11 de maio de 2024
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INVESTIGAÇÃO

Após 4 anos, Ex-PM delata assassinos de Marielle Franco e Anderson

Leia os principais pontos da delação premiada de Élcio Queiroz

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A Polícia Federal e o Ministério Público do Rio de Janeiro, deflagrou nesta 2ª feira (24.jul.23) a 1ª fase da Operação Élpis (a deusa grega da esperança), e prendeu o ex-sargento do Corpo de Bombeiros, Maxwell Simões Correa, o Suel. 

Conforme a operação, Suel é acusado de ser dono do carro usado para esconder as armas usadas no assassinato da vereadora Marielle Franco (Psol) e do motorista dela, Anderson Gomes, além da tentativa de homicídio da assessora Fernanda Chaves, única sobrevivente que estava no veículo alvo de rajadas de tiros dia 14 de março de 2018.

A operação surgiu após o ex-PM, Élcio Vieria de Queiroz, fazer uma delação premiada. Ele e o ex-sargento da PM Ronnie Lessa, estão presos há 4 anos acusados do assassinato da vereadora e do motorista. Élcio fez delação na tarde de 14 de julho, após desconfiar de Lessa, apontado como seu comparsa no crime. Os dois estão presos em Rondônia e vão a júri popular pelas execuções.

Além da prisão de Suel, os agentes também cumpriram 7 mandados de busca e apreensão no Rio de Janeiro nesta 1ª fase da Operação Élpis. 

O ministro da Justiça, Flávio Dino, foi ao Twitter confirmar que as prisões de fato se referem ao avanço das investigações sobre o caso Marielle e Anderson e que se usa de delação. 

LOCAL DA DELAÇÃO 

A reportagem teve acesso ao inteiro teor da delação feita por Élcio Queiroz na sede do Comando de Aviação Operacional (CAOP), situada ao hangar da Polícia Federal, no aeroporto de Brasília (DF), em 14 de junho de 2023. 

Ele deu as declarações aos seguintes policiais:

  • Delegado de Polícia Federal responsável pelo inquérito: Guilhermo de Paula Machado Catramby;
  • Delegado Regional de Polícia Judiciária da Superintendência de Polícia Federal do Rio de Janeiro: Jaime Candido da Silva Júnior;
  • Promotores de Justiça responsáveis pela Força Tarefa Marielle e Anderson, do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) no Ministério Público do Rio de Janeiro: Eduardo Moraes Martins e Paulo Rabhas de Matos; e,
  • Investigadores: Felipe Alves, Marcelo Sussekind, Carlos Roberto Ferrari e Marcelo Pasqualetti.

A DELAÇÃO

Élcio disse que o sargento Edimilson Oliveira da Silva, conhecido como "Edmilson Macalé",  foi o elo entre os mandantes e os executores do assassinato da vereadora. 'Macalé', segundo Élcio, participou de todos os monitoramentos de Marielle e foi ele quem trouxe a "missão matar a vereadora" à Ronnie Lessa. 'Macaelé', acabou sendo assassinado em 2021. 

Em delação, Élcio revelou que no final de 2017 foi a 1ª vez que Ronnie e Macalé tentaram matar Marielle. Além deles, na época, estava dirigindo o carro o ex-bombeiro preso hoje, Suel:

"Motorista seria Maxwell, o Suel; banco do carona Ronnie com a metralhadora dele, a MP5; e no banco de trás, na contenção, seria o Edmilson Macalé, que faria a contenção com AK47; foi essa a situação que ele me passou; nesse dia do ano novo que ele desabafou", contou Élcio Queiroz ao delegado da Polícia Federal, Guilhermo de Paula Machado Catramby. Suel, entretanto, teria refugado no momento do ataque, o que frustrou o assassinato na época.

Sobre a arma usada no crime, Élcio disse que arma do crime Ronnie a comprou de um policial que extraviou o equipamento de um quartel do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) da PM carioca. 

