bolsonaro aproveita a onda de decepção com políticos e partidos tradicionais, como o PT e o PSDB.

De acordo com o Datafolha, desde abril, quando alcançou pela primeira vez 15% das intenções de voto para presidente, está atrás apenas do ex-presidente Lula, à frente de figuras como Marina Silva (Rede), Aécio Neves (PSDB), Geraldo Alckmin (PSDB) e Ciro Gomes (PDT). No último levantamento divulgado pelo instituto, no começo de dezembro, ele alcançava até 19% das intenções.

Três décadas, uma lei

Bolsonaro promete “endireitar” o país, mas tem dificuldade para demonstrar eficiência. Na Câmara desde 1990, teve apenas um projeto de sua autoria convertido em lei (a de n° 10.176, de 2001). A proposta, apresentada por ele em 1996, prorrogou benefícios fiscais para o setor de informática e automação.

Em quase três décadas como deputado, nunca relatou proposições de destaque nem presidiu comissões ou liderou bancada, sempre ganhou seu dinheiro na casa sem muito esforço; o candidato deixa claro que não concorda em emitir notas ou prestar contas de todos os seus gastos. Na área da segurança pública, sua principal bandeira, não emplacou qualquer sugestão. O deputado já passou por quatro partidos e, atualmente, filiou-se ao quinto, o PSL (Partido Social Liberal). 

Já foi sindicalista 

Ainda que conhecido de início como um sindicalista do baixo oficialato, Bolsonaro diminuiu a atenção que dispensava ao assunto à medida em que percebeu que seu discurso atraia um público mais amplo. Mais recentemente propôs também incluir o nome de Enéas Ferreira Carneiro, ex-deputado e fundador do extinto Partido da Reedificação da Ordem Nacional (Prona) no Livro dos Heróis da Pátria, ou que os civis tenham de colocar a mão sobre o peito quando da execução do hino nacional.

Para a mídia ver

Com uma legião crescente de seguidores nas redes sociais, uma de suas maiores âncoras, e sempre recepcionado em aeroportos com gritos de “mito”, Jair Bolsonaro tem trânsito limitado na Câmara, onde está desde 1991. Pode ser encontrado às gargalhadas com deputados das bancadas evangélica e da bala (formada por defensores do armamento da população, como ele), mas não exerce liderança sobre elas. No Congresso, costuma circular com o filho Eduardo Bolsonaro (PSC-SP) a tiracolo.

É parado para selfies com jovens, parabenizado por eleitores, chamado por visitantes para comentar alguns assuntos. Mas não empolga os colegas de Parlamento. “Não é um parlamentar efetivo, é midiático. Tem visibilidade pelo seu caráter autoritário, mas é um parlamentar ineficaz, sem peso nas decisões importantes”, afirma o diretor do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap) Antônio Augusto de Queiroz.

Todo evento era planejado para modificar sua imagem. Foto: Reprodução 

Com os Power Rangers, o deputado que gosta de reforçar no imaginário popular a figura de herói nacional

Bolsonaro nunca figurou entre “os cabeças do Congresso Nacional”, selecionados anualmente pelo Diap há mais de duas décadas por sua elevada influência. Entre os atributos que caracterizam um protagonista, a entidade lista “a capacidade de conduzir debates, negociações, votações, articulações e formulações”.

Nas primeiras das nove edições realizadas, não foi lembrado pelos jornalistas que cobrem o Congresso, encarregados de pré-selecionar os congressistas submetidos na fase seguinte à votação popular. Nos últimos anos, foi barrado na disputa, junto com centenas de colegas, por responder a acusação criminal no Supremo Tribunal Federal (STF).

O sobrenome do pai ajudou o filho Eduardo a ser o deputado mais votado na consulta popular do Prêmio Congresso em Foco 2017. Em 2015 ele ficou na terceira colocação. Naquele ano militância não perdoou, porém, o fato de ele ter sido superado na votação digital por Jean Wyllys (Psol-RJ), notório defensor das causas LGBT, e inundou as redes sociais com comentários homofóbicos e acusações de manipulação do certame. O baixo prestígio de Jair Bolsonaro entre os parlamentares ficou flagrante em fevereiro de 2017. Candidato a presidente da Câmara, teve votos de só quatro dos 513 deputados.

