No apagar das luzes do ano legislativo, a Câmara Municipal de Porto Murtinho retomou os trabalhos para eleger a Mesa Diretora do biênio 2027-2028. O que parecia um rito protocolar, com favoritismo da base governista, transformou-se em um recado político claro — e incômodo — ao Executivo municipal.
Com nove vereadores em plenário, a base do prefeito Nelson Cintra (PSDB), detentora de quatro cadeiras, apostou na manutenção do comando da Casa com a mesma candidata que, em episódio anterior, precisou recorrer à Justiça para vencer mesmo tendo obtido menos votos. Desta vez, porém, o roteiro foi outro.
A oposição, liderada pelo vereador Dr. Antônio Viana (MDB), apresentou uma chapa unificada, costurada com discurso de convergência e, sobretudo, com a adesão inesperada de um vereador eleito pela base governista. O movimento foi decisivo: a chapa oposicionista venceu a disputa e garantiu a presidência do Legislativo municipal para os anos de 2027 e 2028 — este último, ano eleitoral.
A derrota do grupo do prefeito não foi barulhenta, mas foi eloquente. Em um Legislativo numericamente equilibrado, a incapacidade de manter coesa a própria base expôs fissuras na articulação política do Executivo, que, mesmo sem embates públicos, saiu menor do plenário.
Procurado pela reportagem do MS Notícias, o vencedor adotou discurso em tom oposto ao clima de frustração governista. Dr. Antônio Viana fez questão de ressaltar o caráter democrático do processo e a pluralidade da nova Mesa Diretora.
“A minha eleição foi um processo democrático e de respeito entre os dois grupos”, afirmou o novo presidente, destacando que sua condução será pautada pela igualdade no tratamento entre todos os vereadores, sempre “com o olhar voltado para o povo”.
Em uma Câmara que agora reúne, declaradamente, representantes da esquerda, da direita e do centro, Viana afirmou que a ideologia não será obstáculo, mas instrumento de diálogo.
“Embora eu seja de centro, vamos buscar um diálogo de esquerda e direita que seja benéfico para o povo. O nosso principal partido é a população”, declarou.
O novo presidente também enfatizou a necessidade de harmonia institucional, sem submissão. Segundo ele, a relação com o Executivo será baseada no diálogo e na escuta das demandas populares.
“Vamos buscar diálogos, estabelecendo relação entre aquilo que o povo almeja e o governo”, disse, ao acrescentar que o respeito ao processo democrático foi determinante para o resultado final.
Em uma fala que soou como síntese do momento político, Viana reconheceu a postura formal do Executivo, mas atribuiu a vitória à articulação da oposição e ao sentimento popular.
“O Executivo respeitou o processo democrático, e a articulação do nosso grupo, em parceria com a opinião popular, teve um êxito inesperado. Prevaleceu a vontade do povo, garantindo a isonomia do processo. E quem ganha com tudo isso é a população".
A nova Mesa Diretora também reforçou, em uníssono, a importância do diálogo e do respeito mútuo entre os poderes. Apesar dos panos quentes, o que essa eleição sinaliza, é que: em Porto Murtinho, o Legislativo decidiu andar com as próprias pernas — e o prefeito, queira ou não, terá de aprender a dialogar com um plenário que já não lhe pertence.











