07 de maio de 2024
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POLÍTICA | BRASIL

Visando apoios em 2022, Bolsonaro quer manter Salles e Ribeiro

Nesta 3ª feira (30), líderes do centrão ainda questionaram ministros palacianos se haveria mais mudanças além das que foram anunciadas

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As trocas ministeriais anunciadas pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na última 2ª feira (29.mar.2021) não envolveram dois nomes que também são motivo de queixas do bloco do centrão. Os atuais titulares do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e da Educação, Milton Ribeiro, foram mantidos pelo presidente, mesmo contrariando dirigentes da base aliada. Nesta 3ª feira (30.mar.2021), líderes do centrão ainda questionaram ministros palacianos se haveria mais mudanças além das que foram anunciadas.

A resposta foi a de que o presidente informou que, pelo menos a médio prazo, não haverá novas alterações na Esplanada dos Ministérios. A permanência de Salles e de Ribeiro faz parte de uma estratégia eleitoral de Bolsonaro para 2022. O presidente tenta garantir novamente o apoio de dois grupos que ajudaram a elegê-lo ao cargo em 2018: o setor agrário e o segmento evangélico.

Além de contar com a simpatia da família Bolsonaro, o ministro do Meio Ambiente tem o respaldo de agricultores e pecuaristas, uma base considerada estratégica pelo presidente para a sua reeleição.
No ano passado, empresários dos setores de frigoríficos e tradings tentaram derrubar o ministro. O movimento também teve o apoio de representantes da indústria paulista.

O argumento, compartilhado por deputados do centrão, é de que a imagem de Salles tem atrapalhado acordos comerciais, sobretudo com nações europeias.

Em conversa recente, relatada à reportagem, Bolsonaro disse a deputados aliados que o ministro moderou seu discurso recentemente e que tem atuado para melhorar a interlocução entre o Brasil e Estados Unidos sob Joe Biden. Ele lembrou que Salles teve uma conversa virtual, no mês passado, com o assessor americano John Kerry, enviado especial de Biden para o clima, que convidou Bolsonaro para participar da Cúpula de Líderes sobre o Clima, em abril.

No caso de Ribeiro, o bloco do centrão vinha defendendo que o presidente colocasse um nome mais moderado à frente da pasta. O ministro, que é pastor presbiteriano, afirmou em uma entrevista no ano passado que a homossexualidade não é normal e a atribuiu a "famílias desajustadas".

Em reação, a PGR (Procuradoria-Geral da República) solicitou ao STF (Supremo Tribunal Federal) a abertura de um inquérito para apurar se o ministro cometeu o crime de homofobia.

Sem conseguir emplacar um nome na Saúde, integrantes do centrão tinham a esperança de comandar a Educação, que detém um dos maiores orçamentos da Esplanada dos Ministérios.

Bolsonaro, contudo, disse a assessores presidenciais na semana passada que não pretende fazer uma nova mudança na pasta, que já foi comandada por três ministros no seu governo (antes de Ribeiro, Ricardo Vélez Rodrigues e Abraham Weintraub).

De acordo com deputados governistas, o presidente quer evitar, a pouco mais de um ano da eleição, se indispor com o segmento evangélico, que tem apoiado o governo desde o início do mandato. Para preservar o respaldo dos dois grupos e aumentar o espaço do centrão, o presidente acabou sacrificando o núcleo ideológico, que não ocupa mais nenhum cargo de primeiro escalão.

O último representante do chamado olavismo foi o diplomata Ernesto Araújo, que deixou o cargo no Itamaraty na última segunda-feira após se indispor com o Senado.

"No Palácio do Planalto, auxiliares criticam o presidente por ter, na avaliação deles, cedido cedo demais ao centrão. Desde o ano passado, assessores presidenciais temiam que a eleição de Arthur Lira (PP-AL) para o comando da Câmara dos Deputados tornasse o governo refém do bloco partidário.

Além do Meio Ambiente e da Educação, integrantes do centrão têm demonstrado interesse nos controles das pastas da Infraestrutura e do Desenvolvimento Regional –hoje sob Tarcísio Freitas e Rogério Marinho, respectivamente.

Apesar de o núcleo ideológico não ocupar mais o primeiro escalão, ele ainda atua no Planalto por meio do chamado gabinete do ódio e do assessor especial Filipe Martins. Este último, cuja demissão também foi solicitada pelo Senado, ganhou sobrevida após a queda de Ernesto. Sua permanência no posto foi costurada pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente.

Ao todo, Bolsonaro fez trocas em seis pastas ministeriais. O bloco do centrão, que já tinha o controle de Comunicações e Cidadania, agora também chefiará a Secretaria de Governo, responsável pela articulação política.

De acordo com assessores presidenciais, a deputada federal Flávia Arruda (PL-DF) foi uma indicação do presidente da Câmara. O esforço do presidente foi o de tanto acalmar os ânimos de Lira, que na semana passada fez um discurso crítico ao Executivo, como o de tentar amarrar o PL em sua candidatura à reeleição em 2022.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sinalizou recentemente a integrantes do centrão o interesse em ter como seu candidato a vice-presidente o empresário Josué Alencar, do PL. A entrega de um cargo ministerial à legenda, no entanto, não é considerada por dirigentes da sigla como uma garantia de um apoio em 2022. "

Na dança das cadeiras, o presidente demitiu ainda dois ministros que vinham questionando, em caráter reservado, decisões dele. Um deles foi José Levi do Amaral, que, há meses, já vinha sinalizando a intenção de deixar a o comando da AGU (Advocacia-Geral da União).

Bolsonaro se irritou com o fato de Levi não ter aceitado assinar ação ingressada no STF que pedia a suspensão de decretos publicados pelos governos do Distrito Federal, da Bahia e do Rio Grande do Sul com medidas de restrição para o combate à disseminação do coronavírus.

A demissão do general Fernando Azevedo do comando da Defesa também se deveu, segundo integrantes da cúpula militar, a desavenças com Bolsonaro. O presidente vinha pressionando o ministro para que as forças militares atuassem contra medidas de lockdown, o que Azevedo era contra.

Além disso, o presidente vinha defendendo uma troca do general Edson Pujol do comando do Exército, alteração à qual Azevedo vinha resistindo. De acordo com militares do governo, Pujol sempre defendeu a independência das Forças Armadas em relação à atual gestão.

**(Informações da Folhapress)