30 de abril de 2024
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EX-PRESIDENTE

Operação Lucas 12:2 mira Bolsonaro e aliados por leiloar joias milionárias

Veja detalhes de como agiu Mauro Cid e sua família e como pretendiam entregar altos valores à Bolsonaro

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A Polícia Federal (PF) deflagrou nesta 6ª feira (11.ago.23) a Operação Lucas 12:2 (nada permance escondido), mirando aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro suspeitos de leiloar nos Estados Unidos, joias e outros objetos de alto valor, como esculturas, entregues a autoridades brasileiras em missões oficiais. 

Vamos lembrar que no início deste ano a equipe de Bolsonaro já foi desmascarada contrabandeando joias de R$ 16,6 milhões dos Emirados Árabes para o Brasil. O objeto foi pego na alfândega no final do ano passado, quando Bolsonaro ainda era Chefe de Estado.  

Na manhã desta 6ª, a PF fez buscas e apreensões contra endereços o general de Exército, Mauro Lourena Cid, pai de Mauro Cid (ex-ajudante de ordens do ex-presidente, que está preso); também foram alvo da PF endereços do ex-advogado de Bolsonaro, Frederick Wassef. 

A ação vasculhou quatro endereços, sendo dois em Brasília, um em São Paulo e um em Niterói.

“Não há nada escondido que não venha a ser descoberto, ou oculto que não venha a ser conhecido. O que vocês disseram nas trevas será ouvido à luz do dia, e o que vocês sussurraram aos ouvidos dentro de casa será proclamado dos telhados”, diz o texto bíblico que inspirou o nome da operação da PF.  

Bolsonaro, enquanto esteve no cargo de presidente, costumava citar um versículo semelhante: João 8:32 (conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará). A PF quer saber a verdade sobre o que foi feito com joias da União contrabandeadas pelo ex-presidente e "derretidas (trasnformadas em dinheiro)" pelo seus aliados nos EUA.

A operação suspeita que aliados de Bolsonaro leiloaram joias e o dinheiro obtido, foi incorporado ao patrimônio do ex-presidente: "Identificou-se, em acréscimo, que os valores obtidos dessas vendas eram convertidos em dinheiro em espécie e ingressavam no patrimônio pessoal do ex-Presidente da República, por meio de pessoas interpostas e sem utilizar o sistema bancário formal, com o objetivo de ocultar a origem localização e propriedade dos valores", disse o ministro Alexandre de Moraes ao autorizar buscas da Operação Lucas 12:2. Eis a íntegra.  

FLAGROU MAURO CID

A PF disse que, em 18 de janeiro, Mauro Cid falou com Marcelo Câmara (assessor de Bolsonaro), sobre o valor de US$ 25 mil (na cotação de hoje: R$ 122.697,50), que deveriam ser repassados à Bolsonaro. O dinheiro estaria com o pai de Mauro. Na conversa obtida pela quebra de sigilo telemático, o ex-ajudante de ordens bolsonarista sugeriu levar o dinheiro em espécie, em mãos, para evitar transações bancárias: 

“Tem vinte e cinco mil dólares com meu pai. Eu estava vendo o que era melhor fazer com esse dinheiro, levar em cash aí. Meu pai estava querendo inclusive ir ai falar com o presidente. E aí, ele poderia levar. Entregaria em mãos. Mas, também pode depositar na conta. Eu acho que quanto menos movimentação em conta, melhor, né?, orientou Mauro Cid.

O dinheiro citado seria oriundo das vendas das joias de esculturas valiosas entregues pelo governo do Bahrein durante viagem oficial do presidente. Outro suspeito de ajudar nas vendas, conforme a PF, é o assessor do ex-presidente, Osmar Crivelatti.

O Tribunal de Contas da União (TCU) determina que presentes de governo estrangeiros devem ser incorporados ao Gabinete Adjunto de Documentação Histórica (GADH), setor da Presidência da República responsável pela guarda dos presentes e que portanto não poderiam ficar no acervo pessoal de Bolsonaro, nem deixar de ser catalogados.

Os fatos investigados configuram, em tese, os crimes de peculato e lavagem de dinheiro.

