26 de julho de 2024
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VIOLÊNCIA POLICIAL | NACIONAL

PM mata soldado em blitz; tio 'passava' na hora, mas não sabia que era o sobrinho

Prestes a completar 22 anos, Bruno estava na Força Aérea Brasileira e foi assassinado pela PM carioca

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O soldado da Força Aérea, Bruno Eduardo de Melo Rocha, de 21 anos, foi assassinado pela Polícia Militar na noite do sábado (15.out.22), em Santíssimo, Zona Oeste do Rio de Janeiro. (O Globo)

Seu tio, Marciel Venício passava no mesmo instante pela Estrada Sete Riachos,  mas não imaginava que  o carro que perdera o controle e veio em sua direção, do qual teve que desviar, era justamente de seu sobrinho. Ele só ligou os fatos quando os seus irmãos relataram como o sobrinho tinha morrido.

Os PMs argumentaram que faziam uma blitz no trecho e que Bruno teria furado o bloqueio militar. Com isso, o jovem foi atingido por um disparo. Ele chegou a ser socorrido e encaminhado para o Hospital Municipal Rocha Faria, em Campo Grande, na mesma noite. Contudo, não resistiu aos ferimentos e morreu na madrugada.

De acordo com a Polícia Militar, a Corregedoria Geral da Corporação instaurou procedimento interno para apurar o caso e os policiais envolvidos na ocorrência prestaram depoimento. O caso também é investigado pela 35ª DP (Campo Grande) e foi registrado como lesão corporal seguida de morte por intervenção de agente do Estado.

Em depoimento à Polícia Civil, um dos PMs relatou que um carro e uma moto estavam em "atitude suspeita" na Estrada Sete Riachos e foi solicitado que os veículos parassem. O agente disse que os veículos fugiram apesar das "diversas ordens de parada". No depoimento, o policial contou ter efetuado um disparo de fuzil no pneu traseiro do carro, "com objetivo de imobilizar o veículo". Após o disparo, Bruno, que dirigia o carro, ainda teria prosseguido por cerca de 200 metros.

O agente destacou que o jovem estava armado e "visivelmente embriagado e a todo momento se recusava a obedecer às ordens da guarnição". Bruno também teria se recusado a sair do veículo e ser revistado.

O PM também relatou que Bruno disse ter sido baleado na lombar. Com isso, o soldado da Força Aérea foi colocado na viatura e encaminhado para o Hospital Rocha Faria. "Não foi possível fazer uma revista pessoal ou do veículo tendo em vista priorizar o socorro de Bruno", declarou em depoimento.

Tio de Bruno, Marcos da Rocha disse que, ao chegar à delegacia, foi informado que o sobrinho estaria armado no momento da abordagem, o que é negado pela família. Desta forma, o tio confrontou a versão:

— Estivemos na 35ª DP. Lá, o meu irmão, que é suboficial naval, perguntou à policial: "Cadê a suposta arma que pegaram com o Bruno?". Ela (policial) respondeu que não tinha arma nenhuma, mesmo que nos autos constasse que o Bruno dirigia com uma das mãos e, com a outra, seguraria uma arma. Não tinha arma nenhuma — explicou Marcos, que também tenta compreender a dinâmica do momento:

— A polícia fala que foi blitz. Mas eu compreendo que blitz é oficializada. (No dia que Bruno foi baleado) Não tinha operação nenhuma ali, então não era uma blitz, era uma abordagem — conclui.

Marcos explicou que tem sete irmãos, entre eles o pai de Bruno. Marciel Venicio, um deles, morador da Zona Oeste assim como toda a família passava pelo local em que o sobrinho morreu quando Bruno perdeu o controle do carro:

— Somos em oito irmãos e um deles passou na hora, mas não sabia que era um sobrinho nosso. Ao perder o controle com o carro, o Bruno invadiu a pista e quase bateu de frente com o próprio tio. Ao ouvir o disparo, ninguém ficou para ver, nem meu irmão — narra Marcos, a partir do que ouviu do irmão.

— Meu outro irmão, Marciel, não sabia do que estava se passando. Mas ouviu o disparo e ainda desviou do veículo que perdeu a direção. Chegando em casa, conversou com a minha cunhada sobre o acontecido, mas só quando ligamos para ele para falar do sepultamento do Bruno, que ele recobrou a situação vivida na noite anterior. Ele está extremamente abalado — explicou.

SONHO EM SER MILITAR

Prestes a completar 22 anos, Bruno Eduardo de Melo Rocha estava na Força Aérea Brasileira desde os 18. O tio Marcio, que aparece também fardado nas fotos da formatura de Bruno a soldado, em 2019, é suboficial da Marinha e recorda da paixão do sobrinho.

— O Bruno sempre foi apaixonado pela vida militar. Recentemente, participamos de um evento comemorativo na Marinha e ele ficou todo satisfeito por ir fardado, porque o sonho dele era ser militar — conta Marcio, que lamenta a morte, por toda a família, mas principalmente pelo irmão do jovem militar, Breno, de 15 anos, "companheiro" de Bruno.