Nos últimos anos, o Brasil experimentou um notável crescimento na adoção de criptomoedas, com as stablecoins, ativos digitais atrelados a moedas tradicionais, como o dólar americano – desempenhando um papel fundamental. Segundo Gabriel Galípolo, presidente do Banco Central do Brasil, as stablecoins agora representam aproximadamente 90% das transações de criptomoedas no país. Essa tendência reflete uma mudança significativa na forma como os brasileiros utilizam as moedas digitais, especialmente para compras do dia a dia e comércio internacional.
O crescimento das Stablecoins no Brasil
As stablecoins foram projetadas para oferecer os benefícios das criptomoedas, como transações rápidas e taxas reduzidas, ao mesmo tempo que mitigam a volatilidade característica de ativos como Bitcoin e Ethereum. Ao manter um valor estável por meio da vinculação a ativos do mundo real, as stablecoins proporcionam um meio de troca confiável e uma reserva de valor segura.
A adoção de criptomoedas no Brasil se expandiu para diversos setores. No setor de iGaming, os cassinos de criptomoedas aceitam e suportam várias criptomoedas, como Bitcoin, Ethereum e Dogecoin, proporcionando maior privacidade e velocidades mais rápidas para depósitos e saques. Já os varejistas e plataformas de e-commerce integraram moedas digitais aos seus sistemas de pagamento, atendendo a consumidores cada vez mais conectados.
Fatores que impulsionam a adoção das Stablecoins
Instabilidade econômica e inflação
Historicamente, o Brasil tem lidado com instabilidade econômica e altas taxas de inflação. Nesse contexto, as stablecoins oferecem uma proteção contra a desvalorização da moeda, permitindo que indivíduos e empresas preservem seu poder de compra ao manter ativos atrelados a moedas estrangeiras mais estáveis. Essa estratégia financeira se tornou cada vez mais atraente à medida que os brasileiros buscam proteger seu patrimônio das flutuações econômicas domésticas.
Transações internacionais e e-commerce
A natureza global das stablecoins facilita transações internacionais sem complicações, tornando-as ideais para comércio exterior e compras online. Muitos brasileiros utilizam stablecoins para adquirir bens e serviços de fornecedores estrangeiros, evitando os sistemas bancários tradicionais, que costumam cobrar altas taxas e ter tempos de processamento demorados. Esse fator tem impulsionado significativamente a adoção das stablecoins no país.
Inclusão financeira e acessibilidade
As stablecoins também têm desempenhado um papel fundamental na ampliação da inclusão financeira no Brasil. Para indivíduos sem acesso a serviços bancários tradicionais, elas oferecem uma porta de entrada para a economia digital, permitindo que participem de atividades financeiras como poupança, investimento e transações. Essa democratização dos serviços financeiros tem empoderado uma parcela mais ampla da população.
Desafios regulatórios e iniciativas
A rápida proliferação das stablecoins no Brasil tem gerado desafios regulatórios, especialmente no que diz respeito à tributação e aos esforços de combate à lavagem de dinheiro (AML). A natureza pseudônima das transações com criptomoedas pode dificultar o rastreamento dos fluxos financeiros, tornando mais complexas a fiscalização e a aplicação das leis. Para lidar com essas questões, as autoridades brasileiras estão implementando diversas iniciativas.
Drex: melhorando a infraestrutura de crédito
O Banco Central do Brasil lançou a iniciativa Drex, um sistema de infraestrutura projetado para melhorar o acesso ao crédito por meio de garantias lastreadas em ativos. Diferente de uma moeda digital emitida pelo banco central (CBDC), o Drex utiliza a tecnologia de registro distribuído para facilitar transações interbancárias no atacado, enquanto os usuários finais acessam o sistema por meio de depósitos bancários tokenizados. Essa abordagem visa reduzir os custos de empréstimos e expandir as opções de financiamento garantido.
Integração do Pix com sistemas de pagamento internacionais
O Pix, sistema de pagamentos instantâneos do Brasil, alcançou ampla adoção no mercado doméstico devido à sua rapidez e conveniência. As autoridades do Banco Central estudam a integração do Pix com redes internacionais de pagamento instantâneo para simplificar as transações internacionais. Essa integração pode fortalecer a conectividade financeira do país e posicionar o Brasil como um líder em infraestrutura de pagamentos digitais.
Marco regulatório para Stablecoins
Reconhecendo a necessidade de regulamentação abrangente, as autoridades brasileiras anunciaram planos para regular as stablecoins e a tokenização de ativos até 2025. Esse marco regulatório pretende garantir transparência, prevenir atividades ilícitas e proteger os consumidores, criando um ambiente mais seguro para transações com ativos digitais.
Impactos para a economia brasileira
O domínio das stablecoins no cenário das criptomoedas no Brasil traz implicações significativas para a economia do país:
Riscos de dolarização
O uso massivo de stablecoins atreladas ao dólar tem levantado preocupações sobre uma possível dolarização da economia brasileira. À medida que mais cidadãos e empresas realizam transações com stablecoins vinculadas ao dólar americano, a demanda pela moeda nacional pode diminuir, comprometendo a soberania monetária do país. Esse fenômeno exige um monitoramento cuidadoso e a adoção de políticas adequadas por parte das autoridades financeiras.
Impacto nos bancos tradicionais
O crescimento das stablecoins representa tanto desafios quanto oportunidades para os bancos tradicionais. Por um lado, as instituições financeiras podem enfrentar uma concorrência maior, à medida que os consumidores recorrem a ativos digitais para transações e poupança. Por outro lado, os bancos têm a chance de inovar ao integrar serviços baseados em stablecoins, atraindo clientes mais conectados à tecnologia e garantindo sua relevância em um cenário financeiro em rápida evolução.