DESVIO DE ESCULTURAS DE BARCO E PALMEIRA

Bolsonaro e Mauro Cid sairam do Brasil com destino à Orlando (EUA), em 30/12/2022, conforme registros de saída no controle imigratório do Brasil:

"Mensagens identificadas em aplicativo de mensagem do celular do investigado [Mauro Cid] indicaram que ele estaria levando consigo uma mala específica que deveria ter como destino a casa de seu pai, o General da reserva Mauro Cesar Lourena Cid, na cidade de Miami/FL", detalha o inquérito. 

No dia da ida para Orlando, numa troca de mensagens com Marcela Magalhães Braga, que teria sido auxiliar da ex-primeira-dama, indicada para ocupar cargo no consulado do Brasil em Orlando, nos Estados Unidos, Mauro Cid tentou conseguir 'uma carona' para uma mala usando o Itamaty. Ele chega a criticar o órgão ao ter uma negativa para o translado da mala até Maiami — cerca de 380km de distância de Orlando. Veja: 


 

Então, no dia primeiro de janeiro de 2023, Mauro Cid conversou com o Coronel Câmara, (assessor do ex-presidente Bolsonaro). Disse para que deixou a ‘mala’ com o Coronel Camarinha (médico de Jair Bolsonaro) e pediu para Câmara intermediar a entrega da mala para o Piquet, para que esse último a levasse para a cidade de Miami.

"É, eu pensei de deixar com o Piquet pra ele descer pra Miami com esse material. Tinha Como engrenar aí pra buscar com o Coronel Camarinha essa mala e entregar por Piquet amanhã meio-dia? (sic)", disse Mauro Cid.  

A PF disse que esse ‘Piquet’ citado na conversa, é o empresário brasileiro do mercado imobiliário que vive na Flórida: Cristiano Piquete. Ele que conseguiu uma casa para Bolsonaro ficar na Flórida, após a saída do ex-mandatário do Brasil, em 30 de dezembro, ao ser derrotado nas urnas. Em resposta, Câmara afirma ser sim possível pegar a mala com o médico Camarinha e entregar para Piquet. 

No mesmo dia 1º de janeiro de 2023, Mauro falou com Piquet. O empresário revelou que visitou Jair Bolsonaro e pegou a mala. Depois disso, o empresário levou a mala para Miami. Confirmou que chegou com a mala em Doral (Flórida), em 3 de janeiro e Mauro falou que seu pai (Lorena Cid), pegaria a mala na casa de Piquet.

No mesmo dia 3 de janeiro, Mauro Cid conversou com o pai que ocupava um cargo na Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex) em Miami, desde 2019. Lorena Cid disse que confirmou o endereço de Piquet: "Passei uma msg e ele deu o endereço, fica em Doral também (... sic)", escreveu. Mauro Cid respondeu em seguida: "Ele disse que qq horário (sic)" -- se referindo ao momento de resgatar a mala.  

Em 4 de janeiro Mauro pediu ao pai para não esquecer de tirar fotos e ver se as peças estavam com algum documento. Lourena responde ao filho que já havia tirado as fotos e que não havia documentos. Além disso, ele envia uma sequência de imagens de dois objetos que seriam uma "árvore" e um "barco" de ouro:

Em uma das fotos encaminhada pelo General Lourena Cid, é possível ver o reflexo de seu rosto na caixa:

Na sequência, Mauro Cid envia a seu pai uma pesquisa do Google da empresa Diamond Banc e do seu endereço na cidade de Coral Gables no estado da Flórida. A referida empresa é especializada na compra de diamantes. Abaixo segue o trecho da conversa com seu pai e a imagem extraída da página pesquisada:

Mauro Cid envia um segundo endereço: “1754 NE 163RD STREET North Miami Beach, FL 33162”. Seu pai, Lourena Cid, pergunta o horário e questiona: ‘Eles sabem que eu irei levar para avaliação?’. Mauro Cid diz: ‘Sabe sim. 1400’.

A investigação diz que os endereços enviados por Mauro Cid ao pai são das lojas: Gold Grillz Miami e We Buy Gold North Miami Beach, que comercializam produtos com ouro ou outros metais preciosos.

A Polícia Federal disse que as esculturas douradas (árvore e barco) foram recebidas por Jair Messias Bolsonaro em 16/11/2021 no encerramento do Seminário Empresarial da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira na cidade de Manama, no Reino do Bahrein. Eis uma imagem do episódio: 

(Manama - Bahrein, 16/11/2021) Cerimônia de Encerramento do Seminário Empresarial da Câmara de Comércio Árabe- Brasileira.  Foto: Alan Santos/PR(Manama - Bahrein, 16/11/2021) Cerimônia de Encerramento do Seminário Empresarial da Câmara de Comércio Árabe- Brasileira. Foto: Alan Santos/PR

Os investigadores então voltam a descrever as trativas da venda das peças preciosas. Mauro Cid envia um foto da fachada  de um prédio e um áudio questionando Piquet: “(...) Aqui é sua sede? Aqui? Eu passei aqui do lado, vim almoçar com meu pai. Daí passei aqui porque vou passar numa tal de Dover Jewelry; pra vender um, um material de ouro que a gente tem pra vender (...)”. Em resposta, Cristiano Piquet, diz: “Eu tive com seu pai, entreguei a mala pra ele, né?”. Segue a integra do diálogo:

O estabelecimento citado por Mauro Cid para vender um material de ouro, a PF diz que ser a loja Dover Jewelry & Diamonds, localizada em Miami, Flórida. 

Em 9 de janeiro Mauro Cid retornou para a Califórnia, onde seu irmão mora. Seu pai, Lourena Cid, ficou em Miami. No mesmo dia, Mauro Cid encaminhou uma mensagem para seu pai e perguntando se ele poderia levar algo na loja Dover Jewerly: “Pode levar lá na Dover Jewerly? Eles deram 3 horários: 11:00, 14:00 ou 16:00”. 

Mais tarde, ainda no dia 09/01/20233, Mauro Cid encaminha, para o contato cadastrado como Nicholas Luna, telefone (*DDD) 144823595, as fotos das esculturas douradas do barco e da árvore, anteriormente enviadas por seu pai. A polícia disse que o contato de Luna está associado a empresa Fortuna Auctions, empresa localizada em Nova Iorque, especializada em leilões de luxo de joias e relógios.

O Delegado de Polícia Federal ressalta que as mensagens trocadas entre Mauro Cesar Barbosa Cid e Marcelo Câmara, no dia 18/1/2023, revelam o objetivo de tentar vender as esculturas douradas e a existência de recursos em dólar, supostamente de propriedade de Jair Bolsonaro. 

Apesar da beleza dos objetos recebidos no Oriente Médio, ao tentar vendê-los de maneira escua nos EUA, Mauro Cid descobriu que as peças não completamente de ouro. Em uma mensagem ele expressa dificuldade de transformar os objetos emn dinheiro: "Aquelas duas peças que eu trouxe do Brasil: aquele navio e aquela árvore; elas não são de ouro. Elas têm partes de ouro, mas não são todas de ouro (...) Então eu não estou conseguindo vender. Tem um cara aqui que pediu para dar uma olhada mais detalhada para ver o quanto pode ofertar (...) eu preciso deixar a peça lá (...) pra ele poder dar o orçamento. Então eu vou fazer isso, vou deixar a peça com ele hoje (...)", disse Mauro Cid numa mensagem para o assessor de Bolsonaro, Marcelo Câmara. 

No mesmo áudio para Câmara, Cid revela que a data do leilão de um kit contendo um relógio precisoso: "O relógio aquele outro kit lá vai, vai, vai pro dia sete de fevereiro, vai pra leilão. Aí vamos ver quanto que vão dar(...)". 

Marclo Câmara responde a uma mensagem anterior de Cid sobre a melhor maneira de entregar os $ 25 mil dólares para Bolsonaro: "Melhor trazer em cachê", orienta o assessor.  Eis a mensagem:  

Na sequência, em 18/1/2023, Lourena Cid envia uma imagem, aparentemente um cartão de visita, para o seu filho, Muro Cid. Os dados constantes no cartão são de David Fernandez, vinculado a um e-mail da empresa Diamond Banc, a mesma empresa que Mauro Cid passou o endereço para seu pai, após as fotos das esculturas douradas. 

Os investigadores dizem quem David Fernandez é diretor da Diamond Banc na cidade de Coral Glabes, na Flórida (EUA). 

No mesmo dia 18 de janeiro, às 16h30, Lourena Cid questionou ao filho: "Eu já estou aqui no centro. Eu deixo o material lá, ou não? Você já conseguiu falar com ele?". 

A equipe policial disse que durante cumprimento de medida de busca e apreensão contra Mauro Cid apreendeu um comprovante de retirada no valor de US$ 6.000,00 (seis mil dólares), realizado no dia 18/1/2023, da conta com final 5691, banco “BB Américas”, em conjunto com um maço de US$ 2.000,00 (dois mil dólares) em um cofre na residência de Mauro Cid. 

Com tudo isso de materialidade colhida, a PF concluiu que as esculturas foram levadas econdidas do Brasil, em uma mala transportada no avião presidencial, no dia 30 de dezembro de 2022. Em seguida, com auxílio de seu pai, o general Mauro Cesar Lourena Cid [Mauro Cid] encaminhou os bens para vários estabelecimentos especializados nos Estados Unidos, para avaliação e tentativa de venda. No entanto, os bens não possuíam o valor patrimonial esperado, fato que frustrou a alienação das esculturas. Isso ficou evidenciado em mensagem de áudio enviada por Mauro Cid a Marcelo Camara, na data de 01 de março de 2023, explicando o motivo do ex-presidente Jair Bolsonaro não ter pego as esculturas quando se encontrou com o General Lourena Cid em Miami. Mauro foi enfático na mensagem de áudio para Câmara: “Não. Ele não pegou porque não valia nada. Então tem (...) tem aqueles dois maiores: não valem nada. É, é... não é nem banhado, é latão. Então meu pai vai, vai levar pro Brasil na mudança (...)”, detalhou a operação. 

Assim, Polícia Federal concluiu que as esculturas foram desviadas do patrimônio público, sem sequer terem sido submetidas ao Gabinete Adjunto de Documentação Histórica (GADH) para avaliação de decisão a quanto a destinação ao acervo público brasileiro ou privado do ex-Presidente da República, Jair Messias Bolsonaro. A PF confeccionou o seguinte organograma que mostra a rota feita pelos bens: 

 

DESVIO DE CONJUNTO DE ITENS MASCULINOS DA MARCA CHOPARD:

Um ‘Kit Rose’: Caneta, anel, abotoaduras, rosário árabe e relógio e um rosário árabe (‘masbaha’)  recebidos pelo então ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, após viagem a Arábia Saudita, em outubro de 2021, foi sequestrado do país, no final do mês de dezembro de 2022, por meio do avião da Presidência da República, e submetido à venda, em procedimento de leilão nos Estados Unidos da América. 

As tratativas para a tentativa de alienação dos referidos bens iniciaram-se ainda em 19/12/2022. 

Apesar da tentativa de vender kit de ouro, os objetos não foram arrematos. E só por isso, as joias foram devolvidas ao Estado brasileiro, após decisão do Tribunal de Contas da União  (TCU) que ordenou que Bolsonaro às devolvesse.  

kit

No caso do kit, Marcelo Câmara avisa Mauro Cid em 19 de janeiro que o TCU está procurando as joias. Em 13 de janeiro Mauro Cid argumenta que um cara também chamado 'Marcelo' teria dito ao ex-presidente bolsonaro que ele poderia fazer o que quiser o kit Rose, porque não era objeto personalíssimo. Veja as mensagens: 

Em resposta, Marcelo Câmara diz que falou com o 'Marcelo' que teria liberado vender o Kit Rose, mas que no entanto, precisava colocar as joias no arquivo da memória antes: "‘Eu falei com ele sobre isso CID. Aí ele me falou que tem esse entendimento sim. Mas que o pessoal questiona porque ele pode dar, pode fazer o que ele quiser. Mas tem que lançar na comissão, memória, entendeu? (...)", explicou Câmara.  

Na sequência fala que o que já 'foi já foi'. "O que já foi, já foi. Mas se esse aqui tiver ainda a gente certinho pra não dar problema. Porque já sumiu um que foi com a dona Michelle; então pra não ter problema”, observou. Com isso Mauro Cid diz que já mandou voltar o kit Rose que já estava à venda num leilão da empresa Fortuna Auction.

Mauro Cid ainda questiona sobre a possibilidade de informar a Memória Brasileira e depois recolocar a peça no leilão: "(...) Mas o senhor quer informar a comissão e a gente põe par vender? (...)", pergunta Mauro Cid. Câmara discorda: "Não vou informar nada. Eu prefiro não informar pra não gerar estresse, entendeu? Já que não conseguiu vender, a gente guarda. E aí depois tenta vender em uma próxima oportunidade", orientou.  

 

Durante o diálogo Mauro Cid lamenta ter de recuar de uma venda das joias nos EUA. "Só dá pena pq estamos falando de 120 mil dólares / Hahaaahaahah". Marcelo Câmara responde ao comentário do comparsa dizendo dar pena mesmo, entretanto, alerta: "O problema é depois justificar e para onde foi. De eu informar para a comissão da verdade. Rapidamente vai vazar". 