No dia do crime, Élcio foi chamado para dirigir para Ronnie Lessa. Ele chegou no final da tarde no condomínio de Lessa, que estava com uma mala preta contendo a arma do crime. Depois de sair da casa, Élcio afirma que, a pedido de Lessa, deixou o celular dentro do carro.

Eles, então, seguiram para a Casa das Pretas, na Rua dos Inválidos, na Lapa. Lá, ficaram de tocaia esperando Marielle sair. 

No carro, Élcio relata que viu Lessa colocando um casaco preto, tirando a submetralhadora da bolsa, instalando o silenciador, colocando uma touca-ninja e com binóculo em mão. Segundo o ex-policial militar, o autor dos disparos contra Marielle cogitou atirar na entrada da Casa das Pretas no Rio, mas recuou depois de Élcio alertá-lo da quantidade de pessoas. 

Depois da saída de Marielle, Élcio diz que começaram a seguir o carro da vereadora. Lessa cogitou que Marielle fosse para um bar que ela costumava ir. Ao diminuir a velocidade do carro da ativista, Lessa pediu que Élcio emparelhasse e fez os disparos. Ele relatou que sentiu cápsulas caírem sobre ele:

"Nesse momento que está parado, esperando pra entrar, eu emparelhei e botei meu vidro...a minha janela paralela ao carona do carro do ANDERSON; não vi, pois o vidro é escuro; ele já estava com o vidro aberto e eu só escutei a rajada; da rajada, começou a cair umas cápsulas na minha cabeça e no meu pescoço; (inaudível) quem pensa que silencioso...mas faz um barulho danado, não tinha nem noção; quem pensa que é pouco barulho... mas é muito barulho; aí caíram as cápsulas em mim e ele falou "vão bora"; eu nem vi se acertou quem, se não acertou", narrou Élcio. 

Depois do assassinato, às 21h48, seguiram para casa da mãe de Lessa, no Méier, onde teriam deixado o carro. De lá, pegaram um táxi para a Barra da Tijuca, onde se encontraram com Maxwell. Naquele momento, já estava sendo noticiada a morte da vereadora. Os 3 ficaram no bar até às 3h:

"Eu não acredito que foi não, porque a esposa dele voltou depois; voltou depois e fez um escândalo danado e a rua estava vazia e ela falou pra ir embora; e ela falou: "que isso é hora de homem casado tá na rua; fez um escândalo danado na rua; aquilo ali o segurança não vai esquecer; fez um escândalo danado, voltou pro carro deles, que era um Mitsubishi sedan; eu acho que era esse carro que ela estava; fez um escândalo e ela entrou no carro e ficou ali esperando a gente acabar; ficamos calados só esperando os dois discutindo...e volta, volta...aí daí pra frente eu não me lembro se ele foi embora com ela no veículo; com a gente; eu acho que não foi não...porque toda vez que me pergunta se deixei alguém em algum lugar, se passaram em algum lugar, eu não me lembro de ter deixado ninguém. [Estávamos] embriago; louco, estava louco; vomitei umas três vezes; querendo já sumir do mundo. Até ele falava: "qual foi Elcio"? porque eu ia atrás do carro toda hora, na rua mesmo, vomitei pra caramba. Disso daí, depois fomos pra casa dele; com certeza pegamos ali a rua de dentro e saímos na praia; entramos no condomínio dele; desci do carro; fui pra pegar meu carro; ele estava no carro dele assim...ele nem desceu, eu que desci, ele ficou pra estacionar o carro dele no lugar do meu; aí depois ele pegou...fui ajeitar meu carro...ele pegou e falou  nunca me esqueço disso "cara, tu tá duro?" Tô... mas qual foi, o que é? Ele falou: "vou te dar isso aqui cara, segura isso aqui...mas não é por causa disso não hein...não tem nada a ver com o crime não"; e me deu mil reais; sempre ele me dava um dinheiro; esse dinheiro ele me deu, mas falou que não tinha nada a ver com essa parada; ele falou que jurava, não botei um centavo nisso aí; eu falei não precisa não; aí aquele precisa, não precisa... ele me deu mil reais; mas deixou bem especifico que não foi relacionado a...pô, seria até...mil reais... Deus me livre e guarde...aí eu peguei meu carro e...liguei pra minha esposa, que eu estava indo pra casa, pra ela abrir meu portão, porque é muito perigoso ali aonde eu moro; pra ela ficar esperta quando eu chegasse, pra ver na câmera; lá em casa tem câmera; ela abriu portão pra mim e eu já entrei com o carro. Isso foi o dia, foi o dia do fato em si", narrou. 

