09 de setembro de 2024
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DIREITOS HUMANOS

Família da 'Loira do PCC' é beneficiada com o massacre de indígenas em MS

Retomadas em MS feitas com arco e flecha, enfrentam drones, caminhonetes, armas de grosso calibre e influência na alta cúpula

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As comunidades Guarani e Kaiowa travam uma nova batalha contra poderosos fazendeiros desde 13 de julho de 2024, quando iniciaram retomadas de suas terras em diferentes regiões, incluindo a Terra Indígena Panambi-Lagoa Rica, em Douradina, em Caarapó e Juti, em Mato Grosso do Sul.  

Um dia após o início da retomada, jagunços de fazendeiros começaram a ataques armados ferindo a tiros um indígena idoso no tekoha Guayrakamby”i. 

Em seguida, fazendeiros montaram acampamentos de vigilância em frente à área retomada.

Como mostramos aqui, desde então os ataques com armas de grosso calibre ficaram escancarados e frequentes. Em 4 de agosto, ao menos dez indígenas foram alvejados a tiros.  

Imagem: área aproximada das retomadas e do acampamento dos fazendeiros

Numa reportagem especial, o site De Olho nos Ruralistas destacou que uma das famílias fazendeiras beneficiadas com a violência contra os indígenas, para manter o uso ilegal das terras indígenas em MS, é a do casal Cleto Spessatto e Fátima Maria Spessatto, cuja filha é Jacqueline Michelle Spessato, conhecida como "Loira do PCC".

Loira do PC, filha Cleto Spessatto, respondia ao Malboro, homem chave do PCC. Loira do PC, filha Cleto Spessatto, respondia ao Malboro, homem chave do PCC. 

Além do pai e mãe, os tios da 'Loira do PCC', Ari e Dori, também detém terras em Dourados (MS), ao todo, a família detém cerca de 800 esquitares, sendo que aos menos 3 fazendas estão sobrepostas a Terra Indígena Panambi-Lagoa Rica, em Douradina. Os Spessatos também acumulam terras em Porto Murtinho (MS) e no Mato Grosso. Conheça o que está por trás da violência contra os Guarani Kaiowá no primeiro vídeo da série Emergências: 

BATALHA FÍSICA, ESPIRITUAL E LEGAL 

As retomadas em MS feitas com arco e flecha, enfrentam drones, caminhonetes, armas de grosso calibre e influência na alta cúpula.

Os povos indígenas sofrem enquanto o processo de demarcação da TI Panambi-Lagoa Rica se arrasta desde 2005. A área, oficialmente delimitada em 2011 já era para ter sido devolvida aos indígenas, mas o processo foi paralisado sob contestação judicial com base na famigerada tese do Marco Temporal – que condiciona a demarcação à ocupação das terras na data da promulgação da Constituição de 1988.

Em MS, os Guarani e Kaiowa enfrentam uma longa história de desapropriação e violência, intensificada com a expansão agrícola. Atualmente, enfrentam uma combinação de ataques físicos e pressões legais para desocupar as áreas retomadas.

O Ministério Público Federal e a FUNAI têm atuado de maneira bastante complacente. A proposta do MPF para negociar uma área reduzida e o recente posicionamento de fazendeiros em relação à colheita de milho levantam suspeitas de estratégias para justificar ataques às terras retomadas.

A relação entre o governo, ruralistas e o setor agroindustrial, como evidenciado pelo apoio político aos fazendeiros e pela inação das autoridades, sugere uma complexa rede de interesses que favorece a propriedade privada sobre os direitos indígenas.

Ainda assim, a resistência indígena persiste em meio a um contexto de violência e promessas não cumpridas, enquanto a disputa sobre a demarcação das terras segue sem solução que beneficie os indígenas.

PROTESTO 

Na tarde de ontem (8.ago.24), líderes Guarani e Kaiowá protestaram em frente ao Ministério da Justiça (MJ) exigindo o fim dos ataques de fazendeiros contra a Terra Indígena Panambi – Lagoa Rica, em Douradina (MS). 

Os manifestantes cobraram a remoção de um acampamento ruralista na área indígena e ações efetivas para garantir a segurança da comunidade e acelerar a demarcação da terra.

Celso Alziro, cacique da TI, afirmou que a demarcação é crucial para acabar com os ataques. O Conselho Nacional de Política Indigenista (CNPI) também apoiou o protesto. Assista: