O voto do ministro Luiz Fux a favor da anulação do processo contra Jair Bolsonaro e seus aliados não é surpresa para quem tem memória ativa. Para os que acompanham a crônica política recente, a frase "In Fux We Trust [confiamos em Fux]" já dizia muito — e continua dizendo.
A expressão, tornada pública em 2019 por meio da série de reportagens da Vaza Jato, publicada pelo The Intercept Brasil, apareceu em mensagens trocadas entre os expoentes da operação Lava Jato. Deltan Dallagnol, então coordenador da força-tarefa, relatou aos colegas uma conversa reservada com o ministro Fux, na qual este teria garantido apoio irrestrito à operação: "Contem comigo para o que precisarem", teria dito o magistrado.
O relato de Deltan foi repassado a Sérgio Moro, então juiz da 13ª Vara Federal em Curitiba e futuro ministro de Jair Bolsonaro. A resposta de Moro foi curta, reveladora e simbólica: "Excelente. In Fux we trust."
A troca ocorreu em abril de 2016, quando o país vivia os desdobramentos do impeachment de Dilma Rousseff e o avanço da Lava Jato dava à força-tarefa um protagonismo judicial e político inédito. Na época, o ministro Fux era visto como um aliado silencioso — não por seus votos, mas pelas portas abertas e pelas conversas informais que animavam os bastidores da República.

Hoje, quase uma década depois, o eco dessa confiança ressurge. Não mais nas mensagens criptografadas entre procuradores e juízes, mas em hashtags promovidas por bolsonaristas nas redes sociais. O “#InFuxWeTrust” voltou a circular com entusiasmo entre os apoiadores do ex-presidente, em antecipação a um voto que, como se viu, entregou exatamente o que esperavam.
E, inclusive, o termo de 'bom' ao se referir ao "carioca" Luiz Fux, foi citado pelo advogado de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente inelegível Jair Bolsonaro, ambos réus por tentativa de golpe de estado no Brasil.
Fux não violou nenhuma lei. Fez uso de argumentos jurídicos conhecidos — como o foro privilegiado e o princípio do juiz natural — para justificar sua posição. Mas quando um ministro do Supremo, antes celebrado nos grupos de Telegram da Lava Jato, passa a ser celebrado também nos grupos que defendem generais golpistas, talvez a dúvida não seja sobre o que ele disse, mas sobre a quem suas palavras continuam servindo.