No dia 22 de fevereiro de 2023, Câmara  questiona Mauro Cid sobre ‘material do acervo’, se referindo a devolução do kit Rose de Ouro, da marca Chopard, que foi encaminhado para leilão. Mauro Cid responde: ‘vou chicotear’...

Depois da tentativa frustrada de venda e com a divulgação na imprensa da existência das referidas joias, Mauro Cid e Osmar Crivelatti organizaram uma “operação de resgate” dos bens. Com a decisão do TCU para que o kit fosse devolvido ao Estado brasileiro, os investigados devolveram os itens em 24 de março de 2023 na agência da Caixa Econômica Federal, em Brasília. 

VENDERAM O KIT OURO BRANCO 

'Kit Ouro Branco', com seus respectivos certificados. ‘Kit Ouro Branco’, com seus respectivos certificados. 

Os aliados e Bolsonaro conseguiram concretizar a venda dos itens do chamado “Kit Ouro Branco”, composto por um anel, abotoaduras, um rosário islâmico e um relógio da marca Rolex, de ouro branco.

Bolsonaro foi presenteado com os artigos de luxo durante sua visita oficial à Arábia Saudita em outubro de 2019.

Mauro Cid vendeu o relógio em 13 de junho, na loja Precision Watches, em Willow Grove, na Pensilvânia (EUA). 

De acordo com a PF, o relógio Rolex teria sido vendido por US$ 68.000 (trezentos e quarenta e seis mil, novecentos e oitenta e três reais e sessenta centavos). 

Depois de efetuada a venda, o ex-ajudante de ordens depositou uma quantia de mesmo valor na conta de seu pai, Mauro Cesar Lourena Cid, alvo de operação da PF na manhã desta 6ª feira (11.ago.2023).

Em seguida, Mauro Cid retornou para a cidade de Miami e, possivelmente, vendeu (ou expos à venda) o restante dos itens do “kit ouro brarnco” em uma loja situada no complexo Seybold Jewelry Building. 

Após a divulgação de matérias jornalísticas relatando o recebimento de kits de joias por integrantes do governo brasileiro, virou uma verdadeira correria para recuperar as joias que estavam no mercado americano. 

A ideia sugerida foi recomprar os itens para que fossem devolvidos ao governo brasileiro, a fim de cumprir uma a ordem do TCU (Tribunal de Contas da União).

Em busca de uma solução o trio: Mauro Cid, Osmar Crivelatti e Câmara, buscaram o ex-advogado bolsonarista Frederick Wassef.

A operação se deu em duas etapas, diz a PF:

Rolex: o relógio foi recuperado em 14 de março de 2023 pelo ex-advogado da família Bolsonaro Frederick Wassef. O item retornou ao Brasil em 29 de março de 2023. Em 2 de abril de 2023, Wassef passou o relógio para Mauro Cid, que estava em São Paulo. O ex-ajudante de ordens retornou a Brasília no mesmo dia e entregou o Rolex a Osmar Crivelatti, assessor de Bolsonaro;

demais joias: os itens foram recuperados por Mauro Cid em 27 de março de 2023 durante viagem a Miami. Depois de recuperar os bens, o ex-ajudante de ordens retornou imediatamente ao Brasil.

Em 4 de abril de 2023, o kit de joias completo foi entregue à Caixa Econômica Federal.

RELÓGIO PATEK PHILIPPE

O item de luxo teria sido presenteado ao então presidente Jair Bolsonaro, em novembro de 2021, por autoridades do Reino do Bahrein e posteriormente vendido para a empresa Precision Watches em 13 de junho de 2022.

De acordo com a PF, não consta nenhum registro do relógio no acervo privado de Bolsonaro, fato que indica a possibilidade de o referido bem sequer ter passado pelo então Gabinete Adjunto de Documentação Histórica, órgão denominado atualmente de Diretoria de Documentação Histórica, para realização do tratamento e da classificação do bem para definição quanto à destinação ao acervo público ou ao acervo privado do presidente da República, sendo desviado diretamente para a posse de Bolsonaro. “Tal fato explicaria não ter existido, ao contrário dos demais itens desviados, uma ‘operação’ para recuperar o referido bem, pois, até o presente momento, o Estado brasileiro não tinha ciência de sua existência” , diz o inquérito.