26 de julho de 2024
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CAMPO GRANDE (MS)

Polícia prende Odeval por falsificar e vender 'fitoterápico'

Ele vendia o produto para todo o Brasil

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Odeval Nogueira Sutil, de 50 anos, foi preso às 17h30 da 3ª.feira (31.jan.23), ao sair de sua casa na Rua Maracantins, no Bairro Tijuca, em Campo Grande (MS), dirigir até uma gráfica na Avenida Júlio de Castilho  e sair de lá com dezenas de envelopes de correio.

Os envelopes dos correios que seriam usados para enviar os falsos  fitoterápicos. Foto: Tero Queiroz Os envelopes dos correios que seriam usados para enviar os falsos fitoterápicos. Foto: Tero Queiroz 

A Delegacia Especializada de Repressão ao Narcotráfico (Denar), em parceria com a Receita Federal e com a Gerência de Segurança Interna dos Correios, disse que Odeval estava falsificando remédios e vendendo pela internet como se fossem fitoterápicos, isso é, feitos à partir de plantas medicinais.

Assim que saiu de gráfica, Odeval foi até a Agência Central dos Correios, na Avenida Calógeras, de onde despacharia mais uma leva de produtos vendidos. Dessa vez, porém, a polícia o prendeu em flagrante na porta da agência. A suspeita inicial era que ele estivesse comercializando entorpecentes.  

“Tínhamos uma investigação em andamento de que ele estaria postando via Correios remédios fitoterápicos, porém a composição não estava em harmonia com o que ele vendia. Então, ele foi surpreendido pelos investigadores da Denar com essa quantidade excessiva de frascos de medicamentos e nós os conduzimos até essa unidade policial”, explicou delegado titular Hoffman D'Ávila em coletiva à imprensa na manhã desta 4ª.feira (1.fev.23).

Esse é o delegado titular Hoffman D'Ávila, da Denar. Foto: Tero Queiroz Esse é o delegado titular Hoffman D'Ávila, da Denar. Foto: Tero Queiroz 

Na Denar, um teste químico preliminar feito nos frascos vendidos por Odeval, apontou que poderia haver elementos semelhantes ao de cocaína na composição dos remédios. “Positivou para cocaína. Porém, para salvaguardar e tomar uma decisão de mais segurança se haveria ou não entorpecente, foi feita uma requisição na data de ontem, de um laudo definitivo. O laudo definitivo constatou que não há qualquer indício de substância entorpecente proscrita na portaria 344 da Anvisa, ou seja, não há substância entorpecente que causaria dependência física ou psíquica. No entanto, o laudo materializou que há ibuprofeno e orfenadrina, que é da família da morfina, que é um relaxante muscular”, esclareceu Hoffman.

Um dos frascos apreendidos estava adesivado como um produto fitorápico chamado Natural Life. Foto: Tero Queiroz Um dos frascos apreendidos estava adesivado como um produto fitorápico chamado Natural Life. Foto: Tero Queiroz 

De acordo com os investigadores, Odeval comprava os remédios de um empresário dono de uma farmácia e falsificava os adesivos do recipiente para vender a pessoas na internet. “Pegava as cápsulas, comprava os recipientes pela internet e montava os adesivos, com vários nomes. Ele vendia cada um a R$ 25,00 e isso é ilegal, tipificado no artigo 273 do código penal”, apontou o titular.

Com Odeval, no momento do flagrante, foram apreendidos 826 frascos de remédios, contendo 12.390 comprimidos. Ele também estava com 3.465 adesivos com os dizeres “Harp 100 – Fitoterápico” – produto usado por pessoas idosas para alívio imediato das dores, redução de inchaços e inflamações, para combater dores na lombar, arrefecer artrite e artrose e varizes – apesar disso, a venda do ‘Harp 100’ está suspensa desde dezembro de 2009 no Brasil, por não possuir registro na Agência. “Há uma investigação em Votuporanga (SP), nós fizemos contato lá ontem. E esse mesmo remédio foi apreendido uma remessa em Votuporanga e também pela Polícia Civil do Rio de Janeiro (RJ). Lá em Votuporanga há uma investigação em andamento de que uma pessoa tomou esse medicamento por dois anos e veio a óbito, então, há uma investigação policial nesse sentido. Inclusive, a necrópsia está caminhando nesse sentido. E o pai [da vítima de Votuporanga] também se encontra em estado grave porque também estava utilizando esse medicamento ‘Harp 100’. Ele não tem autorização para vender e desde 2009 esse medicamento está proibido pela Anvisa”, disse.

Odeval falsificava uma variedade de fitotérápicos. Foto: Tero Queiroz Odeval falsificava uma variedade de fitotérápicos. Foto: Tero Queiroz 

Para a polícia, Odeval disse que comercializa os remédios há 3 anos. Os investigadores não divulgaram dados sobre quanto Odeval lucrou no período, mas o delegado destacou que ele estava em um veículo de alto padrão, um Fastback Turbo 270/Fiat, que custa mais de R$ 150 mil. “Ele fala que estava ganhando R$ 4 mil por mês, só que estava andando em carro novo, de 2023, vamos aprofundar as investigações e chegar ao valor exato”, esclareceu o delegado. 

Odeval foi preso em flagrante e será indiciado pela comercialização dos remédios falsos. O delegado salientou que caso seja provado que produto do suspeito gerou a morte em Votuporanga (SP), ou que afetou outros indivíduos, também por isso Odeval pode responder.   

O titular da Denar garantiu que Odeval estava ciente e agiu de má-fé ao falsificar os produtos para venda: "Ele sabe o que está fazendo, ele sabe! Agiu de má-fé desde o momento que recebeu essas cápsulas sem nota fiscal. A má-fé dele está bem caracterizada. Ele sabia que se tratava de um relaxante muscular. Aí está a conduta delituosa dele”, finalizou. 

Segundo médicos, a ingestão de ibuprofeno e orfenadrina podem causar parada cardíaca, falência dos rins e de outros órgãos.