Punições por má conduta

O deputado fluminense já foi denunciado, entre outras coisas, por chamar Lula de “homossexual” e Dilma Rousseff de “especialista em assalto e furto”. Já recebeu seis punições por causa de pronunciamentos agressivos e entrevistas polêmicas. Foram três censuras verbais e duas por escrito. Em todos os casos, escapou da abertura de processo de cassação do mandato, ainda que julga não ter amigos na casa, se livrou "não se sabe como!".O deputado é recordista em representações no Conselho de Ética. Com quatro processos, ele é o único que alcançou esse número desde que o conselho foi instalado, em 2001. O filho Eduardo Bolsonaro, em seu primeiro mandato, foi alvo de outros dois. A lista de acusações contra o pré-candidato à Presidência também é extensa na Corregedoria da Câmara, outra instância que apura a conduta dos parlamentares.

Em 2000, chegou a dizer que o então presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) deveria ter sido fuzilado durante a ditadura. Bolsonaro é conhecido por moldar discurso e ações ao gosto da plateia que o aplaude. “Católico fervoroso”, como se definiu, foi batizado no rio Jordão, em Israel, pelo pastor da Assembleia de Deus Everaldo Pereira, presidente do PSC e candidato à Presidência em 2014.

Dono de um discurso radical contra o PT, já admitiu ter votado em Lula para presidente em 2002. Quando ainda era filiado ao PP, manifestou intenção de ser candidato a vice de Aécio Neves (PSDB) em 2014. 

Naquele ano o deputado se reelegeu com a maior votação da bancada do Rio de Janeiro, com 464 mil votos. Embora abomine hoje qualquer referência ao comunismo, já fez lobby junto ao ex-presidente Lula, em 2003, pela indicação do então deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) para o Ministério da Defesa. “As coisas mudaram. Hoje comunista toma uísque, mora bem e vai na piscina”, afirmou na época. Ao ser questionado sobre a legalização do aborto, em uma entrevista dada à revista IstoÉ, em 2002, afirmou que a decisão caberia exclusivamente ao casal. Atualmente se diz “a favor da vida” e contra a interrupção da gravidez.

Pedaladas na Oktoberfest

Em Blumenau, com o filho Eduardo, o deputado Rogério Peninha Mendonça e três princesas da tradicional festa de origem alemã. Foto:Reprodução 

Zeloso da fama de político honesto, com a qual tenta se diferenciar dos colegas e adversários, Jair Bolsonaro tem viajado país afora em campanha presidencial, bancando parte dos custos com a cota parlamentar da Câmara. Seja para pagar hotel, seja para voar até cidades em que reúne um público. Segundo ele, não há irregularidade porque está cumprindo agenda relacionada ao mandato.

Em outubro de 2015, ele e o filho Eduardo participaram animadamente das comemorações da Oktoberfest em Blumenau (SC). Acompanhado do anfitrião, o deputado Rogério Peninha Mendonça (PMDB-SC), pedalou na Centopeia do Chope, o brinquedo que abre o desfile do tradicional grupo Planetapéia, percurso em que distribuiu acenos e sorrisos aos foliões.

Estavam vestidos a caráter, com a veste masculina alemã lederhosen, azul, com gravata amarela e chapéu vermelho. Após a festa, pai e filho retornaram para Balneário Camboriú (SC), onde estavam hospedados no Hotel Villa Mar. Eles haviam ido à cidade litorânea a convite de um empresário para discutir questões políticas. No encontro, Bolsonaro falou sobre o desejo de concorrer ao Planalto. As passagens não foram custeadas pela cota parlamentar. Mas as notas fiscais entregues à Câmara pelos dois deputados informam que as duas diárias custaram, ao todo, R$ 1 mil.

Mais recentemente, como mostrou a Folha de S.Paulo, Jair Bolsonaro fez uso da cota em pelo menos seis viagens onde também discursou como pré-candidato. Suas idas a cidades como Recife, Boa Vista, Belo Horizonte, João Pessoa, Curitiba e São Paulo custaram R$ 22 mil, ressarcidos pela Câmara. A assessoria do deputado nega que ele esteja em pré-campanha e atribui os deslocamentos a compromissos relacionados à segurança pública.

A gana de estar em permanente contato com os eleitores fez de Bolsonaro o deputado que mais gastou com correio nas três últimas legislaturas. De fevereiro de 2007 a junho de 2017 suas despesas postais custaram à Câmara exatamente R$ 870.163,98. Eduardo Bolsonaro, o filho eleito por São Paulo que o acompanha em suas viagens de pré-candidato a presidente, é na legislatura atual o deputado que mais gasta em passagens aéreas. Para arcar com seus deslocamentos aéreos, desde fevereiro de 2015 a Câmara gastou R$ 428.941,44.

