24 de maio de 2025
Campo Grande 24ºC

VELHA POLÍTICA

Adriane Lopes consegue aprovar aumento do seu próprio salario em até 67%

Apenas o vereador Marquinhos Trad votou contra

A- A+

Enquanto a população de Campo Grande (MS), enfrenta filas no sistema de saúde, escolas com infraestrutura precária e servidores lutam por melhores condições de trabalho, a prefeita Adriane Lopes (PP) conseguiu o que parecia impensável em tempos de crise: um reajuste salarial próprio — e de seu alto escalão — aprovado em velocidade recorde pela Câmara Municipal.

Com 22 votos a favor e apenas um corajoso voto contrário, o projeto foi aprovado nesta quinta-feira (24.abr.25), elevando o salário da prefeita para R$ 35.462,22 até 2027. A vice-prefeita e os secretários também serão beneficiados com aumentos escalonados, que chegam a 67% em comparação com os salários atuais.

A ironia? A própria Adriane entrou na Justiça em fevereiro pedindo a suspensão de um reajuste anterior alegando que "não havia estudo de impacto orçamentário" e que o aumento feria os princípios da moralidade e responsabilidade fiscal. Dois meses depois, assina uma nova proposta de reajuste com valores quase idênticos, agora chancelada por um acordo político.

A VELHA POLÍTICA, COM NOVA MAQUIAGEM

A justificativa usada no projeto é tão conhecida quanto desgastada: “os servidores de elite, que têm o salário da prefeita como teto, estão há 13 anos sem reajuste". É verdade — mas omite-se que esse grupo representa apenas 474 pessoas num universo de milhares de trabalhadores públicos municipais com salários muito abaixo da média nacional.

A prefeita diz não querer o aumento, mas não recusou o projeto, não vetou, não recomendou alteração. Em vez disso, patrocinou a nova proposta com o apoio da base aliada e costurou o texto com a própria Câmara. O resultado é uma manobra para driblar a decisão do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul, que suspendeu duas leis anteriores por irregularidades semelhantes.

A desculpa da prefeita para seguir com o projeto? "Ajustar a proposta ao cenário fiscal atual". Um cenário que, aparentemente, só não tem espaço para reajustar salários de professores, agentes comunitários de saúde e garis.

REAJUSTE SELETIVO E CONTRADIÇÕES GRITANTES

O único voto contrário ao projeto foi do vereador Marquinhos Trad (PDT), que apontou a ilegalidade da medida por não contemplar todos os servidores.

Segundo ele, a cidade vive sob o argumento constante de dificuldades financeiras — usado como motivo para não investir em áreas básicas, mas convenientemente ignorado quando se trata de reajustar os salários do topo da pirâmide.

Enquanto isso, vereadores da base aliada defenderam a proposta com argumentos frágeis e, em alguns casos, inacreditáveis. Houve quem dissesse que "a prefeita nem queria o aumento", mas votou a favor mesmo assim. Outro justificou que “médicos e dentistas” seriam os verdadeiros beneficiários — omitindo que são poucos os que recebem acima do teto do Executivo.

RISCO DE JUDICIALIZAÇÃO

O projeto será anexado a ações judiciais já em trâmite no Tribunal de Justiça de MS, que anteriormente barrou aumentos semelhantes. Resta saber se o Judiciário manterá a coerência ou se cederá à pressão política disfarçada de acordo técnico.

Enquanto isso, Adriane Lopes escreve seu nome em mais um capítulo da velha política, onde os interesses da elite burocrática continuam sendo prioridade — mesmo que a cidade grite por soluções reais.