Autoridades federais e estaduais estão investigando a presença de organizações criminosas em postos de combustíveis em pelo menos 22 estados brasileiros, incluindo a região Centro-Oeste.
A operação foca em pontos críticos em Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, onde há suspeitas de envolvimento de facções criminosas como o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho, além de milícias locais.
Em Goiás, 163 postos foram identificados como potenciais pontos de atuação criminosa, sendo um dos principais alvos da investigação na região.
Mato Grosso ocupa a 11ª posição entre os estados com maior penetração do crime organizado no setor de postos de combustível. O estado tem 9 postos nas mãos do crime.
Em MS o número de postos supostamente é de apenas 4 identificados como utilizados pelo crime. Eis a lista:
O mapeamento, realizado pelo Núcleo Estratégico de Combate ao Crime Organizado, revelou que estados como São Paulo e Goiás são os maiores focos, com centenas de postos suspeitos.
COMO OS CRIMINOSOS AGEM
A presença de facções no setor de combustíveis não se limita à venda direta ao consumidor. O esquema abrange também a cadeia produtiva, com envolvimento em fraudes fiscais e adulterações de combustíveis. A investigação sugere que essas organizações utilizam brechas no sistema de fiscalização para lavar dinheiro e aumentar seus lucros. Além disso, algumas dessas facções utilizam a venda de combustíveis como uma das principais fontes de financiamento ilícito.
Embora as investigações ainda estejam em andamento, já se sabe que o crime organizado tem se beneficiado de falhas regulatórias e da complexidade das normas fiscais do setor, gerando impactos significativos para a concorrência e para a economia local. O combate a essas práticas ilegais está sendo intensificado com a colaboração entre a Polícia Federal, a Receita Federal e outros órgãos, com o objetivo de neutralizar essa infiltração no setor.
O impacto dessa infiltração vai além das questões financeiras. Estima-se que fraudes e sonegação fiscal no mercado de combustíveis causem perdas bilionárias aos cofres públicos, afetando a competitividade do setor e desestabilizando empresas que atuam dentro da legalidade. Com a continuidade das investigações, espera-se que mais detalhes sobre a extensão desse crime sejam revelados, ampliando a compreensão sobre o funcionamento dessas redes criminosas no Brasil.
MAPA DAS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS 2024
A presença de facções criminosas na região Centro-Oeste do Brasil está em expansão, segundo o Mapa das Organizações Criminosas 2024 (a íntegra), documento elaborado pela Secretaria Nacional de Políticas Penais (SENAPPEN), ligada ao Ministério da Justiça. Com dados produzidos a partir da atuação das agências estaduais de inteligência penitenciária, o relatório aponta que os estados de Mato Grosso (MT), Mato Grosso do Sul (MS), Goiás (GO) e o Distrito Federal (DF) ocupam papel estratégico nas operações das chamadas Orcrims — organizações criminosas com estrutura hierárquica, poder de fogo e tentáculos dentro e fora dos presídios.
A geografia da região, cortada por rodovias federais e com fronteiras diretas com a Bolívia e o Paraguai, transformou o Centro-Oeste em um corredor logístico para o tráfico de drogas, armas e lavagem de dinheiro. Ao menos 88 facções foram mapeadas no país, muitas com atuação nacional e influência direta nos quatro estados centrais do Brasil. “A região apresenta forte grau de enfrentamento entre grupos rivais, com alianças e conflitos que refletem a disputa por domínio territorial e rotas comerciais do crime”, diz trecho do relatório.
PRISÕES COMO BASE DE COMANDO E RESILIÊNCIA
O relatório destaca que os presídios da região Centro-Oeste são não apenas locais de contenção, mas também centros de articulação do crime organizado. A atuação das facções dentro das unidades prisionais é usada para manter a coesão interna, o recrutamento de novos membros e a execução de ordens externas. O Ministério aponta que a presença desses grupos nos presídios garante "resiliência", dificultando o enfraquecimento das organizações apenas por meio de prisões.
LAVAGEM DE DINHEIRO E ESTRUTURAS LEGAIS
Embora o relatório não apresente nominalmente os ativos usados pelas facções, como postos de combustíveis, comércios ou empresas de fachada, ele ressalta que a descapitalização das Orcrims é uma frente essencial no combate. Estados como Mato Grosso e Goiás já figuram em investigações da Polícia Federal que identificam o uso de infraestrutura econômica legal para lavar dinheiro oriundo do tráfico.
OPERAÇÕES CONJUNTAS E COMBATE ÀS COMUNICAÇÕES
Para enfrentar essa rede articulada, o Ministério da Justiça tem ampliado as ações no Centro-Oeste. Operações como Mute e Modo Avião já foram deflagradas nos presídios da região com o objetivo de interromper as comunicações entre líderes presos e membros nas ruas. A participação das polícias penais federais nas Forças Integradas de Combate ao Crime Organizado (FICCOs) também é destacada como uma das principais estratégias de enfrentamento regional.
CENTRO-OESTE COMO ZONA CRÍTICA
Goiás e Distrito Federal aparecem no relatório como zonas de tensão crescente, com aumento da rivalidade entre facções. Já Mato Grosso e Mato Grosso do Sul têm atuação de facções mais consolidada, em função da proximidade com a fronteira e rotas de tráfico. A análise do documento indica que os quatro estados são hoje epicentro da disputa por poder e dinheiro ilícito, com potencial de escalada da violência se não forem adotadas ações coordenadas e contínuas.
O QUE SÃO AS ORCRIMS?
Segundo o relatório, as Orcrims são grupos organizados que atuam com hierarquia, regras internas e foco em atividades ilícitas como tráfico, contrabando, roubo a banco e extorsões. Essas organizações utilizam estrutura empresarial, conexões transnacionais e alianças estratégicas para ampliar sua influência no território brasileiro e fora dele.