Lessa, Élcio e Maxwell ainda se encontraram em 15 de março, no Méier para desmanchar o carro usado no crime. Eles teriam retirado cápsulas do veículo e o ex-bombeiro teria trocado a placa do carro e levado para Rocha Miranda, local em que seria feito a desova do automóvel por Edimilson Barbosa dos Santos, conhecido como "Orelha": 

"Foi na minha casa; aí me buscou; aí nós fomos até a rua da mãe dele lá...aí ele falou que tínhamos que trocar a placa desse carro aí, pra levar depois pra outro lugar e tal; mandou mensagem "tô chegando", ele sempre fazia isso pelo CONFIDE e aí desligava o telefone; justamente pra antena dele não ligar a minha residência; esse "tô chegando", podia chegar daqui quinze minutos, cinco minutos, uma hora...ele fazia sempre isso...as vezes ele aparecia também e ficava esperando alguém entrar na minha casa e ai "chama seu pai lá"; ele sempre fez isso; ele sempre se precaveu em negócio de antena, em situações de antena; aí nós fomos até a rua de novo, lá do carro lá... Na Casa Branca; em frente lá...tem um ponto de Kombi; estava lotado de Kombi ali...várias pessoas ali... Kombi mesmo; de transporte alternativo...a gente ficou até assim...vamos levar o carro pra onde...ficou aquela dúvida; vamos levar...tem que trocar essa placa, e já estavam com a placa; aí tem que trocar essa placa, vamos pra onde?...vamos pro posto...não, mas o posto um monte de gente vai ver; que tem um posto de gasolina que é muito amigo nosso...ali na...ali onde tem um posto de saúde do Engenho de Dentro...na Rua Gurupati; tem um posto de gasolina ali, tem um estacionamento ali, mas a gente não foi ali; a gente conversa daqui, conversa dali...e falei vamos pra minha casa; mas só que a minha casa tem câmera; aí ele não, ajeita lá, a sua garagem é fechada, então vamos pra lá; fomos pra minha casa; mas depois teve a situação do HD, mas aí foi posterior; aí chegamos e entramos, a minha esposa não estava em casa, não tinha ninguém em casa; botei o carro dentro da garagem; a minha garagem é fechada, ou seja... os senhores foram lá e os senhores viram a garagem da minha casa, que tem um telhadinho fechado; deu certinho o carro ali; aí a casa da minha mãe na frente, que tá alugada agora e estava em obra na época; aí eu fui e peguei uma chave de fenda; o RONNIE veio e desceu do carro; a Evoque ficou lá e entregou a placa pra gente; aí eu já tirei a placa de trás, e o SUEL já foi tirando a placa da frente; mas fizemos uma varredura no carro ali, pra tirar umas cápsulas; tinha umas cápsulas ainda dentro do veículo; aí fizemos uma varredura ali e tiramos; aí ele perguntou se estava em obra; como que a gente vai quebrar essa placa lá dentro... aí eu falei que eu acho que lá na minha mãe, como tá em obra tem tesoura de cortar chapa... tem um monte de ferramenta...então tinha; ele entrou; fomos na sala da casa da minha mãe; ficamos lá e eles cortando pedacinho por pedacinho da placa", revelou.