26 de abril de 2024
Campo Grande 26ºC

Epilepsia

Mais da metade das pessoas com epilepsia na América Latina não recebe tratamento

A- A+

A epilepsia é um dos transtornos neurológicos mais comuns no mundo, afetando aproximadamente 50 milhões de pessoas – 5 milhões delas na região das Américas.

No entanto, estima-se que a lacuna de tratamento na América Latina e no Caribe seja superior a 50%, o que significa que mais da metade das pessoas com essa doença não recebe atenção em serviços de saúde.

A fim de ajudar os países a elaborar programas para detectar casos e aumentar o acesso ao tratamento adequado para esse transtorno, a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) lançou recentemente a publicação "The Management of Epilepsy in the Public Health Sector 2018" (disponível em inglês e espanhol).

Atualmente, dois em cada três países não possuem um programa ou plano para atender pessoas com essa doença.

"As pessoas que têm epilepsia e não recebem tratamento sofrem com episódios recorrentes. Isso pode afetar seus estudos, trabalho e qualidade de vida, além de afetar suas famílias", disse Claudina Cayetano, assessora regional da OPAS para saúde mental.

"Com um diagnóstico oportuno, tratamento adequado, dieta saudável e controle do estresse, até 70% dos acometidos pela doença podem reduzir as crises e levar uma vida plena e ativa", acrescentou.

Nos últimos anos, os países fortaleceram a atenção às doenças crônicas não transmissíveis, entre elas, a epilepsia. Mesmo assim, o atendimento de pessoas com essa condição ainda está longe de ser satisfatório.

Isso se deve, entre outros fatores, a um déficit de profissionais médicos capacitados; à indisponibilidade de medicamentos, particularmente no nível da atenção primária de saúde (APS); e à falta de informação e educação sobre a epilepsia, tanto para as pessoas com esse transtorno e suas famílias, quanto para a comunidade como um todo.

Melhorar o acesso a medicamentos

Quatro medicamentos antiepilépticos são essenciais para o tratamento da doença. A maioria dos países da América Latina e do Caribe possui esses medicamentos, mas apenas em serviços especializados.

Isso significa que o acesso a essas drogas é limitado ou inexistente nos serviços de atenção primária de saúde.

A publicação explica que o fornecimento de medicamentos antiepilépticos básicos nos cuidados primários é uma forma crucial, eficaz e de baixo custo de abordar a questão, especialmente porque, na maioria dos casos, os episódios podem ser controlados por meio do tratamento com apenas um dos fármacos básicos (monoterapia).

A OPAS conta com o Fundo Estratégico, mecanismo de cooperação com os países para promover o acesso a medicamentos de qualidade e suprimentos essenciais de saúde pública a preços acessíveis.

Os Estados-membros podem utilizá-lo para adquirir medicamentos antiepilépticos a preços melhores, um fator que aumenta sua disponibilidade e reduz as lacunas no acesso ao tratamento.

Fortalecimento da atenção primária para detectar e tratar casos

A OPAS, que é o escritório regional da Organização Mundial da Saúde (OMS) para as Américas, considera a doença um problema de saúde pública prioritário e apoia melhorias na resposta do setor da saúde, particularmente quanto à identificação, manejo e monitoramento da epilepsia na atenção primária de saúde.

A OMS recomenda a integração do manejo da epilepsia na atenção primária à saúde, considerando que diagnóstico da doença é essencialmente clínico e pode ser realizado por médicos não especialistas treinados na identificação e manejo de casos não complexos, que respondem pela maioria.

O guia também oferece recomendações para a implementação de estratégias de prevenção da epilepsia, como a promoção da gravidez e do nascimento sem riscos, a prevenção dos traumatismos cranioencefálicos e acidentes vasculares cerebrais, bem como o aumento da sensibilização e do público.

O trabalho dos países da região para combater esta doença ganhou força em 2011, quando o Conselho Diretivo da OPAS adotou uma estratégia para melhorar a resposta do setor da saúde.

Em 2015, a Assembleia Mundial da Saúde também reconheceu a carga da epilepsia e a necessidade de os países tomarem medidas coordenadas para lidar com suas consequências.

A nova publicação, que se soma a esses esforços, foi submetida à consulta de um grupo de profissionais da Liga Internacional Contra a Epilepsia (ILAE) e do Bureau Internacional para a Epilepsia (IBE), assim como de especialistas da Liga Chilena contra a Epilepsia e da Faculdade de Medicina da Universidade Nacional Autônoma de Honduras, ambas centros colaboradores da OPAS/OMS.

Sobre a doença

A epilepsia é uma doença neurológica crônica que afeta pessoas de todas as idades no mundo todo. É caracterizada por crises recorrentes, que podem durar entre poucos segundos e alguns minutos. Suas causas são múltiplas.

Em alguns casos, há um viés genético, mas outras causas incluem danos cerebrais causados por lesões pré-natais ou perinatais; anomalias congênitas ou malformações cerebrais; traumatismos cranioencefálicos; acidentes cerebrovasculares; infecções como meningite, encefalite e neurocisticercose; e tumores cerebrais.

Em cerca de metade de todos os casos de epilepsia, a causa não pode ser determinada.

Epilepsia em números

50 milhões de pessoas no mundo têm epilepsia; 5 milhões delas vivem na região das Américas.

A epilepsia é responsável por 0,5% da carga global de doenças. 80% dessa carga corresponde aos países em desenvolvimento.

2 milhões de novos casos ocorrem todos os anos no mundo.

O número de novos casos nos países em desenvolvimento é o dobro do registrado nos países desenvolvidos.

As taxas de mortalidade entre pessoas com epilepsia são mais altas do que as da população geral.

A taxa de mortalidade por epilepsia na América Latina e no Caribe é de 1,04 por 100 mil habitantes, superior a 0,50 nos Estados Unidos e no Canadá.

70% das pessoas afetadas podem ser tratadas com medicamentos básicos. Apenas 10% dos casos requer uma abordagem especializada com dieta ou cirurgia.

Cerca de 20% dos casos complexos não respondem ao tratamento.

Estima-se que, se a cobertura do tratamento com medicamentos antiepilépticos for estendida para 50% dos casos, a atual carga global da doença seria reduzida entre 13% e 40%.

Dois terços dos países da América Latina e do Caribe não possuem um programa para o atendimento integral de pessoas com epilepsia.

80% dos países da região não possuem legislação apropriada sobre a doença.