Outras fatos sobre Jair Bolsonaro

Acusado por cinco irregularidades, o então capitão Bolsonaro teve de responder a um Conselho de Justificação, formado por três coronéis.

Acusado por cinco irregularidades, o então capitão Bolsonaro teve de responder a um Conselho de Justificação, formado por três coronéis.

Dono atualmente de um discurso de ordem e disciplina militar e de críticas ferrenhas a movimentos sociais, o então capitão Jair Bolsonaro apareceu pela primeira vez no noticiário em 1987, nas páginas da revista Veja, após ser acusado de elaborar um plano para explodir bombas em quartéis como forma de protesto por baixos salários. Quando a reportagem foi publicada, Bolsonaro negou tudo ao então ministro do Exército, Leônidas Pires, a quem acusara de frouxidão e de tratar os militares como “vagabundos”.

A revista publicou então, na semana seguinte, o que classificou como provas do crime: um croqui desenhado pelo próprio Bolsonaro de como poderia bombardear a adutora de Guandu, no Rio, e um segundo desenho que mostrava a localização de outro capitão que apoiava os atos dele. Acusado por cinco irregularidades, o capitão Bolsonaro teve de responder a um Conselho de Justificação, formado por três coronéis. Ele foi condenado sob a acusação de ter mentido durante o processo.

A avaliação do conselho era de que ele tinha “excessiva ambição em realizar-se financeira e economicamente, revelando com isso conduta contrária à ética militar”. A decisão foi enviada ao Superior Tribunal Militar (STM) que, por oito votos a quatro, absolveu o réu. Como duas perícias confirmaram a autoria dos croquis e duas resultaram inconclusivas, acabou beneficiado pela dúvida.

Em 1988, passou para a reserva ao conquistar uma cadeira de vereador no Rio. Dois anos depois desembarcava na Câmara dos Deputados como um sindicalista de caserna. Todos os seus primeiros discursos eram voltados aos militares. Em geral, seus projetos tratam da remuneração e de outros benefícios para as Forças Armadas, da liberalização das regras para uso de armas e do endurecimento de penas para crimes, a menos quando são cometidos por agentes de segurança ou para defender o patrimônio privado.

Exército de militantes virtuais

As plataformas digitais de redes sociais estão abarrotadas de páginas e perfis de apoio à candidatura de Bolsonaro ao Planalto, estas comperfis muitas delas sem vínculo cívil.

As postagens são diárias. Muitas delas têm alvo certo: o Partido dos Trabalhadores (PT). E as Forças Armadas também são tema recorrente, mas, nesse caso, de exaltação. Quase todos os dias a equipe posta um vídeo diferente. Em muitas ocasiões, o próprio deputado interage. No Twitter, ele acumula mais de 450 mil seguidores, onde abastece com cerca de 8 horas diárias de interação. 

Aos opositores, ele responde da forma usual: sem filtros. No Instagram, mais de 446 mil usuários o seguem. Também lá, as postagens são diárias, muitas delas replicadas de outras redes. Publicar críticas a Bolsonaro na internet é sinônimo de comprar confusão, com fakes e perfis reais que parecem apostos 24 horas para defende-lo. As respostas de seus admiradores costumam ser tão rápidas quanto virulentas e massivas. O deputado tem em torno de si uma rede de apoiadores, muitos deles munidos apenas de ódio contra a política atual

Com o claro propósito de impulsionar a candidatura de Bolsonaro ao Palácio do Planalto, esse exército voluntário tem alavancado a imagem do parlamentar com organização de ações digitais, potencializando cada polêmica em que ele se envolve e todas as opiniões que emite. Ele mesmo participa de vários grupos de WhatsApp, conversa, interfere e faz pedidos aos integrantes.

Conexões cristã e política

Com 19 anos, Raul Holderf articula uma das maiores redes de apoio a Bolsonaro. Estudante de Letras da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), ele é adventista e se considera um jovem conservador e de direita. A militância começou pelo perfil no Twitter @conexãocristão, em meados de 2015, e se intensificou com a criação do @conexãopolítica no fim de 2016. Hoje, coordena uma equipe de 12 pessoas.“Não é sempre que falamos do Bolsonaro, entramos em ações pontuais como a defesa no caso com a Maria do Rosário”, explica.

