26 de julho de 2024
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DIREITOS HUMANOS

Vídeos: em 5 meses, PRF e PF reproduzem o trato ao pobre e ao rico no Brasil de Bolsonaro

Jefferson e Genivaldo tinham 'diferenças' que aos olhos do estado, sob o comando bolsonarista, os tornam valiosos ou não

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A polícia brasileira, sob o comando do governo de Jair Bolsonaro (PL), há 5 meses matou asfixiado Genivaldo de Jesus Santos, de 38 anos, dentro de uma viatura, numa espécie de câmara de gás. A justificativa? Ele estava andando sem capacete na cidade sergipana de Umbaúba, na tarde de quarta-feira (25.mai.22), e reagiu, ao ser abordado por uma equipe da Polícia Rodoviária Federal (PRF). Apenas 5 dias após o assassinato, o presidente teceu comentários sobre isso, para comparar Genivaldo a um morador de rua.

Genivaldo era trabalhador, tinha esquizofrenia e foi torturado até a morte pelos PRFs, sem apresentar ameaça, já que não estava armado.

Desde o assassinato de Genivaldo, passaram-se exatos 5 meses. No domingo (23.out.22), a Polícia Federal (PF) foi até a casa do amigo de Bolsonaro, Roberto Jefferson (ex-presidente do PTB e ex-deputado). Ao chegarem lá, para cumprirem um mandado de prisão, Roberto reagiu disparando ao menos 50 tiros de fuzil contra os PFs, ferindo 4 deles. Além disso, o bolsonarista usou granadas de efeito moral contra os policiais. Ainda assim, os PFs não feriram o amigo do presidente, garantiram a preservação da integridade física e o direito à vida para Roberto Jefferson. Até mesmo o Ministro da Justiça do Brasil, Anderson Torres, chegou a ser mobilizado por Jair Bolsonaro para ir até o imóvel de Jefferson no interior do Rio de Janeiro para garantir os direitos ao cidadão de bem.

Jefferson e Genivaldo tinham “diferenças” que aos olhos do estado, sob o comando bolsonarista, os tornam valiosos ou não.

Jefferson (o valioso) é branco e rico. E, matar pessoa branca e rica não é tão simples quanto matar negros e pobres. Para o estado brasileiro bolsonarista, somos mais matáveis. Nossa eliminação não dá tantos problemas para a mão armada do estado e nem para a imagem política, porque negro e pobre morre todos os dias, então, a nossa matança é mais “aceitável”. 

Segundo o estudo "Pele alvo: a cor da violência policial" elaborado pela Rede de Observatórios da Segurança em 14 de dezembro de 2021, a cada quatro horas uma pessoa negra é morta em ações policiais na Bahia, no Ceará, no Piauí, em Pernambuco, no Rio de Janeiro e em São Paulo. A íntegra.  

Genivaldo (o sem valor) além de não ser branco, também não tinha fortunas conquistadas por meio da exploração da opinião pública. Genivaldo tinha uma motocicleta de baixa cilindrada e no dia em que o sentenciaram a morte, estava com analgésicos no bolso, que controlava a esquizofrenia. Naquele infeliz dia 25 de maio, sua família assistiu a vídeos na internet que mostravam os últimos movimentos de Genivaldo tentando respirar, mas, em razão de não ter valor para o estado bolsonarista, foi brutalmente torturado até não poder mais inalar oxigênio.

Em contraponto, a rendição de Jefferson também foi filmada. Na imagem, é possível ver o belo trabalho do Policial Federal Vinicius de Moura Secundo, que negociou a rendição do político bolsonarista.  Atirador de elite, Secundo é instrutor de tiro e também atua como negociador. Ele foi escolhido a dedo para negociar a rendição do político bolsonarista, após 14h de resistência atrás dos muros da mansão no município de Comendador Levy Gasparian (RJ).

Eis os vídeos:

PENALIDADES

Após os episódios, Jefferson, que já era condenado por comandar uma milícia digital bolsonarista que visava atacar o Supremo Tribunal Federal (STF), também responderá por tentativa de 4 homicídios. 

Genivaldo foi assassinado, mas inicialmente, em 25 de maio, a PRF disse que a morte ocorreu porque ele havia resistido à abordagem de agentes. Disse ainda que, por conta da “agressividade” de Genivaldo, foram usados instrumentos “de menor potencial ofensivo” para conduzi-lo à delegacia. A PRF argumentou que Genivaldo teria, então, passado mal durante o deslocamento, que por isso foi levado ao hospital e lá foi constatada sua morte. O vídeo da morte na câmara de gás improvisada repercutiu demais e a PRF reformulou sua resposta. 

Em 28 de maio (3 dias após matarem Genivaldo), a PRF divulgou um vídeo em redes sociais, no qual informava que não compactuava com a ação de seus agentes.

“Assistimos com indignação os fatos ocorridos na cidade de Umbaúba, em Sergipe, em que uma ação envolvendo policiais rodoviários federais resultou na morte do senhor Genivaldo de Jesus Santos. Não compactuamos com as medidas adotadas durante a abordagem ao senhor Genivaldo”, declara Marco Territo, coordenador-geral de comunicação institucional da PRF, no vídeo divulgado pela corporação. “Nos solidarizamos com a família e amigos do senhor Genivaldo e não mediremos esforços para colaborar com todas as investigações”, acrescentou.

Dias mais tarde, os policiais Jean Coelho (diretor-executivo da PRF) e Allan da Mota Rebello (diretor de inteligência da PRF), foram promovidos a postos de trabalho nos Estados Unidos, conforme publicado no Diário Oficial da União no dia 17 de maio.