A prisão preventiva de Jair Bolsonaro neste sábado (22.nov.2025) fechou uma porta que vinha rangendo havia meses: a possibilidade de fuga. E não um escape qualquer, mas o mesmo roteiro clandestino já utilizado por Alexandre Ramagem, seu aliado fiel e coautor da trama golpista. Para as autoridades, a prisão não foi apenas resposta a uma tornozeleira violada — foi o bloqueio calculado de um plano que parecia seguir o manual da “corja bolsonarista” na hora do aperto: correr.
Ramagem, condenado a 16 anos e um mês pelo Supremo Tribunal Federal (STF), simplesmente evaporou do território nacional. A Polícia Federal (PF) apura que ele deixou o Brasil por uma das rotas terrestres mais vulneráveis do país, passando por Venezuela ou Guiana, antes de surgir em Miami — destino preferencial da ala bolsonarista que tenta reescrever sua biografia à sombra do sol da Flórida. Nada surpreendente: o deputado havia sido proibido de deixar o país e entregado seus passaportes. Mas, como de costume, normas não são limite para quem tentou rasgar a Constituição.
A fuga ocorreu exatamente no mês em que o núcleo golpista — do qual Ramagem e Bolsonaro são peças centrais — foi oficialmente condenado. Para o STF, o alerta estava aceso: se um corre, o outro vai querer também.
A tentativa de Bolsonaro de romper a tornozeleira eletrônica às 0h08 deste sábado foi o estopim. Para Moraes, foi o sinal inequívoco de que o ex-presidente se movia para repetir a estratégia: tumulto nas ruas convocado pelo filho, Senador Flávio Bolosnaro, confusão na porta da PF e, se tudo desse certo, a velha tática de escorregar pela fronteira enquanto os aliados gritam “perseguição”.
A rota usada por Ramagem é conhecida. A saída silenciosa por Boa Vista tem sido caminho para quem quer sumir da Justiça sem grandes holofotes — perfeita para políticos que vociferam patriotismo mas não hesitam em atravessar fronteiras pela porta dos fundos quando as responsabilidades chegam.
E o destino? O mesmo paraíso estratégico: os Estados Unidos, país com tratado de extradição antiquado, incapaz de devolver à Justiça brasileira quem tenha sido condenado por crimes criados após 1965 — exatamente o caso dos crimes de tentativa de golpe e abolição violenta do Estado democrático de Direito. Não é fuga, é cálculo.
Ramagem chegou lá. Bolsonaro, não.
A prisão preventiva do ex-presidente, portanto, não é apenas jurídica; é cirúrgica. Um movimento para impedir que se repita o enredo em que bolsonaristas, tão valentes no discurso golpista, desaparecem na hora de enfrentar as consequências.
Enquanto Ramagem agora depende da Interpol e convive com o risco de ser deportado, Bolsonaro amanheceu cercado pela PF, longe de qualquer sala VIP de aeroporto ou caminhonete rumo ao norte.
O STF entendeu a lição deixada por Ramagem: quando há chance de fuga, a corja tenta.
E desta vez, cortaram o plano antes do capítulo final.











