25 de abril de 2024
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Negligência médica

Família de 13ª vítima de dengue em MS denuncia negligência médica

A mulher de 28 anos estava grávida, sofreu complicações após o parto e morreu dias depois. O bebê também não resistiu

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A Polícia Civil investiga a morte de Francinete Rodrigues Beltrão, de 28 anos, e do filho recém-nascido, Arthur Miguel Areco Beltrão, após complicações durante parto feito no Hospital Municipal de Bodoquena – a 266 quilômetros de Campo Grande. A família registrou boletim de ocorrência por suspeita de negligência médica, mas a SES (Secretaria de Estado de Saúde) divulgou a morte da mulher como a provocada por dengue.

O boletim epidemiológico divulgado nesta quinta-feira (27) pelas autoridades de saúde mostra Francinete como a 13ª vitima de dengue em Mato Grosso do Sul neste ano. A família da mulher, no entanto, procurou a Polícia Civil no dia 22 de fevereiro para contar outra história.

Conforme o relato, no dia 4 de fevereiro, uma terça-feira, Francinete deu entrada no hospital com contrações. Ela estava grávida de Arthur Miguel, o primeiro filho. A equipe médica então decidiu aguardar pelo parto normal.

Como foi - Foram três dias de espera. Para a polícia, o marido de Francinete contou que a mulher sofreu fortes dores durante o período e por isso, 24 horas depois da internação, resolveu conversar com um dos médicos sobre a situação. Em resposta, recebeu a garantia de que se o parto não acontecesse de forma natural até a manhã do dia seguinte, fariam a cesariana. - Na manhã de quinta-feira, 6 de fevereiro, conforme o pai do bebê, o médico voltou para ver a paciente e informou que esperaria mais um pouco antes da decisão pela cirurgia. Na mesma tarde, a bolsa de Francinete estourou e ela começou a dar à luz Arthur Miguel.

Segundo o depoimento do pai, por conta do tempo prolongado de contração e dores, Francinete estava debilitada demais e a equipe médica, então, decidiu pela cesariana de emergência. Pouco depois, o responsável pelo atendimento explicou que a situação era crítica e a prioridade era salvar a vida da gestante.

Arthur nasceu com vida, ficou internado, mas na noite de sexta-feira, 7 de fevereiro, começou a passar mal. Durante o atendimento, foi feita a solicitação de prioridade para o bebê no Hospital Regional de Aquidauana, com transferência programada para pouco antes da meia-noite.

Segundo o pai, a ambulância já estava na frente do hospital quando os médicos cancelaram a vaga em Aquidauana e mandaram o bebê de volta para o quarto da mãe. Na manhã do dia seguinte, sábado, ele voltou à unidade para ver a esposa e o filho, mas não encontrou o menino.

Chorando, Francinete contou ao marido que o filho estava muito quieto e teve sangramento no nariz, por isso foi levado do quarto. Ao procurar o médico, o homem a morte do filho recém-nascido.

Depois de receber a notícia da morte de Arthur, Francinete foi submetida a exame de sangue, que constatou anemia e suspeita de dengu. Por conta disso, precisou ser transferida para Aquidauana ainda no sábado.

A mulher foi levada direto para UTI (Unidade de Tratamento Intensivo) em estado grave. Na unidade, a equipe médica explicou ao marido de Francinete que o quadro de saúde era grave, com necessidade de ser submetida a cirurgia. A intenção era saber se algum órgão estava perfurado, mas nada relevante foi encontrado.

Depois do procedimento, nova complicação surgiu, segundo o boletim de ocorrência, e os médicos optaram por nova intervenção cirúrgica. Tentaram aguardar o quadro de saúde da paciente melhorar, mas a situação estava tão instável que a espera seria pior. No dia 14 de fevereiro, Francinete foi novamente operada.

No dia 15 de fevereiro, mais uma intercorrência. Ela sofreu parada cardíaca e não resistiu. Para a polícia, o marido da paciente afirmou que a morte da mulher e do filho foi consequência de negligência médica da equipe do Hospital Municipal Francisco Sales, por isso resolveu procurar a delegacia.

Ele contou que Francinete fez todo o acompanhamento pré-natal e a gravidez ocorreu normalmente. Lembrou também da mulher narrando que antes da cesariana um dos médicos “empurrou a cabeça do bebê de volta” para o ventre dela.

O caso é investigado como morte a esclarecer. A reportagem procurou o hospital e a informação é de que o responsável só poderá atender a reportagem amanhã a partir das 8h.