Raul conheceu o deputado pessoalmente quando teve de realizar um trabalho escolar sobre políticos do Sudeste. Escolheu Bolsonaro e passou a admirá-lo: “Acho válido chamá-lo de mito pela forma como ele vem atuando: espontânea, sincera, firme, em defesa da família”. Raul admite que Bolsonaro não é incontestável. “Ninguém é perfeito, nenhum político é”, diz. Um dos problemas que ele aponta é a retórica furiosa do deputado, a mesma que alavancou sua imagem. “Às vezes, a forma como ele se expressa pode queimá-lo. Ele não é homofóbico e faz parecer que é, mas já vem mudando”, espera.

O ativista diz que, se alguém não concorda com o fato de outra pessoa ser gay, isso não é motivo para perseguir. “Não se pode gerar um discurso de ódio”, argumenta.

Pirâmide

Mais focado no Facebook e no WhatsApp, o coordenador de importações Thiago Turetti, 34 anos, comanda uma força-tarefa pró-Bolsonaro. “É o movimento ‘Jair Bolsonaro presidente’. Ao todo, somos 72 líderes. Cada um liderando outros grupos”, explica. Um grupo de WhatsApp reúne os 72 cabeças do movimento. Há outros para cada estado e para conversas com jovens. “É como uma pirâmide”, define.

Turetti trabalha quase em tempo integral na militância de Bolsonaro. No Facebook, ele criou em 2013 a página “Jair Bolsonaro presidente 2018”, além de outras dez, incluindo algumas com perfil de humor, como “Bolsonaro zueiro”, e outras como “Liga direitista”. Enquanto o WhastApp tem foco maior nas apoiadores mais engajados, em elaboração e disseminação de estratégias, o Facebook serve para ampliar a mensagem e persuadir novos eleitores.

Boa parte do conteúdo passa por Turetti. “Quase 80% do que postamos eu escrevo. Mas tem o pessoal que faz o design. Além disso, tenho de estar sempre de olho se não tem alguém da esquerda infiltrado”, comenta. O grupo da liderança define a pauta semanalmente. “A gente escolhe: atacar o Lula. A partir daí, pensamos a estratégia para levantar o assunto.” Ele diz que já foi marxista, mas só se tornou militante na direita.

Os dois bolsonaristas contam que já tiveram seus perfis bloqueados depois de denúncias. Faz parte do trabalho recuperar as contas e seguir mobilizando gente. “A gente já recebeu até ameaça de morte. Tem muito pastor que não gosta quando a gente bate na tecla da mercantilização do evangelho. A nossa mente é bem ampliada”, diz Raul. “Até 2018 a gente vai estar turbinado”, promete Turetti.

Cyborgs

Jair Bolsonaro tem uma militância orgânica, que trabalha voluntariamente e sem remuneração. Mas há indícios de que sua força na internet vai além dos seus militantes, que os adversários chamam de “bolsominions”. É provável que esteja relacionada também com o uso de cyborgs – “algo que é meio robô, meio humano”, explica o coordenador do Laboratório de Estudos sobre Imagem e Cibercultura (Labic), da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Fábio Malini.

O professor avalia que muitos dos perfis que apoiam Bolsonaro se enquadram nesse padrão. “É possível criar orientações computadorizadas para replicar conteúdo de determinada lista de usuários”, exemplifica. Difícil é identificar os cyborgs. “Todo militante político, de todos os lados, tem comportamento robótico, é monotemático “, afirma o professor. Ainda assim, existem padrões que indicam quando essas ferramentas são usadas. Quando, por exemplo, um grupo gera um círculo e se retuíta e se menciona mutuamente. Ou quando algumas publicações são feitas em volume elevado e em alta velocidade.

Malini fez um levantamento, a pedido da reportagem, dos tuítes que mencionaram Bolsonaro por uma semana — entre 26 de maio e 2 de junho. No total, foram registrados 75 mil tuítes, que correspondem a 10% de tudo o que foi dito sobre o presidente. “Num momento em que Temer está no olho do furacão, é bastante”, destaca Malini.

Ele acrescenta que “o campo conservador está bombando na internet” e esse movimento pode impactar de fato a sociedade. Para o pesquisador, uma questão em aberto é se a atuação nas redes poderá levar partidos nanicos ao poder. Ele lembra que a política é “altamente influenciada pela carga emocional das pessoas” e alerta que não existem algoritmos capazes de barrar as chamadas fake news, o que leva alguns a imaginarem Bolsonaro como uma espécie de Trump brasileiro.